Ataque em Christchurch, NZ: Terrorismo de Extrema-Direita?


De Max Coutinho

Na passada sexta-feira, a Nova Zelândia sofreu um ataque contra alvos civis: duas mesquitas e um hospital. Quatro homens e uma mulher foram presos, ainda que só um tenha sido identificado por nome: Brenton Tarrant, um indivíduo de 28 anos que aparentemente se identifica como sendo um “supremacista branco”. Este ataque foi um ataque terrorista? E estaremos mesmo a falar de terrorismo de extrema-direita?

Este Grupo de Eventos Constitui um Ataque Terrorista?

Definição de Terrorismo

Terrorismo é o uso intencional, ou a ameaça do uso, de violência contra civis ou contra alvos civis para atingir objectivos políticos (...) baseado em três elementos importantes:

A essência da actividade (i.e. uma actividade que não envolva o uso, ou ameaça do uso, de violência não será definida como terrorismo).

O objectivo da actividade é sempre política (i.e. na ausência de um objectivo político, a actividade levada a cabo não será definida como terrorismo).

Os alvos são civis (i.e. todos os actos são propositadamente direccionados a civis; o que separa actos terroristas de outros tipos de violência política [e.g. guerra de guerrilha e insurreição civil]. – Professor Boaz Ganor

Resposta: sim, os ataques de Christchurch constituem terrorismo uma vez que a essência da actividade é o uso da violência, o objectivo da actividade foi político e os alvos foram civis.

É este um caso de Terrorismo da Extrema-Direita?

Brenton Tarrant parece ter escrito um Manifesto e, baseado no pouco que li até agora, a minha conclusão é que o Sr Tarrant é um milenial confuso que nem sequer sabe bem o que é a Supremacia Branca, já para não falar nos seus “pontos de vista políticos” que são uma salada russa. Comecemos pela capa do seu documento político:

Título: A Grande Substituição – em direcção a uma nova sociedade marchamos sempre para a frente
Logotipo: o Sol Negro dentro de uma roda de 8 raios. Dentro de cada raio há um sumário das suas alegadas posições políticas – Anti-Imperialismo, Ambientalismo, Mercados Responsáveis, Comunidade Livre de Vícios, Lei e Ordem, Autonomia Étnica, Protecção do Legado e Cultura, Direitos dos Trabalhadores.

O Título per se é um total absurdo porque:

  1. Substituição – o jovem e aqueles como ele acreditam que as pessoas de pele clara (de descendência europeia) estão a ser substituídos pelas gentes do Médio Oriente. Bem, tanto na Nova Zelândia como na Austrália a maioria ainda é composta por pessoas com baixos níveis de melanina, e ainda que a sua percepção estivesse correcta de quem seria a culpa? Certamente não das minorias. 
  2. Nova Sociedade – se a intenção do terrorista é voltar a uma época em que cada etnia vivia no seu respectivo país sem se atrever a interagir com outros à volta do mundo (o que se provou impossível devido à natureza humana), como é que poderá isto ser algo de novo?
  3. Marchar para a frente – a regressão é o oposto de andar, or marchar, para a frente. 

Conclusão: só o título já desacredita todo o documento.

O Logotipo é também um cocktail de ideias opostas:

  1. Sol Negro: um símbolo usado pelos seguidores do Nazismo (Nacional Socialismo). Aparentemente, Heinrich Himmler (Yimach Shemo) foi o primeiro a usá-lo no castelo que mandou remodelar e expandir para os rituais pagãos Nazis. 
  2. O Número 8: representa a letra H (que na ideologia do Nacional Socialismo tem dois significados Heil e Hitler [Yimach Shemo]). 
  3. Anti-Imperialismo: uma locução de Esquerda (e também parte do ethos Socialista e Comunista). Para além do mais, se o objectivo é ter de volta a tal “supremacia branca” então estamos a falar de domínio político sobre todas as outras nações e povos; por isso, como é que Brenton é contra o Imperialismo que ele e sua malta defendem?
  4. Ambientalismo e Autonomia Étnica: enquanto a Alexandria Ocasio-Cortez acredita que as vacas estão a destruir o planeta e logo devem ser terminadas, Brenton (um auto-proclamado “eco-fascista”) acredita que as etnias férteis é que estão a destruir o planeta terra (já que as pessoas com baixos níveis de melanina não fazem bébés, segundo ele) e por isso ao se aniquilar essas etnias o planeta estará seguro. Este nível de estupidez só poderia vir de dois ímpios. 
  5. Mercados Responsáveis e Direitos dos Trabalhadores: Brenton despreza o Capitalismo porque o trabalho das pessoas só serve para beneficiar os capitalistas – mais um marcador Socialista/Comunista. Ele também proibiria o comércio livre e aumentaria o salário mínimo porque, na sua opinião, a imigração “não-branca” é alimentada pela insistência capitalista em contratar gente que ganha salários baixos. 
  6. Comunidade livre de vícios: Tarrant defende a morte para todos os traficantes de droga. 
  7. Lei e Ordem: se ele propõe resolver problemas mundiais através da violência anárquica, como é que ele defende a Lei e a Ordem? Não faz sentido. Parece-me que ele tenha simplesmente inserido este slogan para dar a impressão de que é um apoiante do presidente Trump. 
  8. Protecção do Legado e Cultura: Tarrant descreve-se como Europeu ainda que a sua cultura seja Australiana (duas culturas diferentes a bem dizer). Ele também expressou a sua admiração pela Cultura Asiática e a habilidade desta para proteger o seu Legado. Se o objectivo era apelar à defesa da “cultura e legado europeus” porquê envolver outras culturas? E porquê a admiração pela China (um estado comunista) – mais um marcador das suas tendências esquerdistas?

