A Nona Onda - Ivan Konstantinovich Aivazovsky |
Poderão os governos combater o terrorismo sem violar os direitos humanos?
Políticos, alguns académicos, mas sobretudo activistas dos direitos humanos afirmam ser de facto possível fazê-lo. Por exemplo: Terry Davis; Ex-Secretário Geral do Conselho da Europa; disse,
"(..) a necessidade de respeitar os direitos humanos não representa um obstáculo ao combate eficaz ao terrorismo."
O Dr Robert Goldman; como perito independente ao serviço da Comissão dos Direitos Humanos da ONU; disse,
"Se virmos bem, a luta contra o terrorismo e a protecção dos direitos humanos não são antitéticos, mas sim uma responsabilidade complementar dos estados."
E Kenneth Roth; o director executivo da organização Human Rights Watch; disse,
"…os terroristas acreditam que os fins justificam os meios, que a sua visão política ou social justifica o deliberado homicídio de civis em violação das normas mais básicas dos direitos humanos. Combater o terrorismo sem ter em conta os direitos humanos é apoiar essa visão distorcida."
A suposição de que o terrorismo pode ser combatido sem infringir os direitos humanos deve ser testada, já que fazê-lo irá ajudar "os legisladores e outras partes interessadas a desenvolverem estratégias de contraterrorismo que respeitem os direitos humanos" [in Dissertação do ICT] dentro do possível.
Conhecimento Empírico
Todos concordam que combater o terrorismo é imperativo para a manutenção da paz e seguranças internacionais. Contudo, ao se combater o fenómeno há um procedimento-padrão que é visto como uma possível violação dos direitos humanos: o perfil racial.
As leis dos direitos humanos (e outras convenções) têm como princípio central a não-discriminação. Fazer um perfil racial é muitas vezes considerado uma prática discriminatória (ainda que a Comissão dos Direitos Humanos da ONU não a tenha descartado se a medida fôr necessária e proporcional ao objectivo pretendido), mas no entanto parece gozar de um vasto apoio público, tendo alguns argumentado que:
- "O perfil étnico é necessário. As nossas medidas de segurança falharam."[Aqui]
- "É razoável."[ibidem]
- "Pode-se combinar o perfil racial com o perfil comportamental e utilizar um perfil online, conhecido como data mining"[Aqui]
- "(...) a proibição [do perfil racial] prejudica a nossa segurança"[Aqui]
Conhecimento Académico
O Dr Alex Conte argumenta que:
- O perfil racial tem de ser legal (i.e. precisa de ser prescrita pela lei; ser submetida a cláusulas contra o abuso e deve certificar-se da "limitação dos direitos e não a sua exclusão");
- O mesmo deve estar racionalmente relacionado com o seu objectivo (o académico admite que "Parece existir um certo nível de relação racional entre o perfil racial de jovens árabes e o objectivo de identificar suspeitos de terrorismo" ainda que ele questione a sua eficácia porque ainda que "Dada a larga quantidade de nacionalidades dentro das quais se pratica o Islão, fazer um perfil racial não é um método totalmente eficaz na detecção de Jihadistas Globais")
- A prática deve ser equilibrada quanto baste para respeitar o princípio da proporcionalidade (i.e. deve-se fazer a seguinte pergunta: "Tendo em mente a importância do princípio da não-descriminação com base na raça, seriam os efeitos do perfil racial proporcionais à importância do objectivo, e da eficácia, da medida?")
Por outro lado, o Dr Boaz Ganor defende que:
- O objectivo do perfil racial é suficientemente importante (i.e. "A questão é, pode este facto contribuir significantemente para combater este fenómeno? O uso de perfil étnico é útil para a identificação de terroristas, a exposição de planos terroristas e frustração de ataques?" - se a resposta a estas perguntas for 'sim' então a medida é suficientemente importante);
- A medida tem de ser devidamente identificada (i.e. ainda que a preocupação com a estereotipagem de indíviduos específicos seja válida, o académico também argumenta que ignorar o facto, sobejamente conhecido, de que o Jihadismo Global tem um denominador étnico comum não alterará esse mesmo facto - conhecido pelo público "com ou sem o uso do perfil racial");
- A medida tem de ser proporcional (i.e. devemos perguntar o seguinte: "é crucial o uso [da medida], é necessário, ou é negligenciável? (...) há uma alternativa a esta medida em particular, ou esta é a única medida que pode ser implementada, neste momento, afim de se alcançar o desejado objectivo?)
Conclusão
Por tudo o acima disposto, deve-se concluir que a suposição "o terrorismo pode ser combatido sem violar os direitos humanos" é parcialmente verdadeira, porque ao mesmo tempo que, durante o combate ao terrorismo, os direitos humanos básicos serão respeitados (i.e. a maioria dos direitos não derrogáveis [in International Covenant on Civil and Political Rights]); algumas medidas - que muitas das vezes suscitam dúvidas no que toca a eses mesmos direitos (e.g. perfil racial, detenção secreta; assassinatos selectivos etc) - serão necessariamente, e justificavelmente, implementadas pelos Estados devido ao impacto do terrorismo sobre os direitos humanos e segurança da sociedade em geral.
Comentários
Enviar um comentário
O Etnias: O Bisturi da Sociedade™ aprecia toda a sorte de comentários, já que aqui se defende a liberdade de expressão; contudo, reservamo-nos o direito de apagar Comentos de Trolls; comentários difamatórios e ofensivos (e.g. racistas e anti-Semitas) mais aqueles que contenham asneiras em excesso. Este blog não considera que a vulgaridade esteja protegida pelo direito à liberdade de expressão. Cumprimentos