Análise: A Estratégia Revolucionária da Liga Árabe

Dois Homens à beira-mar - Caspar David Friedrich

Revolução...
Há muitas formas de se fazer uma revolução. A mais óbvia é aquela que vimos recentemente na Tunísia, na Líbia, no Egipto e na Ucrânia. Contudo, há outros tipos de revolução que são bem mais subtis ainda que também possam resultar em derramamento de sangue.
No decurso da minha pesquisa na área do terrorismo, do conflito Árabe-Israel e das campanhas de deslegitimação, não pude deixar de reparar na concatenação de eventos desde o fim dos anos 90 em diante, quando uma vera revolução subtilmente despontou.

Em 1997, a Liga Árabe - numa estratégia muito bem pensada - decidiu reavivar (junto da Assembleia Geral da ONU) a Resolução 181 como base do acordo de paz entre Árabes e Israelitas, sabendo que aquela havia sido considerada nula depois da absoluta rejeição árabe do Plano de Partição de 1947. O mais interessante acerca do timing desta medida é que parece estar ligado a outros eventos, que de maneira nenhuma são uma coincidência (já que coincidências não existem): em 1998, as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia sofreram um ataque bombista; em 2000, o USS Cole no Iémen sofreu também um ataque da mesma natureza. Estes incidentes foram atribuídos à Al-Qaeda (AQ) embora, segundo Christopher M. Blanchard (in Al Qaeda: Statements and Evolving Ideology), Bin Laden tenha sempre negado a sua autoria ainda que dizendo que quem quer que tivesse sido o perpetrador, este tinham o seu apoio e partilhava as suas motivações.
Os Estados Unidos até hoje atribuem aqueles ataques à AQ, mas e se os relatórios oficiais são parcialmente enganosos (por razões políticas)?
Nos atendados do 11 de Setembro de 2001, a Al-Qaeda teve como objectivo:

  • Levar a cabo ataques que prejudicassem os EUA como retaliação daquilo que consideravam ser uma agressão contra o mundo islâmico ((i.e. implementação da estratégia de intimidação: como não houve alteração na sua política vis-a-vis ás nações islâmicas, a AQ atacou o país)
  • Indicar e apoiar a "emergência de uma nova liderança virtuosa" dedicada à oposição da "coligação Sionista-Anglo-Saxónica-Protestante" 
  • "Fazer com que [os EUA] saissem do seu buraco" (i.e. implementação da estratégia de provocação e de exaustão: levar a América a retaliar e, deste modo, a exaurir o seu poder económico, político e militar). 

Desde então, a liderança da AQ serviu de inspiração a diversas causas islâmicas e, em Junho de 2005, Ayman Al-Zawahiri explanou os três alicerces da AQ (governo baseado na lei da Sharia; libertação das nações islâmicas e libertação do povo com base na rejeição de governantes que violam as leis e princípios islâmicos) e ainda que muitas organizações muçulmanas se distanciem (ou se tenham distanciado) das causas salafisto-radicais, todas elas se regem pela mesma doutrina do Grande Cão-Pequeno Cão, e desejam o mesmo: exaurir dê por onde der os EUA, a Europa e Israel (a sinédoque dos Judeus) a ponto de fazer com que os dois primeiros sangrem economicamente [afim de aceitarem o massivo investimento Árabe, forçá-los a participar em guerras que resultarão na migração muçulmana em massa para dentro das suas fronteiras (i.e. a estratégia dos refugiados)]; e a ponto de destruir o terceiro.

Dê por onde der...
A Liga Árabe, depois de 1997, decidiu usar a ONU como plataforma através da qual daria início à guerra de exaustão política.
A Al-Qaeda, os seus afiliados e outros grupos terroristas islâmicos, agiram como o braço armado oficioso da Liga Árabe e são quem trava a guerra de exaustão militar.
O movimento BDS (nascido em Julho de 2005, um mês depois de Al-Zawahiri ter estabelecido os três pilares da AQ) e os seu vários associados ficaram encarregues da guerra de exaustão cultural e económica.

Tiro o meu chapéu à Liga Árabe, liderada pelos Sauditas, pelo modo como conduziu uma das mais bem organizadas revoluções que a terra já teve o prazer de testemunhar. Foi esperta e jogou bem. Mas...

Para cada revolução há uma contra-revolução.



Comentários

  1. Se assim foi de fato foi bem pensado e mais uma razão para corrermos com eles daqui para fora. Boa análise!

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    1. Olá Anónimo :D!

      Obrigada pelo seu comentário :D.

      Um abraço

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  2. A Europa é um bicho de hábitos, por exemplo: todos sabemos que a China fabrica produtos de baixa qualidade e apropria-se da propriedade intelectual sem pejo; para além deste facto, não entendo porquê que a crise da dívida soberana dos países europeus, é justificação suficiente para que se ofereçam indiscriminadamente aos chineses vistos de permanência e se aceite o investimento chinês a torto e a direito.
    Pergunta: que pressões sofreremos no futuro?

    Quando a Europa desesperadamente consumia o pétróleo dos árabes, as nações europeias sem objecções aceitaram a injecção dos petrodollares, em todos os sectores das suas economias, e agora estamos todos a "comer a farinha do comissáriado" porque a Liga Árabe pode ditar as regras do jogo: hum...

    Bom trabalho, boss!

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    1. Olá Lenny :D!

      Boa pergunta. Olha, para começar, os chineses irão fazer barulho sempre que se receber o Dalai Lama (que visitou os EUA, mas não ouvi nada acerca da sua visita à Europa).

      É isso mesmo. E com os petrodólares veio a imigração em massa...e agora, olha...

      Obrigada, minha linda. E obrigada pelo teu super comentário :D.

      Beijinhos

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  3. Estamos a travar as cruzadas de novo, Max! Que a bandeira de Cristo se sobreponha à do Islão, hoje e sempre: amén!

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    1. Olá Maria Joaquina :D!

      Amén.

      Obrigada pelo seu comentário, minha cara :D.

      Um abraço

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  4. Caramba! Só me pergunto quando começa a contra-revolução, porque me quero juntar a ela! :-)
    Excelente trabalho, Max.

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    1. Olá Carla :D!

      LOL boa! Depois digo-te ;).

      Obrigada pela generosidade e comentário :D.

      Um abraço

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