Conversa com Carlitos Sobre a Tragédia em Moçambique


De Lenny Hannah

Amigo e caro Carlos, venho por este meio manifestar-lhe as minhas condolências pela perda de vidas provocada pelo tufão que se abateu sobre a província de Manica e Sofala e, oferecer-lhe em pensamento aquele abraço que nos transporta para um mundo imperturbavelmente seguro.

Carlitos, eu sou tida como uma pessoa cínica, tu par contre embora crítico da cultura da decepção na política, pelas nossas conversas reconheço-te como sendo um ser naïfe pela tua quase comovente crença nos mesmos políticos que, até agora, nada fizeram se não lixar os seus povos, uma vez que idealizas cenários como se num coup de grace fosses transformar a dejecção em pureza comportamental. Pois bem, eu continuo super desconfiada de tudo e de todos, e por tal, hoje vamos conversar ao estilo grego (Sócrates e Glauco), sendo eu a renitente e tu o esclarecido:

Eu - Porquê que Moçambique é o quinto país mais pobre do mundo?

Carlitos - mana, porque ainda não atingimos os níveis médios através dos padrões estabelecidos pelas Instituições internacionais.

Eu - O país é rico – um pouco menos, porque acho que a África do Sul vos está a roubar minerais pelo subsolo – gás, um mar imenso, solo riquíssimo; sociedade jovem facilmente transformável em capital humano; terra arável fértil. Então, porquê que é tão paupérrimo?

Carlitos - mana, porque não é fácil consolidar uma revolução?

Eu - hah, hah, hah,hah.....homem (nota que não disse rapaz) não sejas tapado, essa é a conversa dos esquerdistas para vos manterem a todos na miséria, enquanto eles, suas famílias, seus compinchas e seus cicários pilham os cofres do estado.

Carlitos - Mas, mana, tivemos quinhentos anos de colonização europeia, depois a guerra de libertação, depois a guerra civil com a Renamo e todas as contigências do começar de novo, epá mana, a revolução é isso mesmo sofrer até tudo estar bem para todos.

Eu - a sério Carlitos, really? A lavagem cerebral deixou-te apalermado; foi? E pára de me chamar mana; estamos no meio de um assunto sério. Recebi uma coisa que quero partilhar contigo, os 8 princípios para a criação de um estado socialista:

  • Serviço Nacional de Saúde: controla-se o povo, controlando o sistema nacional de saúde
  • Pobreza: incrementar para o máximo possível os níveis de pobreza, os pobres são facilmente controláveis e não ripostarão se se providenciar tudo para que eles vivam
  • Dívida: aumentar a dívida para níveis insustentáveis, deste modo é possível aumentar os impostos, e isto contribuirá para o aumento da pobreza
  • Controle de armas: retire ao povo a capacidade de se defender do governo, assim poder-se-á criar uma polícia política.
  • Bem estar: tomar controle de todos os aspectos da vida dos cidadãos (alimentação, habitação e rendimentos)
  • Educação: controlar o que as pessoas lêm, vêem, e controlar os programas escolares; o pensar uniformemente
  • Religião: Retirar das escolas e edifícios governamentais tudo o que faça referência à crença em De*s
  • Guerra de Classes: dividir o povo entre ricos e pobres, isto provocará descontentamento e será mais fácil de cobrar mais impostos aos ricos com o apoio dos pobres.

Carlitos - Tchipas, isto é perigoso, não acha? Quem é o autor disto, é a Internacional Socialista; ou quê?

Eu - É o quê; porque ainda estou a ver se o pseudo-autor é quem dizem ser, capisci?

Carlitos - Ah, estás a estudar! Aqui o governo e as repartições estatais estudam muito.

Eu - Que me dizes desta catástrofe que mais uma vez se abateu sobre Moçambique; com tantas enchentes e inclusive um terramoto, vocês não se organizam?

Carlitos - Como mana (desculpa por ser mais velha, tenho mesmo de dizer mana, mas se preferes vou chamar-lhe de tia)? É que o Idai pode ser comparável ao Katrina em New Orleans.

