Na mesma altura em que recebeu o Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, Moçambique ficou a saber que os doadores iriam cortar a sua ajuda – cerca cerca de trinta (30) por cento da sua receita – por aparentemente ter contraído uma dívida sem conhecimento das entidades internacionais. Este comportamento das autoridades moçambicanas levar-me-iam a questionar a sua falta de ética, mas a questão é mais profunda do que a simples incompreensão do princípio do valor da honestidade.
Como quase sempre, quando se fala de África, nós os nascidos por aquelas bandas deixamo-nos enredar pelo ódio, amor e paixão. Numa das últimas conversas com os meus amigos, a exarcebação foi tão grande que até hoje, por mais que tente, não consigo esquecer-me de três dos tópicos:
- Aos negros dos EUA saiu-lhes a sorte grande ao terem sido vendidos como escravos
- “A ditadura do proletariado é a forma suprema da democracia”
- “Sim, como se diz futuro?” (in Mar me quer de Mia Couto)
Quando penso em Moçambique, recordo-me de mim a olhar para uma das paredes do cemitério São Francisco Xavier, na qual havia a seguinte inscrição “A ditadura do proletariado é a forma suprema da democracia”. Tal como nesse tempo, continuo a acreditar que o desenvolvimento de Moçambique foi aprisionado por aquela frase talhada por um ideólogo da esquerda fascista.
Quando mencionei o meu parecer, um professor egípcio, meu amigo, esclareceu-me que a frase fazia sentido se nos cingíssemos à concepção do ideal comunista; porque a democracia é a voz/governo do povo e se o proletário é uma parte integrante e significativa do mesmo, então....E além do mais, Engels em muitos dos seus escritos afirmara mais ou menos que para se destruir o sistema capitalista criado pela reaccionária bourgeoisie, o governo do proletariado teria que tomar medidas extremas até à consolidação do novo sistema: momento em que a propriedade e os meios de produção passassem para o controlo do governo da classe revolucionária. Mas infelizmente o que se passou, em alguns países africanos com maior incidência na Etiópia e em Moçambique, não foi somente extremo mas também brutal e desumano pois a ideologia sobrepôs-se aos anseios do povo, arruinando assim o futuro.
Rajú o conviva asiático discordou e replicou: que futuro? No conto, Mar me quer, de Mia Couto, o Zé Perpétuo diz “Sim, como se diz futuro? Não se diz, na língua deste lugar de África. Sim, porque futuro é uma coisa que existindo nunca chega a haver”, desde logo podemos depreender que, em Moçambique, cada dirigente que chega ao poder não pensa no bem estar do povo futuramente; antes pensa nos seus filhos, familiares, amigos e os oportunistas que gravitam em torno do seu mandato obtido por via “democrática”.
Recordo-me que no seu primeiro discurso na Assembleia das Nações Unidas, o presidente de Moçambique Filipe Nyusi também não pensou no amanhã do seu país, pois perdeu a oportunidade de naquela plataforma internacional garantir ao mundo o cessar das hostilidades entre a Frelimo e a Renamo, com vista a instalar no seu país uma paz permanente para garantir o futuro das próximas gerações de Moçambique. Filipe Nyusi achou preferível jogar a cartada do desgraçado subdesenvolvido e sem pejo estendeu a sua mão para mendigar por mais donativos.
Por isso, meus caros leitores, nenhuma perfídia vinda de Moçambique me surpreende ou choca:
- Mataram um jornalista porque se atreveu a questionar
- Esfumaram-se os fundos que a ONU havia destinado ao emprego de enfermeiros reformados para ajudar no combate do Aids
- A falsa aquisição de barcos para a pesca do atum - o Ematum affair
- A associação dos dirigentes da Frelimo com traficantes de droga, procurados internacionalmente
- Extorsões de toda a sorte, inclusive obrigar investidores a ter um sócio moçambicano - i.e. Frelimista
- Manutenção de uma guerra desnecessária com a Renamo
- Esta dívida secreta serve somente para aquisição de material bélico, para continuar a sustentar o esforço duma guerra nociva e com num truque à mistura: recebimento de comissões astronómicas para a cúpula da Frelimo
- Donativos são sinónimo de humilhação e achincalhamento do povo moçambicano e enriquecimento ilícito dos frelimistas e seus acólitos.
“Moçambique - que palavra tão bonita, fique lá onde ela fique, diga lá quem a disser” - in Moçambique/ João Maria Tudela
Pois é, meus senhores, quem diria...
Até para a semana
[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]
Olá Lenny,
ResponderEliminarEra uma questão de tempo até Moçambique passar por uma crise económica, depois de anos de corrupção agravada no período de crescimento económico (crescimento esse do qual o povo não beneficiou directamente, tirando talvez as estradas e o aeroporto pagos pelos chineses).
O discurso do Presidente Nyusi na ONU foi uma vergonha, como aliás já aqui foi dito. E pensar que quando ele foi eleito havia tantas esperanças de que ele causasse mudanças no país.
