Insanidade Política: Usar Velhas Fórmulas & Esperar Resultados Diferentes

Manhã nas Montanhas - Caspar David Friedrich

Em política, é costume ser-se prolixo. Quanta mais verborreia um político emitir melhor porque ele estará a revelar a sua capacidade para não se comprometer com coisa alguma, para prometer pouco, lograr muito e evitar ser concreto.

Esta semana, iremos olhar para algumas das coisas mais frívolas que os políticos internacionais dizem e fazer um breve comentário:

"Os EUA têm assumido responsabilidade pela segurança regional nos últimos 70 anos e agora acham que chegou a hora de se desengajarem. Teremos de fazer tudo sozinhos" --- Um oficial saudita
(Contexto: o POTUS visitou a Arábia Saudita, no dia 28 de Março, para convencer os sauditas de que as negociações com o Irão não iriam comprometer a responsabilidade americana para com a segurança saudita)

Comentário: a Arábia saudita compra armas e produtos bélicos à Alemanha, França, Inglaterra, América e Paquistão (armas nucleares); logo, seria normal pensar que fá-lo para ter capacidade de defender as suas próprias fronteiras (para além de passar armas para os seus proxies, i.e. grupos Jihadistas). Por isso, a afirmação "teremos de fazer tudo sozinhos" a priori parece absurda; mas quando se pensa no Irão...estaria a Arábia Saudita a dizer que agora está pronta para usar o seu arsenal para atacar o Irão sozinha, se necessário fôr?

"Num contexto de uma intensiva viragem à direita, na política japonesa, a intenção por detrás do relaxamento das restrições no que toca à exportação de armas está, de facto, a preocupar o povo" --- Hua Chunying, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Chinês
(Contexto: o Japão está a relaxar o auto-imposta proibição de exportação de armas pela primeira vez em 50 anos)

Comentário: certamente a República Popular da China não estava à espera que os seus vizinhos a assistissem a aumentar a sua capacidade militar sem alguma reacção. Alguém tem de servir como elemento dissuasivo no que toca ao Dragão Vermelho (e já que, infelizmente, a Índia insiste em demonstrar que não se pode contar com ela para desempenhar esse papel; os Nipónicos aceitaram relaxar a sua postura pacifista e preencher o vazio político).

"O Presidente Obama é, sem qualquer dúvida, o presidente mais anti-Israel da história do país" --- John Bolton (e também expressado por muitos outros, incluíndo Ted Cruz)

Comentário: o melhor comentário, neste caso, é uma outra citação «'A política de humilhar publicamente um aliado tradicional não nos trouxe nenhuns amigos novos no mundo árabe e removeu a confiança necessária para encorajar Israel a tomar riscos pela paz' argumenta um colunista conservador proeminente. No seu artigo, ele critica a Administração Americana pela sua política em relação a Israel: 'Seria de pensar que a cruz mais pesada [que o presidente] tivesse de carregar fosse a Estrela de David'. [Estas] são as palavras de William Safire a criticar o Ronald Reagan em 1981.» (clicar aqui para ler mais, em Inglês)

"Passeei de helicóptero pelo território ocupado e pessoalmente senti o quão extraordinário é entender o risco militar que Israel enfrenta todos os dias" --- Chris Christie, Governador de New Jersey
(Contexto: um discurso dado perante a Coligação Republicano-Judaica, no dia 29 de Março)

Comentário: senhoras & senhores, um republicano (cujo partido afirma ser o apoiante #1 de Israel) deslegitimizou o Estado Judaico perante uma audiência de doadores judeus americanos - agora imaginem o que eles não dirão entre eles (ex-Iudaeis).
Um indivíduo que seja pró-Israel (mesmo quando tem de fazer acrobacia com as suas várias alianças políticas) sabe a diferença entre "território ocupado" e "território disputado".

"A NATO concordou que os países-membros deverial investir 2% do seu PIB na Defesa e deveriam cooperar mais para reduzir redundâncias despendiosas. Mas a crise económica atingiu a Europa de forma severa, fazer cortes orçamentais foram necessários e os cortes mais fáceis de fazer, em termos políticos, são os militares." --- Steven Erlanger
(Contexto: devido à crise da Crimeia, a Europa está a re-pensar como procede aos cortes na Defesa)

Comentário: no passado, mesmo antes da crise económica de 2008-2010, a Europa sempre considerou ser politicamente mais fácil cortar no orçamento da defesa (devido à obsessão esquerdista no que toca ao estado social). Contudo, os tempos mudaram e as ameaças de hoje exigem um investimento sólido nas forças armadas - se os políticos parassem de comprar votos com medidas simpáticas e, se dessem ao trabalho de explicar ao eleitorado Europeu a ameaça que paira sobre a nossa cabeça e, a necessidade de investir nas forças militares, as pessoas compreenderiam (porque o que interessa ter educação e saúde barata se se puder ser invadido por uma potência regional ou atacado por Jihadistas a qualquer momento?). A Rússia, apesar de todos os problemas económicos, tem vindo a aumentar a sua capacidade militar enquanto observa as forças armadas europeias a serem gradualmente reduzidas à sua insignificância; e por causa disto, os russos acreditam que não terão oposição se decidirem reunificar o seu velho Império.

Os políticos precisam verdadeiramente de mudar a maneira como falam, como fazem política, porque a velha fórmula já não funciona - logo, porquê insistir no falhanço?

"Insanidade: fazer sempre o mesmo e esperar resultados diferentes" --- Albert Einstein


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