Comentário: Discurso do PM Netanyahu na Assembleia Geral da ONU

PM Netanyahu addressing the UNGA (source: here) 
No dia 1 de Outubro, o PM Netanyahu fez um discurso perante a Assembleia Geral das Nações Unidas (UNGA), que se focou principalmente no Irão.
O Primeiro Ministro relembrou ao povo iraniano que outrora a Pérsia ajudou o povo Judaico a voltar para Israel e reconstruir o Templo Sagrado, por decreto (i.e. o fanatismo dos seus líderes revolucionários está a minar o que poderia ainda ser uma relação saudável entre os dois países).
O PM israelita também partilhou uma história pessoal comovente (ocorrida na Europa) que, na minha opinião, serviu dois propósitos: 1- lembrar a Am Yisrael que Israel é a sua eterna casa; 2- dizer à Europa que nenhum dos seus esforços para corroer Israel e o povo Judaico irão ser bem sucedidos (não foram no passado, e não serão no futuro).

Mas outras mensagens são particularmente merecedoras da nossa atenção:

"O Rohani renunciou, cito 'às tentativas de mudar o equilibrio regional através de proxies.' Contudo, o Irão desestabilizou activamente o Líbano, o Yemén, o Bahrain e muitos outros países do Médio Oriente." 

Comentário: o mundo precisa de ser constantemente lembrado que o Irão comanda o Hezbollah, um grupo terrorista que não só desestabiliza o Líbano como também qualquer outro país onde opera (países Africanos, Brasil, UE etc). E o Irão, claro, tem um interesse particular em desestabilizar o Médio Oriente, na sua batalha para depôr regimes Sunitas.

"E o Irão está agora a construir ICBMs que os EUA dizem que poderia chegar a esta cidade em três ou quatro anos. (...) O Irão não está a desenvolver um programa nuclear pacífico; o Irão está a desenvolver armas nucleares."

Comentário: o PM faz lembrar os EUA de que precisa de ter cuidado, e de estar com um pé atrás, com esta re-aproximação. O perigo ainda não passou; e os EUA poderão ser um alvo se o Irão não fôr travado a tempo. O comportamento iraniano, as suas constantes campanhas de desinformação e desvio de atenções, servem de suporte ao aviso do líder israelita.

"Mas o Irão enfrenta um problema maior, e esse problema pode ser resumido numa só palavra: sanções. (...) E essa política hoje está a dar frutos. Graças aos esforços de muitos países, aqui representados, e sob a liderança dos EUA, sanções pesadas deram uma enorme dentada na economia iraniana."

Comentário: o PM Netanyahu parece ter-se contradito porque antes havia dito "o Irão está a desenvolver armas nucleares" e aqui diz que as sanções estão a dar resultados; mas se estivessem a dar resultados o programa de armas nucleares já teria parado durante as sanções, o que não é o caso. Logo, se o chefe do governo israelita não cometeu um erro, devemos partir do princípio de que estivesse a enviar uma mensagem subliminar (i.e. as sanções, por si só, não irão impedir o Irão de atingir os seus fins - ainda que o cidadão comum iraniano esteja a sentir os efeitos negativos destas medidas punitivas). Num aparte, gostaria de apontar para um detalhe interessante: o Irão afirma que chegou ao seu limite financeiro devido às sanções; contudo, o Irão ainda possui meios para pagar $1 milhão de dólares americanos a um cidadão Belga e a um Haredi Anti-Zionismo para espiar em Israel. Parece-nos que o dinheiro abunde por aqueles lados (e talvez devamos perguntar ao Brasil como).

"[Rohani] quer definitivamente que as sanções sejam removidas (..) Mas, como moeda de troca, ele não quer desistir do programa nuclear iraniano - do programa de armas nucleares iraniano." 

Comentário: segundo as palavras do ministro dos negócios estrangeiros iraniano, Javad Zarif, "O irão está preparado para começar a negociar...Estamos dispostos a negociar. Claro que os Estados Unidos precisam de fazer certas coisas muito rapidamente," e "Uma [condição] é acabar com as suas sanções ilegais contra o Irão que estão a atingir directamente o iraniano comum," - o Irão considera as sanções ilegais; ou seja, não está preparado para reconhecer as suas responsabilidades no que toca ao programa nuclear dúbio. Se clicarem aqui, poderão ler o que mais o ministro Zarif disse acerca da indisponibilidade iraniana em abandonar o programa nuclear. Para além disso, por mais simpático que o Presidente Rohani seja agora, devemos recordar que ele não possui poder de decisão algum, no que toca ao programa nuclear, porque esse poder está nas mãos do Supremo Líder, o Ayatollah Khamenei.

