Em Defesa do Lobismo em Portugal

Paisagem com Carvalhos - Alexandre Calame
Nos dias que correm tudo o que aconteça de errado jamais é culpa dos protagonistas mas, sim da génese estrutural. Aceitando esta premissa como verdadeira, levanta-se uma questão: quem a concebe?

Por exemplo, em Portugal diz-se que é ilegal a existência de grupos de pressão (vulgo lóbis) devido aos perigosos jogos de influência; mas esta ilegalidade é só para alguns porque os sindicatos, as Ordens profissionais, as Associações (de moradores, do patronato, dos bancários; os municípios, grupos desportivos, estudantis, a Deco e até as Agremiações) nada mais são do que grupos de pressão e, no entanto, são perfeitamente bem vistos e legais. Contudo, esta forma de associativismo é aceitável porque de uma maneira ou de outra beneficiam do erário público (i.e.para não irem longe demais...?).
Porém, quando alguém quer pressionar e influenciar profissionalmente, pagando para obter resultados palpáveis, sem estar na dependência dos dinheiros públicos, não pode porque é ilegal e muito mal visto.

Imaginemos que em Portugal exista um grupo de pressão que influencie um certo número de deputados para convencerem os seus colegas a passarem uma lei clara sobre a prática médica. Cada hospital teria um seguro para cada médico e, quando este cometesse três erros, deveria ser obrigado a adquirir e a pagar a sua apólice no valor estipulado pelo hospital; em caso de negligência o hospital, após uma investigação exaustiva por uma entidade independente especializada (extra Ordem dos Médicos e governo), deveria ser obrigado a pagar aos lesados uma indemnização que seria calculada tendo em conta o salário e a esperança de vida da vítima caso não tivesse sido morta.
Penso que a ordem dos médicos restaria com a árdua tarefa de lutar por melhores hospitais, melhores técnicas de diagnóstico, horários decentes para os seus associados – para evitar erros devido ao cansaço do médico – e expulsar os médicos sem ética profissional. Deste modo, a ordem ficaria livre do fardo de se intrometer em processos de má prática e de se ver envolvida em inquéritos infindáveis - sempre injustos para as vitímas; resolvendo-se, assim, o eterno problema estrutural de se desculparem com o famoso “erro humano”.

É ridícula essa fobia em relação aos grupos de pressão e suposta devastadora influência que o seu dinheiro poderia ter na sociedade lusa; porque tivemos um governante que pressionou, influenciou, e quase dominou todo o aparelho do Estado...sim, esse mesmo: o sr. José Sócrates.
Ora o ex-PM era implacável, frio e calculista. As sua manobras raiavam a ilegalidade sem nunca o serem; as suas acções eram provocatórias mas depois virava o bico ao prego e fazia-se de vítima dos ditos “delatores”; através do jogo de palavras e do medo, ele mantinha a ordem.

Sócrates era um lobista de primeira água. Para se manter no poder contentou uma camada populacional com subsídios; deixou à larga o patronato (através permissividade) e aos Media brindou com processos judiciais.
Como dizem os franceses “il était tellement rempli de soi même” que se esqueceu de uma das lições básicas das aulas de religião e moral: o autodomínio. E a não observância deste revelou, no caractér do sr. Sócrates, uma falha estrutural.

Então, quem tem medo do Lobismo?

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