O Paquistão está a limpar a casa...
Em 1994, os serviços de informação paquistaneses (ISI) criaram os Talibãs de modo a ter um governo afegão que fosse favorável aos objectivos estratégicos do estado paquistanês (i.e. manter a rota terrestre desimpedida e segura, para assegurar as trocas comerciais com a Ásia Central). Uma vez atingido o objectivo, as forças militares e serviços secretos paquistaneses tomaram para si a missão de financiar e fornecer apoio logístico aos Talibãs. Quando, em 2001, os EUA removeram o regime Talibã, o Paquistão viu-se obrigado a dar guarida à besta que havia criado. O monstro cresceu descontroladamente, criou uma rede com outros grupos extremistas, e eventualmente virou-se contra o Pakistein. O povo paquistanês é que sofreu as consequências.
Aproximadamente há quinze dias, o PM Nawaz Sharif autorizou ataques a posições militantes na região do Waziristão (conhecida como sendo o porto seguro[1] da Rede Haqqani e de movimentos associados à Al-Qaeda [AQAM]).
Houve quem dissesse que o Paquistão é o verdadeiro centro nervoso do terrorismo e, uma real ameaça para a segurança global. Essas pessoas não estão totalmente erradas porque alguns dos ataques mais letais do mundo foram perpetrados por individuos que ou foram recrutados, indoutrinados e treinados no Paquistão ou foram enviados para "combater" a partir de lá - e.g. Haroun Fazul (que participou nos ataques gémeos via VBIEDs no Quénia e na Tanzânia, em 1998; estudou, foi recrutado e treinado no Paquistão); Mohammed Atta, Marwan al-Shehhi and Ziad Jarrah (os piratas aéreos do 9/11, que foram recrutados pela Al-Qaeda em Carachi, em 1999); Ajmal Kasab (membro dos LeT, o único sobrevivente dos ataques de Mumbai de 2008, sancionados pelo Paquistão) e Mohamed Merah (o atirador de Toulouse que recebeu treino no Paquistão em 2011).
Estes factos eventualmente azedaram as relações entre o Paquistão e os EUA, já que aquele estava a receber milhões de dólares da América para combater o terrorismo, ao mesmo tempo que provavelmente utilizava esses fundos para ajudar os Talibãs, treinar elementos dos LeT, financiar refúgios para grupos islâmicos radicais e outros tipos de actividades ilícitas embora convenientes.
O Paquistão, atingido pela instabilidade política (muita da qual envolve o monstro que criou), de repente viu-se na posição de ter que aceitar os ataques de drones americanos dentro das suas fronteiras: desse modo, a liderança paquistanesa matou dois coelhos com uma só cajadada (i.e. apaziguar a América e limitar as actividades do Ogre).
Quando Nawaz Sharif tomou o poder, expôs o pobre estado da economia do seu país e, pediu aos EUA que parassem com os ataques de drones na zona tribal paquistanesa (uma das exigências Talibãs). Estas palavras indicaram uma mudança de política: a partir daquele momento, o Paquistão concentrar-se-ia na cura da maleita económica do seu país (em vez de ficar obcecado com a destruição da Índia através de ataques terroristas e com os assuntos internos afegãos) e, para isso iria precisar de lidar com o seu Diabrete doméstico.
O PM paquistanês tentou conversar e chegar a um acordo de paz com os Talibãs; contudo, as conversações falharam e o PM Sharif tomou uma decisão vital: chegara a hora de fazer uma limpeza, se queria que o país andasse para a frente de uma vez por todas.
Esta disposição para mudar não significa necessariamente que o Paquistão esteja a abandonar a sua política agressiva. Deseja melhorar a sua economia - óptimo, pois já se desperdiçaram demasiados tempo e recursos - mas a questão é, como:
Continuará a ser o laboratório de testes e vendedor nuclear da Arábia Saudita?
Continuará a ser o mediador das transacções nucleares entre o Irão e a Coreia do Norte?
Irá resumir a transacção do gasoduto com o Irão?
Irá concordar em fazer troca de informação com a China (acerca do estado das relações que mantém com certos aliados & inimigos [na sua perspectiva]) em troca de acordos de trocas comerciais mais profícuos?
Certamente, terá de começar por algum lado.
Durante o passado fim-de-semana, os Talibãs ofereceram tréguas por um mês - alegadamente para retornar às negociações de paz. Este anúncio poderá ser visto como uma vitória do governo, contudo este deveria levar a cabo uma operação para quebrar os nódulos de fornecimento (fundos, armas, homens) dos militantes Islâmicos, antes que eles se re-organizem.
É importante que o Paquistão, neste momento, demonstre força e resolução. Com a retirada das forças americanas do Afeganistão, o Paquistão poderá vir a tornar-se um jogador de xadrês vital na região, se conseguir manter o Iblis sob controle.
[1] Refúgio/Porto seguro: lugar onde grupos, ou movimentos, terroristas podem treinar, recrutar, indoutrinar, e eventualmente a partir daí enviar para "combate"; sem receio de interdição.
Para mim, o paquistão é uma causa perdida. Dele sairam muitos terroristas por razões várias, e agora o feitiço virou-se contra o feiticeiro! Mas demorará muito tempo até que o paquistão consiga limpar a casa, não será para tão já!
ResponderEliminarOlá Carla :D!
EliminarPorque é que não poderá ser para tão já?
Obrigada pelo seu comentário, minha cara :D.
Um abraço