Neo-Guerra Fria: Reposicionamento vs Revivalismo

Jaguar Ataca Um Cavaleiro - Eugène Delacroix
Por volta dos últimos dois anos, temos vindo a testemunhar a guerra fria da nova era; porque a Rússia tem saudades de ser o centro das atenções políticas.

A Rússia é um país complexo que (segundo o Stratfor in Russia After Putin: Inherent Leadership Struggles) precisa que um líder muito forte para manter a sua estabilidade, senão corre o risco de se desmoronar; já que historicamente só quando "teve um líder autocrático que montou um sistema onde as facções, que competem entre si, são acomodadas é que a Rússia gozou de prosperidade e estabilidade." Por ora, o líder autocrático é Vladimir Putin.

Os autocratas geralmente são megalomaníacos e imperialistas - a condição psicopatológica e a política externa não são um problema, maquiavelicamente falando; contudo, distúrbios psicóticos (tais como ilusão e paranóia) podem ser.
A Rússia está obcecada pela ideia de que os EUA (o símbolo do poder ocidental) se recusam a tratar outros países como seus iguais e que buscam hegemonia absoluta para si - o que hoje não é totalmente verdade; mas infelizmente a ilusão impede que a Rússia o admita. No fundo, a Rússia gostaria de ser como os EUA embora sem a liberdade, os valores democráticos e as garantias que os EUA (i.e. o Ocidente) concedem aos seus cidadãos.
E como não pode ser como o seu némesis, não pode vencê-lo e recusa-se a juntar-se a ele; a Rússia decidiu que a melhor maneira de contribuir para a política internacional é recriar um ambiente similar ao da guerra fria, tentar re-alinhar o mundo e vender Caos a quem der mais.

A América está a mudar de estratégia. Para o político e analista obsoletos, a mudança da política externa americana é vista como sinal de fraqueza, de perda gradual de poder, de incompetência política; mas para o político e analista futuristas, a mudança americana é vista como uma táctica de reposicionamento. Esta estratégia visa ganhos a longo prazo, não a curto prazo.
A Rússia foi buscar a sua estratégia aos arquivos. Para o político & analista obsoletos, o revivalismo russo é visto como um sinal de renascimento, de recuperação gradual de poder, de inteligência política; mas para o político & analista futuristas, o revivalismo russo pode ser visto como o canto do cisne. A estratégia russa visa ganhos a curto prazo, não aqueles a longo prazo.

A Rússia vende a imagem de que segue o princípio da inviolabilidade da soberania nacional; que dá total prioridade à diplomacia na resolução de conflitos, ao mesmo tempo de rejeita o uso de força desproporcional; que busca a universalidade das normas de conduta internacional, ao mesmo tempo que rejeita dois pesos e duas medidas e repudia o direito à "ingerência humanitária"; mas tudo isto é nada mais senão uma maneira da Rússia camuflar as suas verdadeiras intenções: a conquista do mundo.
Afim de depôr os EUA, a Rússia precisa de amigos. Para este efeito, precisará de criar laços com países que se sintam negligenciados pelo Ocidente e, tal qual Iago, irá tocar a melodia da intriga até que esses países partilhem os seus sentimentos em relação aos EUA. Mas o que essas nações não vêem é que a Rússia/Iago irá precisar de utilizar o seu descontentamento contra eles quando fôr conveniente; porque há que ver que:

A. O princípio da inviolabilidade da soberania nacional é igual a: impedirei que estes ocidentais, obcecados pela democracia, se metam nos teus assuntos; para que no futuro tu me apoies quando eles se meterem nos meus.
B. Dar prioridade à diplomacia na resolução de conflitos é igual a: não permitirei que a NATO nem uma coligação militar, liderada pelos EUA, ataquem o teu país; para que no futuro quando o meu povo tentar depôr o meu regime - e pedir ajuda aos americanos - tu não o permitas também. Prefiro a diplomacia mas até chegarmos a um acordo, eu gostaria de te oferecer a oportunidade única de me comprares algumas armas.
C. A rejeição do uso de força desproporcional equivale a: se o país que ataca os meus amigos usa armas americanas, britânicas, francesas ou israelitas, ele faz uso de força desproporcional; se usa armas russas, então estará a defender-se dos terroristas, neo-colonialistas, imperialistas e da ocupação.
D. A universalidade das normas de conduta internacional significa: proteger-me.
E. A rejeição de dois pesos e duas medidas significa: hipocrisia e contradição russas (porque os seu princípios e interesses nacionais exigem dois pesos e duas medidas).
F. A repudiação do direito à "ingerência humanitária" significa: serei um obstáculo para qualquer tipo de ingerência humanitária (que é outro nome para intervenção militar que forçará uma mudança de regime) no teu país; para que quando chegar a minha vez, tu impeças os EUA de tentar acabar com a minha autocracia e conduzir os russos à democracia e liberdade.

Parece ser bem simples e directo, a curto-prazo. Contudo, o que acontecerá a longo-prazo, após o reposicionamento americano, o pragmatismo chinês e depois dos "amigos" mudarem de ideias? A estratégia russa obsoleta está condenada a falhar - marcando, logo, o fim da Neo-Guerra Fria.

Comentários

  1. Os russos sempre foram uns mentirosos, Deus me perdoe por dizer mas é a verdade! Não me esqueça jamais o que eles fizeram em áfrica, Max.

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    1. Olá Maria Joaquina :D!

      Bem, nem sempre...quando eles se resolvem a cooperar em termos de segurança, até que têm tido razão. Compreendo-a bem nesses departamento.

      Maria, muito obrigada pelo seu comentário :D.

      Um abraço

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