Bandeira Francesa |
O governo francês foi ligeiramente remodelado.
A mudança ocorreu não porque chegara a altura de refrescar o governo mas porque alguns dos seus ministros se rebelaram contra o PM Manuel Valls e o Presidente Hollande. Basicamente, os tais ministros recusaram a disciplina fiscal que a França se viu forçada a impôr aos seus cidadãos.
A remodelação foi ligeira já que muitos dos ministros mais conhecidos mantiveram os seus postos de trabalho, por exemplo: o ministro das finanças Michel Sapin, o ministro dos negócios estrangeiros Laurent Fabius, o ministro da defesa Jean-Yves Le Drian, o ministro do interior Bernard Cazeneuve, a ministra da justiça Christiane Taubira, o ministro da agricultura Stéphane Le Foll, e a ministra da ecologia e energia Minister Ségolène Royal.
As novas aquisições foram: Emmanuel Macron (ministro da economia), Najat Vallaud-Belkacem (ministra da educação), Fleur Pellerin (ministra da cultura), François Rebsamen (Ministro do trabalho), Sylvia Pinel (ministra da habitação e assuntos rurais) e outros (clicar aqui para ver quem).
O grito rebelde - dos ex-ministro da economia (Arnaud Montebourg), ex-ministro da educação (Benoît Hamon) e ex-ministra da cultura (Aurélie Filippetti) - é um perfeito exemplo de mau timing para falar ou mesmo agir.
O excelentíssimo Sr. Montebourg não está vazio de razão quando defende que a França não deveria andar ao toque de caixa da Alemanha; mas certamente concordará que a França sofre de um problema de défice crónico que tem de ser resolvido e de taxas de desemprego altíssimas que precisam de baixar (mas tocar neste assunto requer não só políticas económicas sustentáveis como também a revisão de políticas sociais e da lei do trabalho). O ex-ministro afirma que o governo dever-se-ia concentrar mais em políticas de crescimento, mas quando há um buraco enorme na banheira, como poderemos enchê-la sem primeiro arranjar o buraco?
A birra sem sentido leva-nos a crer que ou o senhor Montebourg queria evitar ser o socialista que tivesse de fazer sérias modificações a um sistema obsoleto consuetudinário do Estado Francês (e.g. 30 horas de trabalho semanais; controle estatal de sectores significantes da economia; um número significante de empresas publico-privadas [que absorvem fundos como uma esponja, perguntem a Portugal], políticas de re-distribuição de riqueza e programas de assistência social) ou ele estará a tentar minar François Hollande afim de ser o próximo líder do Partido Socialista...de olho num futuro desempenho como primeiro ministro francês.
O PM Valls está à direita do partido socialista (significando que reconhece a importância do capitalismo numa sociedade livre ao mesmo tempo que se preocupa com aqueles que não conseguem sobreviver somente com o seu salário, por mais que trabalhem); logo, ainda que o Premier francês lute pelo crescimento económico, ele sabe que o sangramento fiscal tem de ser estancado primeiro.
Ao mesmo tempo que a França restaura a disciplina fiscal, o seu governo terá de tocar num assunto controverso - a reforma da Lei do Trabalho - porque chegou a hora de enfrentar a dura realidade "leis [de trabalho [rígidas] parecem (..) ter prejudicado a competitividade e aumentou o desemprego" (fonte: aqui).
(NB: lemos que entre a população muçulmana francesa, a taxa de desemprego atinge os 40%. Perguntamo-nos se toda essas pessoas estarão a receber subsídios e sim, do que estará a França à espera de seguir o exemplo português e pôr esses desempregados a limpar as ruas e as matas do país, por exemplo? Quem recebe tem de dar em troca e para além disso, deste modo, terão menos tempo disponível para se dedicaram ao radicalismo/terrorismo)
Remodelar um governo é perfeitamente normal, o meu único comentário, no que toca à crise agora finda, é que esta expôs o desconforto geral que se sente em relação à Alemanha. Numa altura em que a Rússia ameaça a União Europeia, através da Ucrânia, será sensato fomentar tensões entre a França e a Alemanha (as raízes de muitos conflitos no Velho Continente e a raison d'être da União Europeia)?
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