Lisboa: Ay, Como Me Duele!


De Lenny Hannah 

Lembram-se disto “Ai venham ver, venham ver as carvoeiras, venham ver os olhos delas, que maneiras têm de olhar! Ai venham ver dois carvões numa braseira que puseram à janela para o vento os atear...”?

Que coisa linda, não é? Havia acabado de chegar de Moçambique e, vejam só, que isto ainda faz a minha memória transbordar de sensações que vivi quando in loco (tinha 19 anos) o meu falecido marido me levou pela primeira vez à festa popular de Santo António em Lisboa.

Depois de uma temporada ausente do meu lindo portugal, resolvi dar uma vista de olhos por Lisboa para poder certificar-me de que a criticona da minha amiga Leontina não estaria a exagerar – a ter um ataque de xenofobia, pois nós vindas de Moza fomos habituadas a lidar com quase todas as etnias – mas tive de me render à evidência: Lisboa está superlotada e essa gente está a exercer uma pressão enorme no equipamento do saneamento básico, pois Lisboa e seus bairros cheiram a esgoto e não encontro explicação para esse incómodo, visto que a taxa de €2 por turista deveria servir para limpar a cidade, seus adjacentes, e tratar também dos esgotos - pelo menos porque carvoeiras à janela nem vê-las.

Não consegui vislumbrar gente idosa às janelas a apanhar o solzinho da tarde; nem um petit chat nos parapeitos das janelas; nem uma mãe a resmungar com um Zé ou um João por estar a trepar a janela, nem moçoilas de olhar perdido à janela, nem a dona de casa a regar as tão irritantes sardinheiras, nem sequer a Mariazinha a berrar para a janela da Isaurinha no prédio em frente...

Lisboa está uma merda de dois em dois passos: lá estão os malfados hostéis, Alojamentos locais (AL) - imagine-se que o hotel Fénix foi transformado numa qualquer fatelada comparável aos albergues em Peshawar.

Lisboa está prenha de chineses, espanhóis (estes só os sabia na época da Páscoa), franceses, paquistaneses e alguns indianos, italianos, nórdicos – os brasileiros e ucranianos são os trabalhadores de momento. Os jovens vindos da estranja que, nos seus países, a partir das 22 horas não se ouvem nem se vêem – sou viajante  compulsiva – aqui em Portugal fazem um cagaçal até altas horas (nota bene: não queremos gente de fuça fechada nem jovens tolhidos e coninhas, mas depois da meia noite o silêncio deve ser observado: não sei...talvez eu esteja a ficar quadrada).

Vim a Lisboa para resolver um assunto importantíssimo, mas vim acompanhada de quatro amigas, uma delas está realizando um estudo sociólogo e por conta de tal pesquisa, tivemos que pernoitar nas hospedarias da era moderna: oito vezes tivemos que mudar de lugar  porque a higiene das casas de banho - privadas - deixava muito a desejar devido à minha picuinhice com os sanitários, não conseguimos nenhum booking em Lisboa e então fomos parar a um na Penha de França que era tão reles que me recusei a dormir dentro das cobertas e nem sequer quis tomar banho. A doutora (que se serviu de tudo) disse-me: sabes quantos pontos positivos em cinco tem esta espelunca? 3,5.

Doutro que era limpo e tinha ar condicionado e tudo eu tive de me servir da casa de banho sem acender a luz porque o polibã tinha o rebordo inferior que era tudo menos branco; a classificação deste era 4,5/5 por uma empresa que faz tal tipo de avaliação.

Eu pensei assim: os turistas que visitam Lisboa são pé de chinelo bêbados, potheaded e nojentos; os donos dessas espeluncas são uns vigaristas que cobram preços quase de um hotel tradicional de quatro estrelas e pior que todos estes é a ASAE que também deve ser composta por gente que não entende a essência de uma casa de banho e a Câmara municipal de Lisboa é comandada por um vaidoso sem causa e baralhado do juízo.

Espero sinceramente que esta onda de turismo nojento, turistas em massa (e ainda por cima porcos) se acabe o mais depressa possível: a Holanda experimentou e agora disse basta.

A praça do Marquês não pode transformar-se em Kandahar, gostava mais do Fénix discreto e com as cores pastel como sempre foi: Medina tome tenência; está bem?

Até para a semana

PS: Na semana passada tive um contratempo; peço desculpa aos meus leitores.        

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