Sim, já sabemos que há médicos portugueses que ganham salários indignos quiçá ultrajantes.
De quem é a culpa desta infâmia? É da Ordem dos Médicos e, dos sucessivos governos, inclusivé o vigente que nada fez para mudar o sistema da média de acesso para medicina, pelo contrário anda a perseguir estudantes que se serviram do sistema para avançar com a sua vida (referência).
O que é a Ordem dos Médicos (OM)? Será uma organização encabeçada por ladrões elitistas cujo plano é engasgar o SNS para que os seus associados (ausentes dos Centros de Saúde e escassos nos centros hospitalares) possam, nos seus consultórios particulares, arrancar couro e cabelo às pessoas frustradas com o Serviço Nacional de Saúde?
Saberá a OM que de certa forma a classe médica engrossa o elo da lavagem de dinheiro, porque o pagamento preferencial nos consultórios médicos é “cash only”: o cheque é mal interpretado, raramente aceitam comparticipação da Caixa de Previdência (SNS), o pedido de recibo implica pagar mais alguns Euros e, para quem torcer o nariz a próxima consulta implicará 1 mês de espera.
Logo, impõe-se ainda mais duas questões:
- Para quem trabalha a Ordem dos Médicos em Portugal?
- A que organização internacional está a Ordem associada?
Onde é que já se viu que um estudante que se sinta vocacionado para ser médico, que só sonhe com essa profissão, que se imagine a curar doentes, e a contribuir para um sistema de saúde em prontidão para o que der e vier, veja a sua vocação e sonho estraçalhados por não ter média de 18 vírgula rocócós, nem possibilidades de ir estudar para o estrangeiro onde uns meros 14/15 valores são o quanto basta?
De que está o governo à espera de licenciar mais universidades a abrirem portas aos cursos de medicina e de instruir o Ministério da Educação para que baixe as notas de acesso?
Será que o trio (Parlamento, Ministério da Educação e Ordem dos Médicos) tem o direito de menosprezar os portugueses sujeitando-os a um SNS da porcaria, privando-os de serem tratados por supercrânios (que acabam por procurar no estrangeiro melhores condições de trabalho)?
Será inteligente desperdiçar futuros profissionais que aqui são considerados ralé para o estudo da medicina mas que no estrangeiro se formam com distinção e não regressam mais?
Será que desprezar um aluno de 14/15 valores, não lhe facultando formação na área de medicina, sai mais barato do que importar médicos cubanos, e de países similares, que se dirigem aos pacientes num português narco-corrido?
Acredito solenemente que a maioria dos médicos lusos esteja a emigrar a contra-gosto. Mas que fazer se estão num país no qual os gestores hospitalares fazem cortes estridentes (para agradar o ministro da pasta da saúde e o partido que os nomeou) impossibilitando assim aos médicos o resgate de vidas das mãos da morte?
Como pode um médico português, estando debaixo de ordens de um gestor de mente-pequenez, dizer na cara de Deus “não, não podes levar este homem/mulher pois ainda não viveu 50 anos; tem filhos para sustentar e pais que não compreenderão a tua decisão. Senhor, atrevo-me e digo-te: não, hoje não posso perder contra ti”?
Como pode um médico português atingir o brilhantismo se não lhe é permitido que se supere? Se o seu salário não comporta custos extras tais como aquisição de livros e revistas cientifícas; o recurso a novas tecnologias, a criação de instrumentos para melhor tratar os seus pacientes; os custos de seminários, viagens e estadias etc etc...
Depois ficamos boqueabertos com a corrupção reinante na classe médica.
Os médicos-sumidade (18,19 e 20 valores) não estão preparados para gerir a pressão; pois, todos os invernos perdem-se vidas desnecessariamente porque ainda se servem de uma ferramenta globalmente chamada Triagem que é um factor de selecção caviloso (febre e pressão arterial?).
As sumidades não têm estratégia, não sabem delegar; a rebelião racionalista é nula porque os gestores padecem de sentido de humor e não gostam de reconhecer que um subalterno possa ter melhor visão para o sector das Urgências; o espírito criativo está esmagado, pois não podem sair dos parâmetros estabelecidos pela gestão.
Quanto a mim todas as pessoas que durante o inverno perderam familiares seniores dever-se-iam ter juntado e interposto uma queixa crime por negligência dolosa contra a Ordem dos Médicos e o Estado Português, porque ambos andam a perpetuar a política dos médicos-sumidades que na hora do vamos ver: falham redondamente.
