Tem-se a percepção de que os políticos têm estado à vontade para fazer promessas de campanha para depois, quando no poder, esquecerem tudo; uma vez que o povo não reagirá. Mas será sempre conveniente (e para quem) que o povo reaja? E a reacção, é espontânea ou provocada?
Em tempos, o povo insurgia-se contra qualquer líder que não cumprisse as suas promessas (ex: Rei Luís XII e a conquista e perda de Milão, no contexto da Grande Guerra Italiana); e logo, um líder tinha que andar direitinho se quisesse manter o seu poder sobre um determinado reino. Posto isto, ainda que as pessoas estivessem na época a viver numa monarquia parece-nos que exerciam mais poder sobre os assuntos públicos do que hoje – ainda que esse poder se fizesse sentir através da ajuda valiosa da Nobreza e da Burguesia, sempre que os Monarcas se atravessassem no seu caminho.
O grande Mestre Político, Niccolò Machiavelli, ensinou-nos que:
Porque as mesmas pessoas que haviam aberto os portões ao Rei Francês, quando se viram enganados quanto às suas expectativas e esperanças em relação a benefícios futuros, não aturaram a insolência do seu novo governante.
Porque quando os homens “buscam melhorar a sua condição, [eles] estão sempre prontos a mudar de amos; e nesta expectativa armar-se-ão contra qualquer governante” (idem) – ainda que este comportamento irracional também não funcione para sempre, particularmente quando persistente e na ausência de períodos de estabilidade. Eternas atitudes reaccionárias sugerem puerilidade e inconstância daqueles que planeiam e financiam tais reacções populares.
Até recentemente, era amplamente aceite que um político não cumprisse a sua palavra. Depois veio Barack Obama e mostrou ser possível cumprir um número confortável de promessas eleitorais – por outras palavras, ele elevou a fasquia (ainda que também tenha sido um desapontamento para muita gente em diversas áreas). Mas apesar de tudo isto, o facto é que no passado as pessoas podiam facilmente quebrar a sua 'palavra' sem sofrer qualquer consequência; até que a versão moderna de 'Nobreza e Burguesia' se lembrou de tácticas do passado para pressionar qualquer líder que interfira com os seus interesses.
Por isso, hoje em dia, temos uma 'população' extrema e constantemente reaccionária que expressa a sua ira através ou de manifestações ou das Redes Sociais. Mas com um senão: desta vez, os custos de tais protestos é muito menor, já que os manifestantes são sempre os mesmos (manifestantes profissionais, que muitas vezes viajam à volta do mundo) e os activistas nas Redes Sociais pertencem a um grupo muito pequeno de indivíduos com várias identidades e contas online (trolls profissionais). Deve-se ainda levar em conta um outro detalhe interessante: a “Nobreza e Burguesia” está aos poucos a ser substituída por Companhias Privadas – ligadas a Serviços de Informação Estatais – que vão atrás de qualquer político, de qualquer governo, e de qualquer entidade, que aquelas sintam que estejam a interferir com os seus planos.
Qual então a solução para este problema? Uma das soluções seria que os políticos falassem com pessoas, que estão por dentro do sistema, antes de fazerem promessas que possivelmente não poderão cumprir – devido à realidade no terreno – especialmente quando há pessoas à espera de atacar a sua jugular assim que virem na curva errada.
Para compreender o Povo um homem deveria ser um Príncipe, e para que tenha uma clara noção do que são os Príncipes ele deveria pertencer ao Povo. - Niccolò Machiavelli, in O Príncipe
(Imagem: Entrada para o Grande Canal & a Igreja La Salute - Canaletto)
[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]
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