Eu - Ai sim? Não me parece, porque devido à falta de manutenção dos diques e o atraso da resposta do FEMA, o presidente Bush foi responsabilizado e os Republicanos perderam para o senador Obama. Os dirigentes de Moçambique andam a brincar aos cucos com a vida do povo moçambicano. Porquê que não há pavilhões em sítios estratégicos em todas as províncias para acolhimento da população; onde está a rádio ou a corneta (chifre do boi) para avisar as populações para se dirigirem aos abrigos; onde estão as reservas de cobertores, comida enlatada, farinha tostada, chá, café, leite, água engarrafada etc etc...?

Carlitos - Mana, quem poderia prevêr uma coisa desta intensidade?

Eu - Todas as catástrofes anteriores já deveriam ter ensinado algo aos dirigentes de Moçambique. Está-se sempre de mão estendida; é desapontante! A ajuda exterior deveria ser somente para travar epidemias, procurar sobreviventes que se tenham atrasado na marcha; para a recolha e identificação de corpos, mas nunca para suprir as necessidades básicas como o socorro imediato do povo.

Carlitos - Estamos juntos mana! Estou a compreender a tua queixa, olha não sei que te diga...

Eu - O povo que deixe de ser o eterno servente de pedreiro e passe a ser pedreiro...já reparaste que esses Frelimos alistaram-se na guerra de guerrilha não somente para assumirem os destinos da Nação, mas também para terem cerca de 29.500.000 de escravos (povo) a servirem uma corja composta por 500.000 corruptos? Bela revolução!

Até para a semana   

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Comentários

  1. Olá Lenny,

    Sim, senhora, tu e o Carlitos têm conversas interessantes; mas ele nunca me pareceu um grande apoiante da Frelimo (pelo menos os comentários por ele aqui deixados não deixam transparecer esse apoio)...ou isto foi para efeitos filosóficos?

    Eu concordo contigo, Lenny: o governo moçambicano deveria ter-se organizado melhor. Não é a primeira vez que assistimos a este tipo de catástrofe no país e as explicações dadas são uma verdadeira vergonha! Até ouvi a Graça Machel culpar as alterações climáticas ao invés de responsabilizar o governo por falta de organização. Tudo isso dá a impressão de terem visto nesta tragédia mais uma oportunidade para ganharem uns cobres.

    De qualquer maneira, deixo aqui um grande bem-haja ao Governo Português: os fuzileiros estão a fazer um tremendo trabalho. Parabéns e obrigada!

    Beijocas

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    1. Max, xi, vucê me estudou bem! É isso que disseste mas às vezes gosto de fazer de advogado do diabo, né? Faz bem ao cérebro!

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  2. Xiiii, nem acredito!!! Faço parte deste teu artigo!!! Obrigado, mana, a sério! E obrigado pelas condolências, pá precisamos mesmo.
    claro, que é maningue dificil eu tar a defender a frelimo porque fiquei raivoso de ver isto acontecer outra vez em Moza! O que andamos aqui a fazer afinal? E sim, porque temos de andar com a mão estendida como se não tivessemos mesmo nada? Um país rico como nós parecemos desgraçados, e isto irrita-me maningue mesmo!
    Mas yah, obrigado e mana, estamos juntos! Podes me usar sempre que quiseres :)!

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  3. Coitados dos moçambicanos! Espero que a situação deles se resolva em breve, mas concordo que se deva pôr mais responsabilidade sobre os governos africanos em geral!

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  4. As minhas orações estão com o povo moçambicano mas também devemos ter a coragem de fazer as perguntas certas acerca da falta de organização dos países africanos - quando é que passarão da cepa torta?
    Lenny, gostei imenso deste artigo: acho bem que não passes uma esponja por cima de certos assuntos.

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  5. Tenho pena dos africanos! Tanto trabalho pra nos expulsar de lá e no entanto não se conseguem governar!

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  6. Olá meus amores! Eu lamento o que está a acontecer na Beira, é triste ver que não se aprendeu nada com as tragédias do passado! E depois o povo é que paga as favas, como sempre! Mas pronto, tu e o carlitos têm boas conversas ao menos. :)

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  7. Ai lenny, o meu coração está partido com tudo isto! Que Deus valha aos moçambicanos, coitadinhos, que Deus lhes valha!

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