A classe médica, que se sentir intelectualmente reprimida, deverá juntar-se e formar um grupo de pressão que proponha ideias exequíveis para que o seu trabalho seja compensador.
Por exemplo, dentro do grupo de pressão criar-se-á uma comissão gestora de fundos; incutir-se-á a noção de cooperação directa junto de particulares abastados, empresas e instituições financeiras. Uma vez alcançado o conceito, os Hospitais poderão aceitar doações em aparelhagem altamente tecnológica e fundos.
Outras ideias...deixo a cargo do suposto grupo de pressão, que não só ajudará a equipar melhor os hospitais como poderá melhor treinar os médicos caloiros, servindo melhor as populações.
Senhores doutores, deste modo poderão - junto do Ministério da Saúde - exigir melhores salários para a classe. Poderão ainda executar o vosso trabalho sem desculpas furadas (para justificar a incompetência), sem a lenga-lenga das más condições de trabalho, e sem o choradinho do costume. O governo não toma decisões médicas, e se contribuirem com um pouco de engenho; os pacientes agradecerão o esforço e dedicação.
Meus caros, não tenhais medo do fuínha governamental e reclamai o controle do vosso local de trabalho.
Até para a semana
(Imagem [Ed.]: Dr Sloan & Dr Burke - Anatomia de Grey)
Se enquanto médico me oferecessem um salário como os de lá de fora eu também me pisgaria. É pena que os portugueses é que tenham de sofrer com isso. Olhem, eu nem tenho médico de familia agora!
ResponderEliminarOlá, Anónimo!
EliminarNão tem o senhor, não tem a minha mãe; uma amiga minha que mora na freguesia de Alfragide diz-me que muitos pacientes do Centro de Saúde da Buraca estão também sem o dito médico de "família"; disse-me que anda por lá um médico africano que é uma desgraça, o povo está cheio de saudades dum tal doutor Nicolau que era de origem angolana e que era super decente para com os pacientes.
Boa sorte na busca de um médico de "família" que vai ver não sabe coisa alguma do seu historial médico nem o da sua família.
Cumprimentos
Olá Lenny,
ResponderEliminarBoas sugestões: os portugueses têm de se habituar a não depender do estado para tudo e fazer mais por si (e logo pela nação).
Nunca percebi porque Portugal insiste em fazer com que os seus alunos se matem para ter médias acima de 18 para serem médicos: a nota não quer dizer coisa alguma; pois muitos com vocação para serem médicos (por razões várias) poderão não vir a ter tais médias; ao passo que os que as conseguem ter (por factores vários) nem sempre são bons médicos.
Mas se calhar ainda não se colocou em Portugal a seguinte pergunta: o que faz um bom médico?
Levantaste uma boa questão, Lenny. Espero que se tirem ilações interessantes deste teu post.
Bom trabalho.
Beijocas
Olá, Max!
EliminarÉ uma desgraça e depois o ministro da educação vai e move perseguição aos miúdos que se sabem mexer no sistema, tudo em nome da facciosa igualdade. Em Portugal é proíbido ser brilhante, pensante, estratega, são todos obrigados a serem carneiros, se alguém decide ir por outro caminho - não ilegal, mas diferente - "ah cá d'el rey, este pensa que é mais esperto que os outros e principalmente eu dr. ao cubo fulano de tal" : é uma porra, je te dis moi!
Um bom médico luta contra o status quo; um bom médico quando mata um paciente jura a si mesmo que aquele fora o primeiro e o último; um bom médico está sempre a negociar com a morte e com Deus; um bom médico faz tudo por tudo para se superar; um bom médico é um profissional excelente.
Beijocas, minha linda!
Ah lenny, os médicos portugueses são assim grossos como estes da imagem? Se são então quero estar doente agora!
ResponderEliminarOlá, Leila!
EliminarQue nada, alguns raiam a "grosso", mas porque se acham topetudo, por causa das tais médias, falta-lhes modéstia: os médicos portugueses sentem-se ofendidos se alguém os questiona, são incapazes de se aproximar dum membro da família e explicar a extensão do problema.
Falta-lhes aquela pitada de sal que transforma o banal em sofisticação: "cuido-me, sou belo, mas aqui sou um deus logo: tu viverás"
Claro que que se morre nos hospitais, mas hey... se a partida for nas mãos de um deus menor, belo e altamente profissional: a viagem em direcção à luz será menos aborrecida.
Não, amiga! Tu não queres ficar doente. Ouvi na TV um médico suiço dizer que os hospitais são um lugar perigoso.
Há muito grosso por aí é só ter paciência e saber farejar: nhima uta mukuma ;)
Aquele abraço