Comentário: Discurso do Presidente Obama na Assembleia Geral da ONU

Presidente Obama perante a Assembleia Geral da ONU (Fonte: Google Images)

Na semana passada, o presidente Obama falou perante a Assembleia Geral da ONU (UNGA). A principal mensagem do seu discurso é que os EUA colocam a diplomacia em primeiro lugar, contudo se virem que ela falha a América não hesitará em recorrer à força militar (sob que forma fôr). Para além disso, o Presidente dos EUA (POTUS) enviou algumas mensagens específicas sobre as quais eu gostaria de comentar:

"Agora, deverá existir uma Resolução do Conselho de Segurança forte para verificar se o regime de Assad está a cumprir com as suas obrigações, e terá de haver consequências em caso de incumprimento. Se não conseguirmos sequer concordar nisto, então mostrar-se-á que a ONU é incapaz de fazer cumprir o mais básico das leis internacionais."

Comentário: o presidente Obama praticamente questionou a relevância da ONU, hoje em dia - porque será que parece desviar-se aos poucos do propósito original? Esta afirmação serve também como um aviso para Bashar al-Assad: se a ONU não agir, os EUA agirão.

"Não estamos mais na Guerra Fria. Não há mais um Grande Jogo para ser vencido, nem a América tem qualquer interesse na Síria, a não ser o bem-estar do seu povo, a estabilidade dos seus vizinhos, a eliminação das armas químicas e, assegurar que não se torna um porto seguro para terroristas."

Comentário: uma mensagem directa para a Rússia: os EUA não constituem uma ameaça directa aos interesses russos no país; contudo, não permitirá que a Síria viole a lei e acordos internacionais, gaseando o seu próprio povo. Se a Rússia não se importa, os EUA importam-se. O POTUS também relembra ao presidente Putin que se a Síria se tornar um albergue para terroristas, a segurança nacional russa também estará sob ameaça.

Em relação à política americana para a MENA:
A. "(..) força militar para segurar os interesses principais na região. (...) Iremos confrontar a agressão externa contra os nossos aliados e associados, tal como fizemos na Guerra do Golfo."

Comentário: mensagem dupla. 1- a Síria e o Líbano (através do Hezbollah) não devem tentar envolver Israel nos seus problemas internos. Fazê-lo irá resultar no apoio americano a Israel (de maneiras inesperadas). 2- o Irão não deve tentar interferir com o fluxo energético livre no estreito de Hormuz; não deve tornar-se uma ameaça directa a Israel (ainda que através de proxies) e deve ter cuidado no que toca às nações do Golfo, aquando das altercações Sunis Vs Xiitas - senão, deverá contar com força militar.

B. "Iremos desmantelar redes terroristas que ameacem o nosso povo (..) iremos trabalhar para lidar com as raízes do terrorismo. Mas quando for necessário para defender os EUA de ataques terroristas, tomaremos medidas directas. (...) e finalmente, não iremos tolerar o desenvolvimento ou o uso de armas de destruição maciça (..) rejeitamos o desenvolvimento de armas nucleares que possam espoletar, na região, uma corrida a armas nucleares, (..) Afinal de contas, são a escolhas do governo Iraniano que levaram às sanções duras que estão presentemente em vigor."

Comentário: outra mensagem para o Irão, apesar da recente re-aproximação. O Irão deveria aproveitar esta oportunidade para re-avaliar a sua tendência para patrocinar terrorismo, já que todas as opções permanecem na mesa (especialmente se a Pérsia insistir em querer desenvolver armas nucleares: de forma aberta ou encoberta). As sanções impostas ao Irão são uma directa consequência do seu comportamento ambíguo. A bola esta no seu lado do campo: como jogarão...connosco ou contra nós?

"A curto prazo, os esforços diplomáticos da América ir-se-ão focar em dois assuntos: a procura de armas nucleares do Irão e, o conflito Árabe-Israelita. Ainda que estes assuntos não sejam a causa de todos os problemas da região"
"Os estados Árabes - e todos os que apoiaram os Palestinianos - têm de reconhecer que a estabilidade só será uma realidade através da solução de dois estados com um Israel seguro."

Comentário: o uso da expressão "Árabe-Israelita" é de uma importância enorme porque, pela primeira vez, o POTUS reconheceu perante todo o mundo que o problema não é o "conflito Palestiniano-Israelita" mas sim um problema Árabe-Israelita. Os Árabes não reconhecem Israel como o Estado Judaico (porque andaram a enganar o seu povo e a re-escrever a história durante décadas) e, como se não bastasse, patrocinam guerras multidimensionais contra Israel - impedindo, assim, qualquer progresso em direcção à paz. O POTUS também quis falar directamente à Liga Árabe...e este blog já está atrás dessa mensagem improferível.

"Mas os filhos de Israel têm o direito de viver num mundo onde a assembleia das nações, neste orgão, reconheçam totalmente o seu país, e rejeitem inequivocamente aqueles que lançam roquetes para as suas casas e incitam outros a odiá-los." 

Comentário: uma afirmação histórica. Pela primeira vez, o presidente dos Estados Unidos aborda o preconceito, que a comunidade internacional tem, contra Israel. Tem de ser dito, contudo, que a Embaixadora para a ONU, Samantha Power, já tinha acusado a UN de "preconceito e ataques inaceitáveis contra o estado de Israel."; mas ouvi-lo de um presidente é digno de nota. A Autoridade da Palestina incita outros a odiar Judeus: o presidente sabe-o. Espero que a Direita Judaica, e outros elementos conservadores, sejam honestos o suficiente para admitir este feito. 

"Mas a soberania não pode ser um escudo para tiranos cometerem homicídio qualificado, ou uma desculpa para a comunidade internacional virar a cara à carnificina."

Comentário: uma mensagem directa para a Rússia, a China, o Irão e outros que apreciam usar a soberania e "a não ingerência nos assuntos internos" como desculpa para forjar relacionamentos com países que cometem atrocidades contra os seus cidadãos; e esperam que o resto do mundo assista e se cale. 

"(...) deixando para trás velhas batalhas ideológicas do passado. É o que está a acontecer na Ásia e em África; na Europa e nas Américas. Esse é o futuro que as pessoas do Médio Oriente e Norte de África (MENA) merecem - um futuro em que se possam focar na oportunidade em vez de se serão mortos ou reprimidos por causa de quem são ou no que acreditam."

Comentário: in summa, MENA está a ficar para trás no que toca ao desenvolvimento humano, societal e económico - por todas as razões que se tornam demasiado óbvias para serem ignoradas (i.e. teocracia, Islão político e Jihad Global).

Muitos discordarão, contudo este discurso foi um dos melhores discursos da UNGA que o presidente Obama deu até hoje: foi directo, forte e anunciou uma nova postura americana perante o mundo. 


(Tradução dos excertos: Max Coutinho)

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