América no Afeganistão: Ficar ou Não; Reparar ou Não...


De Scott Morgan

Como poderemos melhor definir a presente situação estratégica no Afeganistão? Está num estado de caos ou de transição? Após o ataque de Junho em Cabul, que teve como alvo os associados internacionais do presente governo, temos de nos perguntar como vão as coisas.

Uma das armadilhas na qual os analistas caem é olhar para as decisões que a Administração Obama tomou acerca do país, cujas consequências foram deixadas para a Administração Trump lidar com elas. Há alguma verdade nesta analogia. Contudo, a Administração Ghani em Cabul tem de assumir responsabilidade pelos problemas que ainda assolam o país.

Ainda que a presente liderança afegã tenha sido adepta da governação dentro de áreas urbanas, a capacidade dos Talibãs para se insurgirem e do Estado Islâmico para cimentar a sua posição nas zonas rurais representa um enorme desafio para a segurança. Como esta ameaça é analisada e abordada irá determinar a duração do presente governo afegão.

Sabemos todos que os Estados Unidos têm tido uma presença militar no Afeganistão desde 2001. Esta presença representa a mais longa campanha militar na história da república. A questão acerca do próximo passo a dar esteve a ser debatida na Casa Branca. Deverão os Estados Unidos aumentar a sua presença militar no país? Quantos deverão ser enviados? Estas são algumas dos temas colocados na mesa.

Por isso, o que é que acontece se os EUA decidirem sair dos Afeganistão depois de tanto sangue vertido e de se ter gasto tanto dinheiro? Mas uma vez que a natureza odeia vácuos, o vazio precisa de ser preenchido. A próxima questão é: como é que esse espaço será preenchido? Os Talibãs têm estado em conversações com a Federação Russa acerca de como lidar com a presença do Estado Islâmico na parte oriental do país. Sabemos que o Paquistão tem estado a apoiar várias diferentes facções dentro do país e, no processo, a desestabilizar o país.

Contudo, há vários jogadores chave que não foram reparados ou pelo seu potencial papel no Afeganistão ou por correram o risco de haver um novo conflito no país, criando assim problemas nos seus respectivos países. O Tajiquistão deveria estar no topo dessa lista. O Uzbequistão e o Quirguistão têm sido as localizações de Bases Militares tanto na era da ocupação soviética como na era da incursão Americana. Estes dois países poderão tornar-se importantes de novo num futuro próximo.

O Irão deu guarida a alguns membros da liderança da Al-Qaeda que havia fugido do Afeganistão, depois das tropas americanas chegarem em 2001. Qual o potencial papel que poderão desempenhar no futuro do país? A China, que de momento tem uma grande operação a decorrrer na Provincia de Xianjiang com 100.000 tropas, está numa posição que não pode ignorar os eventos no Afeganistão. Eles poderão sentir que os problemas na província ocidental poderiam sofrer uma inspiração dos eventos que se desenrolam no Afeganistão.

Não obstante, há uma peça que poderá mover-se no país. Uma peça que deixará o Paquistão muito nervoso: a Índia. Quer seja o receio justificado ou não é algo a ser debatido, em luz da recente viagem do Ministro dos Negócios Estrangeiros indiano, ao país, em busca de oportunidades de investimento - uma viagem que não deveria ser ignorada por nenhuma das parte envolvidas nos assuntos do Afeganistão.

Será do interesse dos Estados Unidos assumir as perdas e afastar-se do Afeganistão? Provavelmente, não. Todo o mundo olhará para a Guerra contra o Terror na região como uma fraude.

A estratégia americana no Afeganistão vai para além das palavras-chave Nation Building e Capacity Building. Os EUA dever-se-iam concentrar no sector agrícola e até no sector de transportes públicos de modo a permitir que a Administração Ghani lide com os problemas maiores que assolam o Afeganistão. Estragámos uma boa parte do país por isso deveríamos ajudar a repará-lo. 

(Imagem: Ataque a Cabul [Ed] - ABC News)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários