Hassan Rouhani: Ovelha ou Lobo?

Bandeira Iraniana
Hassan Rouhani é o novo presidente Iraniano.
Este blogue gostaria de lhe desejar um mandato produtivo e que ele sirva verdadeiramente os interesses do Povo Iraniano...

A media Ocidental rotulou o presidente-eleito como moderado - como se os ocidentais precisassem que lhes assegurassem que o Irão consegue produzir políticos "moderados". Contudo há detalhes que não devemos ignorar: o Sr. Rouhani é um clérigo que participou na Revolução Islâmica Iraniana, em 1979; que esteve profundamente ligado ao falecido Ayatollah Khomeini (o fundador da República Islâmica) e que foi o principal negociador nuclear de 2003 a 2005 (quando confessou que o Irão havia andado a enganar o Ocidente: "Enquanto falávamos com os europeus, em Teerão, [sobre a suspensão do programa de enriquecimento] nós estávamos a instalar o equipamento em partes do edíficio em Isfahan"). Este background contradiz um tanto ou quanto a imagem de moderado.

O Irão é, presentemente, uma teocracia com características democráticas. Os potenciais candidatos às presidenciais têm de ser aprovados pelo Conselho dos Guardiães (que é o mesmo que dizer que os candidatos são analisados e seleccionados de acordo com os interesses do Ayatollah); após muita deliberação conservadora, o eleitorado iraniano escolherá de entre os candidatos investigados e elegerá um presidente; ainda que sabendo que o Líder Supremo terá a última palavra em tudo, especialmente na política externa e no programa nuclear (tal como ele disse "Um arsenal nuclear seria, para o Irão, uma arma dissuasiva nas mãos dos soldados de Deus").

O presidente-eleito Rouhani fez alguns comentários interessantes:
1. "Vocês deveriam saber que o assunto nuclear e as sanções serão resolvidos, e a prosperidade económica será gerada."
2. "Eu disse que é bom que as centrifugadoras operem, mas também é importante que o país opere igualmente e que as rodas da indústria girem."
3. "O que sinceramente desejo é que a moderação retorne ao país. Este é o meu único desejo. O extremismo aflige-me. Sofremos golpes tremendos por causa do extremismo."
4. "As aflições sociais têm aumentado nos últimos anos. Acredito que a única forma de resolver estes problemas seja a descentralização. Os nossos problemas não serão resolvidos enquanto o governo estiver à frente dos nossos assuntos culturais."

A priori, estas palavras parecem oferecer algum conforto e certezas de que o Irão esteja a entrar numa fase de mudança. Contudo, à medida que o presidente-eleito vai falando em público, aos poucos, a sua retórica transforma-se em avisos subtis:

1."As nações que pedem democracia e diálogo aberto deveriam falar com o povo iraniano com respeito e reconhecer os direitos da república Islâmica."
2. "As sanções são injustas, o povo iraniano está a sofrer, e as nossas actividades (nucleares) são legais."
3."Estas sanções são ilegais e só beneficiam Israel."

Observando estas palavras de perto, apercebemo-nos que o Ayatollah Khamenei - na sua tentativa de levar o mundo a relaxar as sanções - deixou para trás as suas impressões digitais.
Mudança não está necessariamente na agenda política do Irão, já que:

  • ainda está obcecado por ganhar - em vez de merecer - o respeito do Ocidente (revelando, assim, o seu complexo de inferioridade),
  • ainda não compreende que a sua retórica repele potenciais associados diplomáticos, 
  • ainda se refusa a responsabilizar-se pela sua teimosia nuclear,
  • ainda rejeita o princípio da auto-responsabilização,
  • ainda vive obcecado por Israel em vez de se concentrar em resolver os seus problemas.

Embora o palavreado esteja a mudar; não nos devemos precipitar...
Cuidado com aqueles que "vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores." (Mateus 7:15)

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