Quando um grupo é composto por somente alguns elementos, há uma grande possibilidade de este grupo ser ou uma Unidade de Forças Especiais (SF) ou o Cérebro por detrás de uma operação mais alargada.
O Khorasan é uma dessas organizações: é composto por 50 elementos veteranos da Al-Qaeda (AQ); é misterioso e porque não é tão falado como outros grupos jihadistas, é capaz de se movimentar pelo mundo quase imperceptivelmente.
O que é então o Khorasan: uma Unidade de SF ou o Cérebro?
O grupo tem o nome de uma região do irão, Khorasan, que significa “Terra onde o sol se ergue” (Khwar = sol, Asan = vir, vindo, prestes a vir). Historicamente, Khorasan era o Grande Afeganistão, cobrindo partes da Ásia Central e a Província chinesa de Xinxiang; mas hoje conotamos Khorasan com o irão.
Ideologia
Interpretação radical do Islão sunita como forma de regressar à pureza Islâmica, e logo glória, do passado.
Alegado Líder
Muhsin al-Fadhli; nascido no dia 24 de Abril de 1981, no kuwait. Segundo o Departamento de Estado americano, ele já utilizou pseudónimos como Muhsin Fadhil ‘Ayyid al Fadhli, Muhsin Fadil Ayid Ashur al Fadhli, Abu Majid Samiyah, e Abu Samia; mas dada a informação de que ele possa ter entrado recentemente na europa para angariar fundos, pode-se dizer que tenha criado novos pseudónimos.
Muhsin al-Fadhli é uma peça importante do puzzle, não só porque é o alegado líder do Khorasan, nem porque é o único membro do grupo publicamente identificado, mas principalmente porque ele parece ser um dos principais nódulos financeiros da AQ. Al-Fadhli é o elemento carismático que cola a vasta rede de jihadistas e pode ser um dos poucos em quem é depositada total confiança para angariar os fundos que alimentam as operações da Al-Qaeda. Capturá-lo significaria ter acesso a toda a rede do Conglomerado da Jihad Global (nomes, nacionalidades, posição hierárquica; colaboradores não-muçulmanos [e.g. elementos da Esquerda Internacional, grupos e activistas Pró-Palestina; lobos solitários da Extrema-Direita]; contas bancárias e contactos no universo do tráfico de drogas, armas e humano). Uma vez que Muhsin transporta operativos do paquistão – através do irão e da turquia – para destinos na síria, norte de áfrica e europa; apanhá-lo também significaria que teríamos acesso a informações acerca do elo turco à Jihad Global.
Objectivo Declarado
Atacar o Ocidente de maneira espectacular, através do emprego de recrutas ocidentais para executar o plano; capitalizando assim com um leque alargado de nacionalidades.
Armas de Preferência
Explosivos escondidos para evitar as medidas de segurança nos aeroportos. Isto é particularmente preocupante dado que o Khorasan trabalha de perto com a AQAP (Al-Qaeda na Península Arábica), no Iémen, cujo bombista-mor é o famoso Ibrahim Hassan al-Asiri – um químico saudita, nascido no dia 18 de Abril de 1982, em Riyadh – conhecido por ter criado a “bomba da roupa interior”. Relatórios dizem que recentemente al-Asiri foi recrutado pelo ISIS, e após confirmação será mais uma prova de que apesar de terem nomes diferentes, todos os grupos jihadistas sunitas partilham o mesmo objectivo e são financiados pelo mesmo grupo de pessoas.
Questão: os próprios elementos do Khorasan utilizam estes explosivos, ou será que seleccionam os recrutas que os usam? A última hipótese deverá ser a que mais reflecte a realidade.
