Ter Razão ou Estar Certo?

Ricardo Salgado 
"Pedir desculpa é pior do que não ter razão" - Fernando Pessoa

Não gosto de falar do pobre, porque não tenho autoridade moral nem imaginação suficientes para sequer cogitar o imenso turbilhão que oprime e estraçalha o ser físico, mental e espiritual de uma pessoa nessas condições. Prefiro contribuir ajudando um de cada vez a pôr-se em pé e consolidar o seu chão.

Assim como também não gosto de falar do rico, porque não tenho capacidade de juízo acerca de como foi obtido esse dinheiro: suado; herdado; roubado; negócios legítimos ou escuros; compadrios; uma mistura de todos? Não faz diferença, porque a um dado momento houve coisa obscura, e até mágoa, na vida de qualquer rico e de quem o antecedeu.
Não julgo nem tenho preconceitos contra o rico. O facto é que se com a sua riqueza cria postos de trabalho, contribui para o crescimento económico do seu país e aumenta ainda mais a sua  riqueza: quem sou eu para dizer o que quer que seja?

Todavia, na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) sobre o BESgate aconteceu algo extraordinário: o banqueiro que até há pouco tempo fora considerado a nata da alta finança portuguesa, ao negar-se a pedir desculpa pelo seu fiasco, terá supostamente deixado o parlamentar Carlos Abreu Amorim assarapantado: estaria ele perante uma pessoa capciosa ou simplesmente diante d’alguém que acabara de sofrer um episódio psicótico?

Eu também detesto pedir desculpa, porque dói e é humilhante reconhecer que eu tenha sido deselegante para com um familiar ou que não me tenha conduzido condignamente para com o próximo; mas...Ó dear governor Salgado, o senhor citou Fernando Pessoa (eu acho óptimo que ande em tão boa companhia) mas saiba que defender a sua crença não é o mesmo que defender a realidade dos factos avassaladores contra a sua parca gestão do BES.

Portanto governor, quando diz que está diante da comissão para defender a sua razão; qual razão será essa, pergunto eu?
Pois o seu Banco e o bom nome da sua família estão sendo arrastados na lama, o senhor está a ser investigado, os negócios da sua família estão quase arruinados, logo: onde estava a razão durante a sua governance enquanto tudo isto ocorria?
Como pode defender a sua razão quando claramente, e à luz dos acontecimentos, o seu comportamento se desviou da racionalidade? Não inspeccionou, não reflectiu, não chamou à pedra o seu departamento de estratégia, demonstrou excesso de confiança à sua entourage, porque se livrou daquela inquietação (friozinho no estômago) que raia a medo devido à responsabilidade de ser o fiel depositário dos investimentos no seu Banco e das poupanças alheias.

Oiça governor, não peça desculpa, os seus clientes é que deveriam ajoelhar-se e agradecer aos céus por terem alguém da sua estirpe a trabalhar para eles; não peça perdão porque todos os governos o convenceram de que o senhor era imprescindível para fechar negócios complicados; não peça desculpa porque o senhor investiu €1.5 mil milhões na dívida furada do governo furado de Angola; não peça perdão porque o ex-premier Sócrates implantou na sua cabecinha a ilusão de que o senhor seria uma peça influente no xadrez dos negócios da nação; e não, não peça desculpas porque quem deu cabo do seu banco foi negligentemente o Banco de Portugal que é sempre tão inconsistente nos momentos críticos; não, não peça perdão porque quem lhe deu a facada final foi imperdoavelmente o governo de Pedro Passos Coelho aconselhado pelo ex-ministro das finanças Victor Gaspar; escute, por favor, não peça desculpas porque obviamente o seu ego não o permitiria.
   
Governor, sweetie, longe de mim presumir que durante a sua gestão tenha dado ordens para que se fizesse uso de tunneling da PT para o BES e deste para a ESI; nem estou a insinuar que o senhor sofra de dissonância cognitiva e, que para apaziguar a sua luta interna, o senhor se tenha convencido que a sua holding não estivesse em risco; e nem tão pouco, deva eu supor que, o senhor tenha escolhido não se questionar acerca dos resultados do seu império, na expectativa insana de que, redesenhando a trajectória dos fundos e interminavelmente os injectasse nos seus dubious businesses and dirty dealings, tudo se desvanecesse miraculosamente: not quite so!
Não obstante, por quem é, espero que se saiba defender ou....que entregue alguém relevante para evitar longos e cansativos anos a ler os clássicos num cubículo mais pequeno que a sua casa de banho.

Ó mar Salgado, quanto do teu sal são lágrimas da clientela do BES...

Até para a semana

(Fonte da Imagem: Google Imagens)

Comentários

  1. Olá Lenny,

    Não sou da opinião que Ricardo Salgado devesse pedir desculpas (aliás pedir desculpa implica ter agido ou falado sem pensar, e admitir que não se pensa é triste); mas deveria sim ter assumido responsabilidade total pelos seus actos. Não sei se o fez, mas se a resposta for sim - parabéns, mostrou carácter; se a resposta for negativa - é mais um CEO desonesto e irresponsável, como tantos que andam para aí infelizmente.

    Excelente trabalho, como sempre.

    Beijocas

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  2. Olá, Max!

    Dizer "errar é humano ou acredito que tenha cometido alguns erros" não é assumir responsabilidade de coisa alguma nem é tão pouco demonstração de bom carácter.
    Ricardo Salgado era tido como um falcão de gestão financeira, por isso a sua atitude deveria ter sido: lamento que durante a minha gestão se tenham desbaratado poupanças dos clientes do meu banco, lamento não ter estado a leste do que se passava dentro do meu banco, lamento não ter sido honesto para com os accionistas da PT. Por todas estas razões, assumo total responsabilidade pela queda do banco, da PT, dos negócios da minha família, porque abusei da confiança em mim depositada.
    Ponho-me à disposição da justiça para responder pelo acto de negligência grosseira e, por ter manchado a licença que me fora atribuída pelo Estado para poder gerir uma instituição financeira.
    Culpar A,B,C, e D pelo seu fracasso é uma atitude revestida de desonestidade e intelectualidade duvidosa.

    Beijocas

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    Respostas
    1. Lenny,

      Como não segui a história, não sei o que Ricardo Salgado disse, mas pelos vistos demonstrou ser "mais um CEO desonesto e irresponsável, como tantos que andam para aí infelizmente."

      "Culpar A,B,C, e D pelo seu fracasso é uma atitude revestida de desonestidade e intelectualidade duvidosa."

      Nem mais.

      Beijocas

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  3. Eu só falo do pobre se ele for porco e só falo do rico se ele for bandido. Mas este senhor salgado deveria ter vergonha, porque ele é considerado um dos maiores gestores de portugal e onde fica a responsabilidade eles para com os clientes, para os accionistas e isso tudo? E como pode ele culpar toda a gente menos a si mesmo? Não compreendo esta gente, lenny. Pra mim ele não tem nem razão nem está certo!

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  4. Olá, Leila!
    Heeheeheeh, amei o porco e o bandido.
    Pois claro, o facto de se ser pobre, não implica que se deva ser porco, e o facto de se ser rico não implica necessariamente que se seja bandido (só às vezes; poucas).
    Como se diz em Inhambane:hum...txo... tem muita pomporrea
    Aquele abraço

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