Política & Venda Armas: Nada é Abjecto

Espingarda de Assalto M16 (Fonte: Google Images)
"Na política nada é desprezível" - Benjamin Disraeli

Os governos produzem armamento para o caso de terem que defender a sua nação contra uma qualquer ameaça. Em tempos de paz (ou de relativa paz), e devido à produção contínua, eles decidem que podem muito bem vender alguns dos seus activos militares (em excesso) e, deste modo, ajudar a financiar as despesas do estado. Quando convém ser transparente, os estados utilizam o mercado legal de armas; mas quando precisam de apoiar aliados ou detonar adversários (mantendo margem para uma negação plausível), utilizarão ou o mercado ilícito ou o mercado negro.
Mas olhemos rapidamente para o comportamento de quatro vendedores de armas: Rússia, China, Alemanha e os EUA.

A política para África, da União Soviética, espatifou os países em que a união tocou (distribuiu armas pelo continente em troca de sugar os seus recursos naturais); e agora a Federação Russa, temendo ser marginalizada em África, está de olhos postos no continente, mais uma vez, com a intenção de distribuir "armas e recursos para e a partir de África. Tais esforços russos servem para desestabilizar os estados africanos pró-ocidente, fazer dinheiro, ganhar influência e ter acesso a recursos, e por aí a fora." (Steven Blank, Jamestown)
In summa: a Rússia quer repetir a história.

A China, um dos países menos transparentes no que toca à venda de armas (já que se recusa a relatar à ONU até que ponto vai o seu comércio de pequeno armamento), exerce a política de vender armas de assalto e munições baratas, a África, em troca de recursos naturais. Aquelas geralmente caem nas mãos de "milícias, exércitos rebeldes ou de regimes repressivos que alimentam guerras e abusos dos direitos humanos" (Erin Conway-Smith, Global Post). Presentemente, sabemos que a China controla 25% do mercado de armas africano, mas a sua falta de transparência impede-nos de termos um valor preciso, em dólares.

A Alemanha, um país que (segundo o Spiegel Online) costumava ser cuidadoso em relação a quem vendia as suas armas, agora está mais que disposto a vendê-las a quem quer que possa pagar por elas, mesmo que isso signifique "fazer transacções com regimes questionáveis" gerando milhares de milhões de euros à chanceler Merkel. Contudo, a Alemanha é gentil o suficiente para informar aos seus cidadãos, e ao mundo, de que a sua política externa permanece fiel à democracia e aos direitos humanos - que alívio. Mas mesmo que não permanecesse fiel àqueles valores, a Alemanha justificar-se-ia com o argumento de que a indústria de armamento produz, pelo menos, 80,000 postos de trabalho.

Os EUA, diz-se por aí, estão prestes a completar um acordo de armas com o Iraque (um país, que de momento, está super instável) no valor de 2,7 mil milhões de dólares; contudo, o pentágono afirma que este acordo justifica-se em termos políticos: cortar o fornecimento de armas iranianas à Síria, através do espaço aéreo iraquiano. A América também fez um negócio de armas, no valor de 10 mil milhões de dólares, com Israel, Arábia Saudita e os EAU para se certificar de que os seus aliados permanecem calmos no que toca às suas políticas futuras em relação ao Irão.
Isto é o que eu chamo de misturar negócios (política externa) com prazer (ganhar dinheiro).

O governo angolano é um dos muitos governos questionáveis que compram armas aos países acima mencionados. Angola convenceu o ocidente de que poderia contribuir para "a luta internacional contra terroristas, traficantes de droga e crime organizado" já que possui "um dos maiores e mais bem treinados exércitos de África." (World Policy Institute, Relatório 2005) - Angola até participou numa missão de paz internacional, na Guiné Bissau (diz-se até que a sua missão militar ajuda a manter uma estabilidade relativa no país), até ao ano passado. Este ano, contudo, alguns acusam Angola de providenciar "equipamento militar" àqueles que tentaram fazer um golpe de estado, na Guiné, em Abril passado.
A Guiné Bissau é um problema (até o senador McCain, na sua visita ao Mali, em Abril, discutiu este assunto - o que suspeitamos que tenha levado à prisão do contra-almirante José Americo Bubo Na Tchuto, e à sua consequente transferência para os EUA) e talvez vender armas a países como Angola ajude a resolver certos tipos de problemas?

A política é acerca de muitas coisas mas principalmente acerca de fazer escolhas difíceis; e quando se trata de vender ou transferir armas para certos países a escolha torna-se ainda mais difícil. Questão: vale mesmo a pena?

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