Base de Operações
Mais notável na Síria, por estar mais perto do seu alvo principal: o Ocidente. Foi reportado que sob a protecção do Al-Nusra (que, segundo o CriticalThreats.org, recebe conselhos do Khorasan) o grupo conseguiu obter terras e edifícios em áreas circundantes a Aleppo. Contudo, deveríamos partir do princípio de que o grupo mantenha quatro bases de operações: afeganistão (centro nervoso), irão (logística), kuwait (financeira), síria (estratégica).
Recrutamento
O grupo assentou arraial na síria para criar células com militantes afegãos e paquistaneses afim de recrutarem Jihadistas com passaportes americanos e europeus.
Em 2012, o Departamento de Estado americano reportou que elementos da AQ no irão, liderados por al-Fadhli, operavam para transportar militantes e fundos (providenciados por doadores kuwaitianos) através da turquia e da síria.
Mas há uma pergunta a ser feita: se o Khorasan insiste em permanecer reduzido em número, para quem é que eles recrutam? Al-Qaeda, al-Nusra, ISIS...? Talvez o seu papel seja recrutar lobos solitários (offline).
Unidade SF ou SWOT?
O número de operativos, as suas características, e o seu modus vivendi discreto são indicadores de que o grupo é na verdade o cérebro da Al-Qaeda. O Khorasan é o ramo estratégico da AQ que analisa a força (Strength), as fraquezas (Weaknesses), as oportunidades (Opportunities) e as ameaças (Threats) do conglomerado.
A sua habilidade para viajar pelo mundo em busca de fundos e recrutas deve ser protegida e, é por essa razão que só se conhece a identidade de um membro do grupo – tendo jihadistas, no ano passado, inclusive confirmado a morte de Muhsin, após um ataque aéreo americano na síria, para o remover do radar das agências de segurança (tal morte não foi confirmada pelo Pentágono). Todos os outros 49 elementos permanecem na obscuridade, acrescentando assim mais uma camada de segurança às operações globais da organização.
O kuwait está atrás de Mushin al-Fadhli, que misteriosamente fugiu da prisão em 2007 após ter sido sentenciado devido a actividades terroristas; só que todos os caminhos do Khorasan vão dar ao kuwait, onde a organização angaria fundos. Devemos prestar muita atenção ao kuwait devido à sua geo-localização: é vizinho do iraque, irão, EAU e bahrain, todos centros de cash flow e de liberdade de movimento. Devido ao sector financeiro do kuwait, os dadores do Khorasan podem através dele colectar fundos a uma escala mundial sem deixar rasto (segundo conversas tidas com um colega) – dificultando assim as operações de contraterrorismo contra o grupo.
O facto da Equipa de SWOT da AQ ter seleccionado o nome “Khorasan” deveria ser interpretado como a ambição do grupo de eventualmente tomar o irão, como parte do objectivo mais alargado sunita em estabelecer o Califado Islâmico no Médio Oriente – mas este objectivo, de momento, parece um pouco irrealista dada a presente conjuntura no Médio Oriente, i.e. a disseminação da rede iraniana na região.
A Al-Qaeda tem novo sangue, com ideias frescas, provavelmente com treino ocidental, que está a dividir a organização em peças diferentes para aumentar o seu alcance. A estratégia tem como alicerce o modelo tribal (mais um indicador do seu desejo de retornar aos tempos em que o Islão era puro), só que numa escala maior e com muita contra-informação à mistura. A AQ e afiliados certificam-se de que obtêm o máximo de exposição e fama para afastar os cães farejadores do trilho que conduz ao sistema nervoso central – e como não sabemos as identidades de todos os membros do Khorasan, operamos num meio ambiente em que qualquer muçulmano poderá ser um potencial membro do Khorasan; o que nos leva de volta ao perfil religioso.
Sem um absoluto entendimento das complexidades da Jihad Global e de como esta se adapta às mudanças; sem um total apoio legal, o Pentágono tem toda a razão quando sugere que levará gerações a eliminar este fenómeno.
(Imagem: retirada de The Khorasan Group: Syria's Al-Qaeda Threat)
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