UNGA 2015: Análise do Discurso do Presidente Obama



O Debate Anual da Assembleia Geral da ONU começou (28 de Setembro – 3 de Outubro), onde vários líderes mundiais apresentarão os seus argumentos políticos. Por isso, até à próxima Terça-feira, comentarei os discursos de seis líderes.
Comecemos pelo Presidente Obama.

À primeira vista, o discurso do POTUS parece superficial; contudo, após uma análise profunda, torna-se claro que as suas palavras foram compostas a pensar em trocas. Os Estados Unidos da América estão dispostos a chegar a alguns compromissos interessantes com a Rússia, as Nações da Ásia-Pacífico e Israel.

Compromisso com a Rússia
“Se a Rússia enveredar por esse caminho – um caminho que durante o período do pós-guerra fria resultou na prosperidade para o povo russo – então removeremos as sanções e daremos as boas-vindas ao envolvimento da Rússia na resolução de problemas comuns. Afinal, é isso que os Estados Unidos e a Rússia têm conseguido fazer nestes últimos anos (..) cooperando na remoção e destruição das declaradas armas químicas da Síria. E é este tipo de cooperação para o qual estamos preparados – se a Rússia mudar de rumo.” 

Os EUA estão-se a oferecer para trabalhar com a Rússia no Médio Oriente e como resultado, as sanções serão removidas (do mesmo modo que as sanções foram removidas recentemente ao Irão, quando os iranianos decidiram cooperar com a América e a Europa). Isto é muito interessante porque a jogada russa, na Síria, forçou os americanos a repensar a sua posição em relação a Vladimir Putin – a presença russa num cenário de guerra de tamanha importância é uma ameaça aos interesses dos EUA na região; e, por isso, de modo a controlar os estragos, serão obrigados a dar algo à Rússia em troca da desejada cooperação (que, segundo Caleb Newton, iria permitir que “os EUA estabelecessem uma presença militar na Síria através da sua influência política sobre as forças russas”).

A questão iraniana
“A América busca uma solução diplomática para resolver a questão nuclear iraniana, como parte integrante do nosso empenho para parar a proliferação de armas nucleares e buscar a paz e segurança de um mundo sem elas. E isto só poderá acontecer se o Irão aproveitar esta oportunidade histórica.” 

Só faço uma pergunta: e se o Irão já tiver capacidade nuclear? Compreendo o acordo nuclear com a Pérsia mas o trabalho foi incompleto: no papel existem demasiadas lacunas e o conselho de que o Dragão Azul seria libertado não foi publicamente claro.

Compromisso com os Países da Ásia-Pacífico
“A América é e continuará a ser uma potência Pacífica que promove a paz, a estabilidade, e o fluxo livre de comércio entre as nações. Mas insistiremos que todas as nações devam seguir as regras do terreno, e resolver as suas disputas territoriais pacificamente, de acordo com a lei internacional. Foi assim que a região da Ásia-Pacífico cresceu”

Uma clara mensagem para a China. O Dragão Vermelho deveria ter em conta que a América está numa onda de formar coligações, logo poderá começar a trabalhar na formação de um grupo Asiático-Pacífico para combater o comportamento imperialista chinês. Tendo em mente que o Japão se distanciou do pacifismo...para bom entendedor, meia palavra basta...

Terrorismo
“Claro, o terrorismo não é um fenómeno novo. Diante desta mesma Assembleia, o Presidente Kennedy disse-o bem: 'O Terror não é uma arma nova?' (..) Mas neste século, estamos diante de um terrorismo mais letal e ideológico que perverteu uma das grandes religiões do mundo. (..) O Islão ensina a paz.”

Sim, o terrorismo existe pelo menos desde o século XVIII, mas lições de história não interessam às vítimas de terrorismo. Hoje elas só identificam um tipo de terrorismo: o Islâmico. O Islão ensina a paz dentro da Ummah, mas não com os Kuffar (infiéis) “Saberás que os piores inimigos dos crentes [Islâmicos] são os judeus e os idólatras [i.e. Cristãos]” (Sura 5:82)

“Isso significa desafiar o espaço que os terroristas ocupam, incluindo a internet e as redes sociais.”

Esta passagem é umas das mais importantes no que toca ao terrorismo: a responsabilidade que as companhias de redes sociais têm na luta contra o terrorismo. Elas não podem esconder-se por detrás das leis de liberdade de expressão para continuar a permitir que grupos terroristas endotrinem, recrutem e espalhem medo e ódio através da internet – esta posição está alinhada com a do PM David Cameron.

Mensagem ao Mundo Islâmico
“Está na hora do mundo – especialmente as comunidades muçulmanas – rejeitar explicita, enfatica e consistentemente a ideologia de organizações como a al-Qaeda e o ISIS.”

Como poderá um muçulmano devoto fazê-lo quando o Corão expressamente ordena “Crentes, não façam alianças com os infiéis” (Sura 4:141)? Não obstante, o POTUS está a tentar dizer que parte da animosidade hodierna em relação às comunidades islâmicas é devido ao seu silêncio perante o Terrorismo Islâmico.

“Não deveria mais haver tolerância aos tais clérigos que incitam pessoas a fazer mal a inocentes por serem judeus, cristãos ou mesmo muçulmanos.” 