"[Rohani] disse no seu livro, publicado em 2011, acerca do papel que desempenhou enquanto negociador-chefe do programa nuclear iraniano, e passo a citar: 'Ao mesmo tempo que falávamos com os Europeus em Teerão, instalávamos o equipamente em Isfahan. (..)"

Comentário: o Irão é o mestre do engano; sabemo-lo todos. E irá ser interessante ver como o Al Capone Político irá lidar com o Lobo em Pele de Cordeiro.

"Israel não irá permitir que o Irão adquira armas nucleares. Se Israel fôr forçado a defender-se sozinho, Israel fá-lo-á sozinho. Contudo, em defendendo-se sozinho, Israel saberá que iremos defender muitos, muitos outros."

Comentário: esta passagem complementa as palavras proferidas, por Barack Obama, há algumas semanas atrás "E o nosso aliado, Israel, pode defender-se sozinho com uma força esmagadora, assim como com o apoio sólido dos EUA." - o PM Netanyahu & o Presidente Obama parecem estar em sintonia. O Bibi também lembra às nações do Golfo arábico que se Israel fôr forçado a agir, estar-lhes-á a fazer também um enorme favor.

"Os perigos de um Irão armado nuclearmente e a emergência de outras ameaças na nossa região levaram muitos vizinhos Árabes a reconhecer, finalmente, que Israel não é o seu inimigo (...) Israel dá as boas-vindas às relações com o mundo Árabe."

Comentário: a conjuntura futura irá eventualmente empurrar as nações árabes a entrar numa espécie de acordo com Israel. Fazê-lo irá beneficiar todas as partes. Mais uma vez, esta passagem complementa as palavras do Pres. Obama, perante a UNGA, "(...) laços de trocas comerciais e de comércio entre israelitas e árabes poderiam ser um motor de crescimento e de oportunidade numa altura em que demasiados jovens, na região, estão desesperados sem trabalho". Tais laços seriam os alicerces de facto para a paz no Médio Oriente.

"Queremos paz baseada na segurança e reconhecimento mútuo, no qual um estado desmilitarizado Palestiniano reconhece o Estado Judaico de Israel. Permaneço empenhado em conseguir uma reconciliação histórica e a construir um futuro melhor tanto para os Israelitas como para os palestinianos."

Comentário: não é pedir muito, se os palestinianos realmente querem a paz. O PM Netanyahu está sob imensa pressão, por parte de vários grupos, para anular os Acordos de Oslo. Esta passagem mostra a sua disponibilidade para fazer compromissos em nome da paz.

"Mas até agora os líderes palestinianos não têm estado preparados para fazer as concessões dolorosas que devem afim de se acabar com o conflito."

Comentário: eu compreendo a posição palestiniana, porque afinal a Autoridade Palestiniana (AP) tem como raíz uma organização terrorista (cujos membros ainda influenciam o debate) e o Hamas está a esmagar a organização reconhecida, pelos acordos, como sendo a única representante do povo palestiniano. Mas se a AP fôr incapaz de controlar o seu meio ambiente, Israel não terá outra opção...

"O povo de Israel voltou para casa para nunca mais dela ser arrancado."

"ולא ינתשו עוד, מעל אדמתם אשר נתתי להם"
(עמוס 9:טו)


(Traduções dos excertos do discurso: Max Coutinho)

Comentários

  1. Escusado será dizer que concordo com o Bibi.

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    1. Olá Carla :D!

      Muito obrigada pelo seu comentário :D.

      Um abraço

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  2. Max, muitos parabéns por esta análise! Não sei onde você vai buscar tanto talento para este tipo de artigo. Que Deus continue a abençoá-la, minha querida!

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    1. Olá Maria Joaquina :D!

      Obrigada, caríssima. Faz parte do meu trabalho :D.

      Maria Joaquina, muito obrigada pelo seu comentário e pela benção. Deus a abençoe também :D.

      Um abraço

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