Espero que o povo moçambicano aproveite esta oportunidade para lutar pelo seu país.
Good job, Lenny.
Beijocas
Olá, Max!
EliminarEsta moda africana de andar de mão estendida, é tão degradante, não percebo por que razão escolhem os africanos a categoria de incapazes do planeta, agora é a vez dos chineses sugarem África com o consentimento dos fascistas da esquerda africana.
Filipe Nyusi sendo jovem foi uma desilusão total e completa; é para que vejas que há jovens corruptos e adeptos do status quo em Moçambique. Já reparaste que o Presidente de Moçambique apesar de tantos problemas conseguiu engordar que nem um texugo? Tira daí as tuas ilações, pois eu já tirei as minhas e o Rui Mingas já deve ter reparado que os monangabés continuam na miséria só que desta vez é pela mão do homem preto: irónico!
O povo moçambicano precisa de um líder forte, sem medo e disposto a morrer por si. Esse líder é o juventude moçambicana não corrupta, com um plano bem estruturado: princípio, meio e fim e que preveja todos os prós e contras da sua empreitada isto é, limpar Moçambique do cancro da esquerda fascista, sangrenta e corrupta.
Beijocas e boa semana de trabalho
Acho giro o Marcelo ir lá e fingir que aquele é o país do seu coração quando lá esteve tão poucas vezes, e se calhar nem fala nada de nenhum dialecto! Moçambique deve aproveitar o momento para fazer reformas profundas. Um abraço, minha amiga.
ResponderEliminarOlá, Anónimo!
EliminarQuanto ao fingimento dou-lhe o benefício da dúvida; quanto ao dialecto é difícil, visto que os próprios moçambicanos não conseguem falar mais de um ou dois dialectos do país, por exemplo o Filipe Nyusi não falará o ronga, nem o xangane, nem o bitonga (penso eu de que...), por isso o Marcelo, aí está desculpado.
Mas sendo o seu país de coração devo confessar que achei que não estivesse confortável, mas enfim....
Reforma? Moçambique enquanto for dirigido por arrogantes, soberbos e corruptos amorais, continuará no mesmo monte de fezes.
Amigo, aquele abraço
Gosto muito de moçambique, estive lá há uns anos e é uma pena que esteja a passar por tanta crise ao mesmo tempo. Desejo-lhes o melhor que resolvam as coisas da melhor maneira possivel. Gostei muito deste vosso blogue.
ResponderEliminarOlá, Maria!
EliminarBem-vinda ao nosso blogue!
As crises nos países são tão certas quanto à morte; ter dirigentes capazes de se antecipar a elas: essa é a questão!
Também desejo-lhes o melhor, até por que tenho por lá família, amigos e familiares.
Maria apareça sempre que lhe apetecer jogar conversa fora :-)
Cumprimentos
Mana, estamos a ver o futuro a ficar escuro, a sério. Mas acho que desta vez vamos lutar, acho que não vamos ficar calados agora. Reza por nós porque vamos precisar de toda a força para vencer as forças da corrupção! Estamos juntos.
ResponderEliminarOlá, Carlitos!
EliminarEstamos juntos, meu amigo; mas se vão lutar têm de fazê-lo com pés e cabeça.
Não façam como a rapaziada de Angola; se vão entrar nisso têm de estar dispostos a morrer pela vossa pátria e pelo futuro; ok?
Meu resistente, I have your back.
Aquele Braço
E bom que casa um se expresse Como sente, mas eu vejo o senario num angulo diferente, quando se diz em Mozambique UNIDADE NACIONAL, o que quer dizer?
ResponderEliminarNos crescemos ouvindo este discurso enganador, a pergunta que faco e:
.Nos unimos em oque?
Se o pais continua dividido em 3 zonas e em 10 provincias!
Se cada etnia puxa a braza para o seu lado!
Vale mais ser claro.
Olá, Gabriel!
EliminarUnidade Nacional quanto a mim é a junção do sentir comum dos moçambicanos, sejam eles da Ilha de Moçambique, Cabo Delgado, Gaza ou Maputo. Gabriel não é mau ser de uma outra província diversa, o importante é que os do norte, do centro, sul querem o mesmo para os seus: educação, saúde, alimentação, casa condigna, trabalho, infra-estruturas, liberdade de expressão, religiosa e não guerra. Como vê isto é um elo comum a todos os moçambicanos, portanto há que lutar para que todos tenham o básico e depois começar uma outra luta que são as pensões de reforma, saúde gratuita para os meninos até 16 anos e idosos desde os 60 em diante. Depois devem dedicar-se a inovação, investigação médica e industrial. Gabriel, meu caro, puxar a brasa a sua sardinha não é mau se for para cada zona desenvolver a sua região e o potencial humano local: competição é o motor para a excelência.
Gabriel entre moçambicanos e não desfazendo diz-se: brasa e cenário.
Gostei de vê-lo no nosso cantinho e os meus cordiais cumprimentos.