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"O terrorista de um homem é o combatente da liberdade de outro"
Quão verdadeiro será este aforismo?
Como todos sabemos, ainda não existe uma definição universal de terrorismo; contudo as definições existentes, até agora, concordam universalmente num facto: os actos terroristas atacam primária e propositadamente os civis, e objectos civis, para atingir fins políticos.
Existe ainda uma outra forma de violência política que muitas vezes é designada como terrorismo (por motivos políticos óbvios): uma que tem como alvo principal objectivos militares, e funcionários das forças de segurança, para atingir objectivos políticos. Esta forma de agressão política chama-se ataque de guerrilha.
Tendo o acima descrito em mente, deveria ser fácil concluir que se um elemento politicamente violento tem como alvo principal civis, e objectos civis, ele deva ser definido como terrorista (independentemente das motivações e categorização do acto terrorista); se um indivíduo politicamente violento tem como alvo fundamental funcionários das forças de segurança, objectivos militares e líderes políticos (com poder de decisão), ele pode - e deve ser - classificado como combatente de guerrilha.
(NB: ainda que um combatente de guerrilha tenha em mente atacar somente forças militares e de segurança somente, ele poderá inadvertidamente atingir civis)
O rebelde, na busca de atingir seu objectivo político, só tem de se colocar uma questão: quero lutar pela liberdade ou quero assassinar pessoas em série?
A selecção do alvo é exactamente o que distingue um terrorista de um combatente de guerrilha, segundo Max Abrahms (in Why Terrorism Does Not Work).
A selecção do alvo é exactamente o que distingue um terrorista de um combatente de guerrilha, segundo Max Abrahms (in Why Terrorism Does Not Work).
Combatentes de guerrilha comportam-se como soldados, e como tal lutam de acordo com as convenções de guerra; querendo isto dizer que farão prisioneiros (trocá-los-ão) e respeitarão os direitos dos não-combatentes (i.e. civis).
Os terroristas podem até acreditar que sejam soldados, especialmente quando inseridos num grupo organizado com diferentes níveis de comando (similares a um sistema hierárquico militar); não obstante, não lutam segundo as convenções de guerra (o que, segundo eles, é uma vantagem em relação a Actores Estatais que se vêem obrigados a seguir as leis nacionais e internacionais); significando isto que quando fazem prisioneiros torturá-los-ão e, muitas das vezes, executá-los-ão; para além do mais, os direitos dos civis não serão, de maneira alguma, respeitados.
Um combatente da liberdade é geralmente definido como "Um indivíduo envolvido numa rebelião armada ou resistência contra um governo opressivo" (traduzido desta fonte) ou "Uma pessoa envolvida num movimento de resistência contra aquilo que crê ser um governo opressivo e ilegítimo" (fonte: Wikipedia)
É seguro partir do princípio que um combatente da liberdade procure libertar os seus con-cidadãos da opressão e/ou repressão por parte do estado; e que o seu principal problema seja unicamente o governo; logo, a decisão mais natural a ser tomada será a de levar a cabo uma guerra de guerrilha e ter como alvo principal objectivos militares, as forças de segurança e líderes políticos com poder de decisão. Contudo, quando um combatente considera o governo inimigo mas propositadamente ataca civis, ele age como seu opressor, supressor e assassino em massa (i.e. tudo aquilo que afirma lutar contra); e logo, ele não é um combatente da liberdade mas sim um terrorista.
Um combatente da liberdade (que tenha combatido forças militares e de segurança, com o mínimo de baixas civis) terá a satisfação, no fim de tudo, de saber que lutou pelo seu país, pela sua gente, pela liberdade (e.g. os combatentes da FRELIMO durante a Guerra da Independência; e os combatentes da RENAMO durante a Guerra Civil, em Moçambique).
Um terrorista poderá, eventualmente, parar de assassinar gente indiscriminadamente; mas, a verdade inconveniente é que, ele jamais deixará de ser um terrorista porque os seus feitos não podem ser obliterados, e o sangue de centenas ou milhares (se não mais) de pessoas inocentes, que ele matou, estarão sobre si para sempre (e.g. Yasser Arafat).
Por isso, eu concordo com o Prof. Boaz Ganor: o adágio "O terrorista de um homem é o combatente da liberdade de outro" é falso.
Mas eu diria que feito vero simplesmente para justificar jogadas e agendas políticas, que francamente são um obstáculo no caminho que conduz a uma definição consensual de Terrorismo.
Não é certo colocar os bravos soldados da Frelimo e mesmo da Renamo no mesmo patamar que Yasser Arafat porque os métodos eram diferentes. A Frelimo e a Renamo nunca tiveram como alvo principal civis inocentes, ainda que ás vezes houvesse acidentes claro.
ResponderEliminarFazendo bem as contas Arafat optou por matar directamente ou indirectamente civis inocentes, era um assassino cobarde, um terrorista, ponto final parágrafo. Mas o mais interessante é que a Europa acho por bem dar-lhe um prémio, um Nobel da Paz...a um assassino!
Olá Anónimo :D!
EliminarTem razão, mas infelizmente é o que a maioria faz - políticos, académicos, etc
É verdade...faz-nos pensar, não é?
Anónimo, muito obrigada pelo seu comentário :D.
Um abraço
Max, compreendo a indignação do comentador anónimo: é revoltante chamar o Arafat de combatente da liberdade ou mesmo um resistente. Ele foi um grande bandido, um terrorista, um corrupto que meteu o dinheiro da ajuda internacional ao bolso! Essa é que a verdade!
ResponderEliminarOlá Carla :D!
EliminarMeu Deus...isso tudo? lol
Humor à parte, a Carla tem toda a razão.
Muito obrigada pelo seu comentário :D.
Um abraço
No fim de tudo o que interessa quem é terrorista ou quem é combatente? Os dois matam pessoas, sejam civis ou militares que também são gente e têm famílias, Max! Eu compreendo o que nos tentou transmitir e se calhar até tem razão; já que não é a minha área; mas para mim pessoalmente...é tudo a mesma coisa! Deus nos valha!
ResponderEliminarOlá Maria Joaquina :D!
EliminarCompreendo bem o seu ponto de vista. É importante ter a perspectiva de civis; e claro, para eles o efeito é o mesmo independentemente de rótulos. Muito bem.
Maria J, obrigada por ter levantado esta questão :D.
Um abraço