Conversa no Metro com Desconhecida: Que Coragem!

De Lenny Hannah

Na semana passada viajei de Metro com uma senhora que simplesmente meteu conversa comigo e sem pergunta alguma da minha parte, praticamente, contou-me toda a sua vida: profissão, idade, com quem vive, desventuras, agruras e alegrias.

Enquanto a ouvia estava quase a indagar-me acerca de tão brutal abordagem, mas lembrei-me de uma amiga que diz "People address you because you have a kind face". Mas pensei, qual quê? Tenho os olhos mais tristes que os de uma mula; estou com esta máscara sufocante, debaixo da qual tenho cara de burra porque discuti com um tipo que desconhece a frase "manter a distância social"; logo qual kindness?

Eu nem sequer estava concentrada nela. Se para ela olhei, foi de relance, por ser excessivamente obesa. Quando fizemos o transbordo, para mudança de linha, ainda pensei que estivesse livre, e quando estou para me despedir "Onde vai?"...Cortezmente lá respondi - ela ia para o mesmo sítio. Obviamente a conversa continuou até que saí na minha estação, mesmo antes de lhe desejar felicidades, saúde e forças para continuar a enfrentar a vida com tão boa disposição.

“Que estucha!” pensei eu. Não que a senhora tivesse sido um fardo; pelo contrário, pois com aquele peso sobre os ossos, ela consegue enfrentar o seu destino, acompanhando-o com uma gargalhada contagiante e cristalina. Contudo, eu teria gostado de ter feito o meu percurso em silêncio, sem carga emocional de espécie alguma; mas tal é a vida: naquele bocado esqueci-me das minhas porras da treta, já que estava diante de um ser que apesar da sua incomensurável carga, tudo o que queria era um ouvido e a partilha da sua gargalhada tranquilizante.

Como diz a minha neta "E eu pensei assim": a coragem daquela mulher para despejar assim, sem mais nem menos, a sua vida a um estranho. Porque será?

Enfim… bom, a mulher cujo nome não sei, nem faço ideia se os nossos caminhos se re-cruzarão, inadvertidamente lançou-me um repto que irei expor à minha chefe. Em o Todo Poderoso querendo, a ideia materializar-se-á e, caras leitoras, o céu é o limite…

Até para a semana 

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