Uma clara mensagem aos clérigos Palestinianos, aos Ayatollahs, e a todos os outros que ensinam crianças muçulmanas a odiar e a matar judeus, cristãos e os muçulmanos “impróprios”. O Presidente Obama deveria ter expandido o leque ao líderes políticos, como o Pres. Abbas, que incitam contra os judeus e apelam à sua morte.

Política para o Médio Oriente
“Mas a única solução duradoira para a Guerra Civil Síria é política – uma transição política que inclua todos os espectros da sociedade que responda às aspirações legítimas de todos os cidadãos sírios, independentemente da sua etnia e credo.”

A América compreende que Bashar al-Assad  eventualmente terá de abandonar o poder mas que a situação no terreno milita contra esse desejo – esta posição está alinhada com a do PM David Cameron – logo, o ISIS/AQ terá de ser degradado e destruído primeiro para depois se forjarem novas realidades políticas, em conjunto com a Rússia (se o Pres. Putin aceitar a proposta americana).

“Prometo-vos que a América permanecerá na região, e estamos preparados para trabalhar nessa direcção.” 

Esta é uma mensagem para os aliados árabes (que se preocupam com uma retirada da América); mas principalmente para a Rússia: os EUA continuarão a defender os seus interesses na região. Logo, Putin não está totalmente à vontade no Médio Oriente.

Compromisso com Israel
"Compreendam, a situação no Iraque e na Síria e na Líbia deveria curar qualquer pessoa da ilusão de que o conflito Árabe-Israelita é a principal fonte dos problemas na região. Por demasiado tempo, foi usado como desculpa para distrair as pessoas dos problemas domésticos.”

Toda a secção referente ao conflito árabe-israelita foi copiada-colada do discurso da UNGA do ano passado (por nós sublinhada em 2014). Esta aparente indolência dá a impressão de que os EUA abandonaram a “questão Palestiniana” mas o facto é que a cópia-colagem revela algo mais profundo: em troca de uma alteração de tom na oposição ao Acordo com o Irão, os EUA estão preparados para voltar ao Status Quo e dar espaço a Israel para resolver o problema a seu próprio passo e volição.

Avaliação Final: o discurso mais intrigante que Barack Obama alguma vez fez: será o resultado da crise nos serviços de informação (i.e. manipulação dos relatórios de intel) ou uma promessa subliminal de uma drástica mudança de políticas que se avizinha?


(Imagem Downloaded do gadebate.un.org)

Comentários

  1. Olá, Max!
    Pode muito bem ser cansaço...
    O mundo está incaracterístico, os políticos da actualidade não valem nada; repara que a UE mesmo vendo que o mundo está a ferro e fogo, mesmo com o problema dos migrantes ilegais que estão a invadir a Europa, a sua maior preocupação é boicotar os produtos de Israel que sejam manufacturados na Judeia e Samaria: qual é o senso disto?
    Judeia e Samaria são territórios que foram, são e serão territórios de Israel. Profeta Eliseu predisse a abundância de víveres na Samaria, Jesus Cristo calcorreou esses territórios; não percebo a obstinação furada sem base legal nem histórica da UE. Se calhar ainda pensam que estão no tempo do colonialismo em que simplesmente pegavam em territórios e dividiam-nos a seu bel prazer, pois bem: esse navio já zarpou.
    Caros corruptos da UE tomem mas é conta dos vossos respectivos países, porque não estou na disposição de ver raparigas a serem esbofeteadas por alegadamente não estarem vestidas modestamente, por muçulmanos a subsídio que é pago também pelo pai da moça esbofeteada.
    Não quero ouvir mais histórias de que a violação praticada por muçulmanos vai disparar para o dobro na Suécia. Não me quero arrepiar só de pensar nos moços franceses que estão supostamente a formar milícias para substituir a polícia em caso de abusos praticados por muçulmanos sobre cristãos e judeus franceses. Não quero ouvir críticas estapafúrdias contra a Hungria, Búlgaria e outros que se estejam a proteger dos ilegais por parte de parlamentares da UE comprados pelos árabes: cada um que se defenda como pode e sabe de mancebos cobardes que pensam que instalar-se na Europa e impôr as sua porras.
    Corruptos da UE larguem de uma vez por todas Israel e concentrem-se nos povos da Europa, porque não tarda muito haverá um banho de sangue etnico-religiosa pior que a dos Balcãs.

    Como vês Max, com políticos destes e parceiros da Nato tão mentecaptos é normal que os EUA e o seu presidente estejam cansados e talvez a pensar que tenha de deitar a mão sobre a Europa e salvá-la mais uma vez da sua auto-infligida cegueira.
    Meu Deus nem na Alemanha se pode confiar; está ali chove não molha com ilegais, porque de repente podem ser acusados de nazistas: oh bola para frente, até porque os judeus eram cidadãos europeus, foram trazidos como escravos, não eram invasores nem migrantes ilegais nem nunca pretenderam impor a sua religião a viva alma: não há comparação possível, só na cabeça dos muçulmanos desonestos e sem escrúpulos.

    Pronto Max, desabafei

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    Respostas
    1. Olá Lenny :D!

      lol óptimo desabafo. É que nem vale a pena estragá-lo com mais palavras...
      Obrigada :D.

      Beijocas

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