Conclusão: Brenton Tarrant é tão extrema-direita quanto o Winnie the Pooh. Ele é mais um projecto de nacional socialista confuso – ou seja, um esquerdista.

Marcardores de Extrema-Direita: Judeus e Muçulmanos

Povo Judeu

É interessante que Tarrant tenha praticamente repetido a ideia de Anders Breivik quando disse “Um Judeu que viva em Israel não é meu inimigo, desde que eles não procurem subverter e magoar o meu povo,” – Breivik disse que ele apoiava Israel com o único objectivo de deportar todos os “Judeus desleais” para lá. Tarrant também disse ter-se inspirado em Dylann Roof que disse que o “problema Judaico” seria resolvido se a identidade Judaica fosse destruída.

Hoje em dia, nem a extrema-direita nem elementos esquerdistas apoiam abertamente a morte de Judeus. A nova extrema-direita defende que Israel tem de ser protegida dos Muçulmanos com a única intenção de enviar todos os Judeus para lá; e a nova Esquerda defende que Israel tem de ser dada aos Árabes com dois objectivos em vista: usar os muçulmanos para matarem os Judeus no Médio Oriente ou forçar os Judeus a voltarem para a Europa com todo o seu dinheiro.

Sempre que um Judeu é morto por um Muçulmano ou por um alegado elemento da extrema-direita, o mundo cala-se.

Povo Muçulmano

Para o Tarrant e a sua malta, os Muçulmanos são vistos como invasores e como tal devem ser aniquilados. Mas a verdade é que a sua visão está toda errada porque os Muçulmanos não são invasores porque foram convidados pelos nossos políticos. Por isso, como sempre, é mais fácil culpar o outro lado ao invés de assumir a responsabilidade pelos actos do nosso lado. Posto isto, esta retórica anti-imigração muçulmana parece oportunista; e atacar as Mesquistas serviu para validar essa retórica – de modo a forçar uma reacção para atingir um determinado fim (isto é similar à táctica Iraniana de forçar conflitos sangrentos para apressar a vinda do Mahdi).

Sempre que um Muçulmano é morto por um soldado ou por uma criatura alegadamente da extrema-direita, o mundo fica histérico, organiza vígilias e acende velas nas ruas.

Conclusão

Não há dúvidas de que tenha ocorrido um ataque terrorista na Nova Zelândia. Contido, parece haver muitas dúvidas no que toca às motivações políticas deste terrorista de 28 anos. O seu manifesto parece uma colagem de ideologias e as suas posições parecem derivar de memes disseminados na internet.

Brenton Tarrant disse não ter interesse na instrução: vê-se. Anders Breivik, pelo menos, demonstrava ter mais estrutura na expressão das suas motivações e política; mas Tarrant apresenta-se como um completo ignorante (aliás como confessou ao afirmar que “jamais teve notas para passar” – ainda que tenhamos de nos perguntar porquê sentiu necessidade de partilhar esta informação).

Tudo parece demasiado mau para ser verdade. É tudo tão deliberado e, logo, precisamos de colocar umas quantas possibilidades na mesa:

  • Este jovem pode ter sido pago para cometer esta atrocidade
  • Ele pode ter sido pago para produzir um documento para o qual atirou nomes como alegadas fontes de inspiração - incluíndo o nome de uma moça negra - (certamente para ligar certas pessoas a ideologias perigosas)
  • Poderá haver uma entidade/organização por detrás dele.

Poderemos estar perante uma nova forma de Guerra Política. Por essa razão, esperamos que as autoridades da Nova Zelândia façam a coisa certa e não usem este jovem meramente como arma política contra a Direita. Investiguem.

(Imagem: Uma das ARs usadas por Brenton Tarrant via Google Images)

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