É Para Rir: o SNS 24 e as Cookies


De Lenny Hannah

Eu, pessoalmente, detesto o choro: o meu é sempre acrescido de uma enxaqueca e duma perda de tempo infernais. Quando tenho que lidar com o choro alheio sinto-me dilacerada, pois estou sempre receosa de dizer algo disparatado como "Vai tudo ficar bem ou não chores!” - que é quase o mesmo que dizer: isso não passa de uma parvoíce" 

A maior parte das vezes o choro é precedido de um mal estar explicável ou inexplicável, seja qual for o motivo o desconforto instala-se tanto para o choroso como para o espectador. É que aconteceu algo bizarro à minha amiga: sentiu-se aparentemente confusa e resolveu telefonar ao SNS 24 - depois da devida verificação de dados foi-lhe dito para voltar a ligar e premir a tecla 4, pois era a extensão que poderia fazer uma avaliação do seu problema para seguidamente redireccioná-la ao local de atendimento. 


Primeiro, falou com uma técnica de nome Cisandra (uma profissional competente, que a transferiu para uma enfermeira do ramo da psicologia que supostamente lhe faria uma espécie de triagem psicológica); e terminado o processo de uma terceira verificação de dados começou a dita avaliação, após as perguntas da praxe: o que sente, faz alguma medicação, médico de família, Centro de Saúde da área de residência, et cetera, et cetera…


Depois, deu-se um memorável insólito: a senhora enfermeira da especialidade de psicologia resmungou o seguinte "Minha senhora, eu não tenho culpa do seu problema, não percebo porquê é que me está a tratar mal …" a minha amiga recorreu a um silêncio mortal e a mulherzinha do outro lado da linha repetiu três vezes o "Estou?" ao que a paciente finalmente respondeu “Não se incomode mais, verei como hei-de chegar ao Hospital Júlio de Matos" e desligou.


Num pranto, a parva telefonou-me para me informar do sucedido, ainda lavada em lágrimas soltou a seguinte diatribe "Vou agora ao manicómio!"; e ao contrário do ditado, transformei o meu coração em tripas dizendo-lhe das boas - já podem imaginar do que disse a maluquinha da enfermeira. Quando a calma começou a instalar-se entre nós, expliquei-lhe que aquela linha é um serviço com trabalhadores stressados e formatados para atender gente igualmente desnorteada e desequilibrada.


Pedi-lhe que se deixasse de porras e pantomimices; porque toda a ordem social estabelecida neste país vive pastilhada e num "ninho de cucos", logo é mais que sabido que para pessoas como nós, em caso de emergência (ninguém está imune contra a insanidade temporária) os amigos são o pronto socorro. 

Posso ter dado a entender a minha impaciência para com tudo e nada, mas caramba: ainda sou capaz de ser aquele ombro e ouvido quando a ocasião se presta para tal.


Pronto, acalmámo-nos e pude, então, explicar-lhe que necessitava da sua inteligência para me assistir num problema que é deveras mais importante e interessantíssimo sob o ponto de vista político já que se trata dessa corrupção chamada "cookies" inventada pelos políticos, para poderem ganhar uns cobres fora do radar das respectivas Fazendas nacionais.


À pala da "autorização dos leitores" a história dos cookies alargou os seus horizontes e transformou-se numa nova máquina de fazer dinheiro através do tráfico de Informação Pessoal obtida sob coação.


Sem mais nem porquê, a pessoa vê o seu telemóvel a receber chamadas de empresas que nunca contactou, ou a receber mensagens de Bancos e empresas que não lhe dizem nada; sendo o mais cansativo ouvir funcionários de empresas de serviços a chamarem pelo nosso nome para nos venderem isto e aquilo.


Mas, "what the fúcsia" vem a ser isto? 


É simples: estamos perante a corrupção da venda de dados pessoais a quem paga mais - é um assunto pertencente à arena da política nacional; quem terá a coragem de pegar nisto? O Parlamento, o governo ou será um juiz com fortitude testicular?



Até para a semana


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Comentários

  1. Olá Lenny,

    Fartei-me de rir com este post: muito bom!
    Quando estes serviços e os respectivos atendimentos telefónicos estiverem a trabalhar como deve de ser a coisa será diferente; mas por ora, é uma piada! Esperemos que em breve tudo mude para melhor.

    Beijocas

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  2. Coacção, ameaças, chantagem...tudo crimes puníveis pela lei (em quase todo o mundo) e no entanto os Governos e as empresas são os primeiros a cometer estes crimes em absoluta impunidade.

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