Conferência de Varsóvia: o Novo Alinhamento do Médio Oriente


De Max Coutinho

Na semana passada, houve uma Conferência sobre a situação no Médio Oriente, em Varsóvia (Polónia). O PM Netanyahu disse que “algo incrível” aconteceu ali, os EUA ficaram satisfeitos com o resultado, o Irão foi criticado pela sua postura belicosa e a Administração Obama foi subtilmente criticada pela Arábia Saudita. Contudo, depois de tudo dito e feito, o que mais sobressaiu do evento foi o novo alinhamento dos Estados do Médio Oriente: os Estados Árabes Inteligentes, os Estados Árabes do Status Quo e os Estados Árabes Não-Inteligentes. Qual a diferença entre estes três campos?

A Priori: os Estados Inteligentes Árabes

Neste Campo temos países como a Arábia Saudita, o Bahrain, o Iémen, Omã e os Emirados Árabes Unidos.

Estes países são inteligentes porque tiveram a coragem de, pelo menos na Polónia, estarem abertos a admitir que velhas fórmulas não funcionaram, que estão presos no passado, que a sua má estratégia para Israel permitiu que um inimigo comum ganhasse forças e tentasse tomar o Médio Oriente de assalto. Contudo, ainda estamos para ver se na próxima reunião da Liga Árabe estas posições se manterão (reconduzindo deste modo a região MENA para uma nova direcção de paz e prosperidade para todos) ou se irão ceder à pressão de grupo e regressar às velhas políticas que só beneficiaram os seu inimigos e falsos amigos (i.e. países europeus).

De facto, esta é uma nova e importante visão para o futuro, (...) o Povo do Médio Oriente já sofreu bastante, porque têm estado [emperrados] no passado. Esta é uma nova era para o futuro, e para a prosperidade para todas as nações. - Yusuf bin Alawi bin Abdullah, o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Omã, em resposta ao PM israelita

Quem diria, há 28 anos atrás, ser possível ouvir tais palavras de um líder árabe? Quem diria, há 18 anos atrás, que os Estados Árabes iriam abrir os seus olhos para a possibilidade de um Médio Oriente novo e poderoso? E temos de agradecê-lo ao Irão – sem a sua falta de pragmatismo e sem os seus erros de cálculo o Médio Oriente correria o risco de ficar estagnado para sempre.

Os Estados Árabes do Status Quo

Neste Campo temos a Jordânia, o Egipto, o Kuwait e a Tunisia.

Estes países são escravos de medidas obsoletas porque continuam a agarrar-se a velhas fórmulas, não estão a dar sinais de querer abraçar a mudança para a MENA (acrónimo internacional para Médio Oriente e Norte de África) e estão emperrados no passado. Contudo, não se pode dizer que sejam não-inteligentes porque ao menos tiveram a fortitude de comparecer ao evento ainda que com uma mente fechada: este é o Campo do Status Quo.

Estes estados foram a Varsóvia para dizer as mesmas coisas de sempre: defendemos a solução de dois estados com Jerusalém-Este como capital da Palestina; apoiamos a solução de dois estados dentro das fronteiras pré-1967 e com uma capital Palestiniana a Este de Jerusalém - ainda que a realidade tenha mudado há um ano. Não obstante, esta aparente dissonância cognitiva tem uma explicação:

  • Jordânia: se este reino não apoiar em público a defunta Causa Palestiniana, a facção Palestiniana da Irmandade Muçulmana fará de tudo para depôr a Família Real Hashemita (lembrem-se da guerra civil de 1970 entre a Jordânia e a OLP).
  • Egipto: o criador da Questão Palestiniana (Nasser criou esta falsa identidade em 1964 como arma de atrição contra Israel). Se Cairo não apoiar a Causa Palestiniana morta, a Irmandade Muçulmana (que se está a re-agrupar e a preparar um ataque para um futuro próximo) poderá criar distúrbios e interromper as tentativas de estabilização do país. 
  • Kuwait: se este reino não fingir apoiar a falsa causa palestiniana sofrerá ameaças de dois países – o Irão e o Iraque (dois estados extremamente radicais no que toca a Israel). 
  • Tunisia: se este país não apoiar o cadáver Palestiniano irá ter problemas com os seus vizinhos argelinos radicais e com o pessoal do AQIM. 

