Complementaridade Entre Estado e Igreja: Solução para a Paz?

Casa-de-Banho Gótica - Jean Baptiste Mallet
Os niilistas, que não se querem dar ao trabalho de exercitar a auto-disciplina, dirão que a Religião é o "ópio do povo", um sistema de controle que impede a criatividade (se bem que Da Vinci, Caravaggio e outros discordariam); um alimento para os simplórios, os crédulos etc. Mas o facto é: a religião é a base da cultura e pode contribuir para a paz e entendimento.

A cultura é um agregado de ideias, valores, crenças e conhecimento.
A Religião é a crença e reverência por um Poder Supremo; que moldará o comportamento das pessoas através da criação de um conjunto de regras e valores que, por sua vez, serão transmitidos de geração em geração (i.e. cultura).
Assim sendo, os mesmos indivíduos que rejeitam a religião são, na verdade, um paradoxo porque o seu comportamento é influenciado por certas regras - como por exemplo, as leis de Noé - logo, pela própria religião.

Os pseudo-intelectuais gostam de declarar guerra à religião, posto que (na sua opinião) esta é a raiz de todo o mal - mas quando lhes perguntamos porquê, dão sempre os mesmos exemplos: a inquisição, a corrupção da igreja católica, o dízimo evangélico, a auto-exclusão judaico, a violência budista, os motins de Gujarat etc [deixando, contudo, de parte a inclinação muçulmana para a violência, claro]. Mas a verdade é que a religião ofereceu alguns dos mais belos conceitos da existência humana (individualismo, iluminação, desenvolvimento, evolução etc) devido aos seus ensinamentos-base. Por exemplo:

"Um bom cristão aspira a ser como Jesus, uma pessoa que tem um relacionamento directo e pessoal com Deus/Jesus e, logo, presta contas antes de mais a Deus/Jesus e não ao homem ou às leis do homem. Esta ideia de autonomia individual, de uma pessoa ser capaz de tomar decisões morais para e por si mesmo, e de ser responsável pelos resultados das suas acções, é a semente que deu azo à sociedade individualista ocidental." --  Joab Cohen in The Role of Christianity in the Promotion of Individualism

"O livro 'Gifts of the Jews' explica, em termos bastante apreciados, como o surgimento do judaismo no segundo milénio AC criou os alicerces para a própria sociedade ocidental. Cahill argumenta que as ideias mais básicas, que hoje tomamos por garantidas na sociedade assim como nas nossas vidas, são realmente baseadas nas ideias inventadas pelo povo judeu e formuladas no Velho Testamento. (...) Abraão deixou uma cultura onde o tempo era cíclico e eterno, no qual nada se alterava e poderia alguma vez ser alterado: a vida simplesmente se repetia sem parar. (...) Isto foi, de facto, o princípio da luta da humanidade contra o seu destino, o principio da busca pelo Tikkun Olan. (..) A insatisfação do que é; a esperança e a luta por um futuro melhor que existe somente na nossa imaginação - Cahill atribuiu estas ideias ao judaísmo." -- Joab Cohen in The Gifts of Jews: Why Jews are Loved and Loathed

"As três práticas: 
Sila: virtude, boa conduta, moralidade. Isto é baseado em dois princípios fundamentais:
- O princípio da igualdade: que todas a criaturas são iguais. 
- O princípio da reciprocidade: equivalente à "Regra de Ouro" no cristianismo -- não faças aos outros aquilo que não gostarias que te fizessem a ti. Este princípio é respeitado por todas as maiores religiões. 
Samadhi: concentração, meditação, desenvolvimento mental. Desenvolver a mente é o caminho para a sabedoria, que conduz à liberdade pessoal. O desenvolvimento mental também fortifica e controla a nossa mente, o que ajuda a manter uma boa conduta. 
Prajna: discernimento, entendimento, sabedoria, iluminação. Esta é a ideia central do Budismo. A sabedoria emergirá se a vossa mente estiver calma e no seu estado puro." -- in Buddhism's Core Beliefs 

Apesar de ter oferecido tanto à humanidade, a religião é vista com maus olhos, devido à falta de sabedoria, entendimento e conhecimento. Um ser iluminado sabe que o problema não está na religião mas sim no Homem: a sua corrupção, as suas escolhas malévolas, a sua ignorância.

A Separação entre Estado e Igreja tem sido positiva até certo ponto, dada a história do poder político da igreja; contudo, esse conceito empurrou a religião para a sombra e, a história também provou que purgar a política dela também não funciona. Logo, se realmente queremos um mundo onde o entendimento mútuo e a paz prevaleçam, não terá chegado o momento de falarmos da Complementaridade entre Estado e Igreja?

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