Por isso, é complicado. Contudo, faço uma proposta a estes países: que tal virar as agulhas e ao invés de desperdiçarem recursos a apoiar a OLP, uma organização que contribui largamente para a sua ameaça, porque não investir na eliminação da Irmandade Muçulmana (IM) de vez? Se eles nos derem uma lista completa das redes da OLP nos seus países, teremos acesso à rede da IM, se tivermos estas redes então teremos um quadro mais claro das suas ligações a redes da Al-Qaeda e eventualmente seremos conduzidos até ao Hezbollah/Irão (mais os seus sócios Europeus e Africanos).

A obsessão por Israel não trouxe nada a não ser sofrimento a estes países, já que essa obsessão só deu mais força aos grupos Islamistas radicais que os ameaçam.

Estados Árabes Não-Inteligentes

Neste Campo temos o Líbano, a Síria e Marrocos. O Líbano boicotou a Conferência em Varsóvia, Marrocos fez-se de Humpty Dumpty (ler aqui) e a Síria não foi convidada mas sabe-se bem onde estava o seu coração (i.e. no encontro paralelo da Turquia, Irão e Rússia).

O Líbano e Marrocos não são inteligentes porque são Euro-lacaios, que mascam a sua submissão à Europa com os seus “Interesses nacionais” e “política de disassociação” que a longo prazo não lhes permite maximizar o potencial dos seus países.

O que têm em comum o Líbano, a Síria e Marrocos? Foram colónias francesas. A França, como já aqui abordámos, é o país europeu mais anti-Israel (devido à sua política árabe – que determinará a queda francesa) e, logo, não é uma coincidência que a países sobre os quais a França ainda exerça uma forte influência lhes falte inteligência para ver que estão a jogar o jogo dos Europeus que não querem saber nem do bem-estar nem do futuro do Povo Árabe nem do Povo Norte Africano.

P&R Importantes

  • Que país ocupou o Líbano, em 1976, com a desculpa de estar a controlar a expansão da guerrilha palestiniana no território? A Síria (com o acordo tácito da França).
  • Qual o país europeu que ajudou o Khomeini a preparar a Revolução Islâmica a depôr o Xá (um aliado do EUA e de Israel [até um certo ponto]) em 1979? A França. 
  • Como é que o Hezbollah foi concebido? A partir do Movimento Amal, fundado por Musa al-Sadr um clérigo Iraniano-Libanês com a benção e agenda do Irão.
  • Onde é que o Hezbollah nasceu no início da década de 1980 com a ajuda do Irão? No Líbano.
  • Onde é que o Hezbollah tem mais liberdade de acção na Europa? Em França.

As impressões digitais francesas estão por todo o lado. E pensar que o mantra que tem sido entoado é que o Conflito Árabe-Israelita é o principal obstáculo à paz no Médio Oriente. Não, a agenda política da França e do Irão é o principal obstáculo para a paz no Médio Oriente, e as principais potências da região devem tratar deste problema de forma inteligente.

Conclusão

O Médio Oriente está a mudar depressa. Contudo, quais países crescerão e terão um lindo futuro e quais o que ficarão para trás? A resposta não é difícil: os Estados Árabes Inteligentes que normalizarem as relações com Israel progredirão e formarão um Bloco Poderoso (que ultrapassará a Europa). Os Estados Árabes do Status Quo eventualmente escolherão um lado e então ou progredirão ou regredirão. Os Estados Árabes Não-Inteligentes continuarão a servir os interesses dos países europeus ao invés de cuidarem dos seus – por outras palavras, cairão.

E o que acontecerá à causa Palestiniana? Já serviu o seu propósito, muita gente já ganhou muito dinheiro com ela, e agora esvanecer-se-á gradualmente. Maktub.

(Imagem: logo da Conferência[cortada da imagem principal]  via Google Imagens]

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