O sofrimento da cidade de Nova Orleães de Edgar Degas |
O sofrimento
parece ser a palavra do momento.
Os religiosos,
as associações cívicas, os políticos no mundo inteiro aplicam-na por dá cá
aquela palha e, vejam só, até os CEOs de grandes companhias a usam.
Um
padre, no norte de portugal, há dias, afirmou que alguns dos seus paroquianos
estão a viver no limiar da pobreza extrema e que, alguns deles estando há mais
de cinco meses sem electricidade, recusam-se a voltar para as suas aldeias (de
volta para o aconchego) por vergonha de parecer que falharam na grande cidade.
Os
CEO das multinacionais, estão num sofrimento desgraçado, porque os seus lucros sofreram
uma queda livre considerável (i.e. passaram de 100% para 90% ao ano), e por
esta razão se vêm na obrigação de reduzirem o retorno aos seus investidores:
baixar de 6% para 4,3% ao ano.
Os
políticos utilizam-na, como se o sofrimento fosse uma coisa trivial que pudesse
ser utilizada como arma de arremesso para denegrir os seus oponentes. Dizem os
parlamentares portugueses que o povo português está a sofrer horrores com as
políticas deste governo - um ex-ministro do PS deu a entender de que o ex-primeiro
ministro José Sócrates estaria a sofrer devido a uma grande incompreensão por
parte dos seus delatores (daí ter resolvido ir viver para Paris) mas que um dia
a história o julgaria com justiça (talvez como um dos benfeitores de Portugal).
Os
gregos, dia sim dia não, fazem nas ruas demonstrações do seu sofrimento depois
de, anos a fio, terem levado uma vida perdulária - i.e. fugir aos impostos,
defraudar e burlar o estado com abonos de família sem existência de filhos;
cada ministro podia trazer chauffers da sua confiança e quando o cargo
terminava, os seus motoristas ficavam a cargo do estado.
Bom,
por aqui, podemos concluir que, o sofrimento significa coisas diferentes, para
grupos diferentes
Mas
para mim o sofrimento é o que os pais - do Rui Pedro, da Madeleine McCann e do
rapaz que desapareceu nas grutas da Arrábida (fim dos anos 80, se não estou em
erro) - sentem e sentirão todos os micro-segundos da sua vinda até encontrarem ou
saberem algo dos seus meninos; é o que as famílias sentem quando o soldado/herói
desaparece em combate; é o que sentem as mulheres nas zonas de guerra em África
quando são violadas conjuntamente com as suas meninas por violadores-mor de
arma em punho; é perante o medo e a vontade de sobreviver, uma pessoa ir ao
extremo de se esconder por baixo de detritos sólidos (a propósito, faleceu o sobrevivente mais novo da lista de Schindler); é a incredulidade de ver um
vizinho que ainda há minutos partilhara consigo o pão, desatar à catanada a
pessoas duma tribo diversa da dele; é ver uma mãe, num local recôndito de África,
com um pote ao lume cheio de água a remexê-la com uma colher de pau, e com o
olhar distante debroado com um sorriso, a tentar convencer os seus miúdos de que
o jantar está quase pronto até que estes adormeçam de tanta demora, porque o
governo corrupto esbanja os fundos dos recursos naturais do país, em
investimentos para si e para os cães que o mantêm no poder.
O
facto é que estamos todos a passar um mau bocado – verdade seja dita – mas nas Américas,
Europa e Oceania, existem mecanismos para prestar assistência (constrangimentos
à parte) em tempos de vacas magras. Por isso, parem de despejar o bolo da vossa
desgustação pela minha goela abaixo, porque sofrimento é algo inexplicável, é uma
paragem solitária; é o juízo final entre o vazio (impotência) e o nada (autorecriminação).
Olá Lenny,
ResponderEliminarDe repente, todos viraram uns choramingas. E o mais chocante é que nem é o povo per se: são os grupinhos de interesses (i.e. que buscam um lugar no parlamento para também auferirem os salários fantásticos que por lá se ganha para fazerem projectos de lei que não beneficiam o povo). Mesmo o senhor padre da paróquia local tem interesse em vir para a televisão dizer tais coisas.
Sim, há pessoas que sofrem verdadeiramente e, a esses ninguém os ouve a espalharem lágrimas na praça pública. Fazem-no em privado, porque a verdadeira dôr, o verdadeiro sofrimento, é tal que não permite grandes expressões externas nem a busca pela comiseração alheia.
Lenny, you hit it again :D!
Beijocas
Olá, boss!
EliminarComo dizem os gauleses: c'est du n'import quoi!
Obrigada, pelo teu comentário.
Bjcas
Lenny, coitados dos pais desses miúdos. Coitadas dessas mães em África - sim, isso é que é verdadeiro sofrimento. Todo o resto é pura demagogia!!
ResponderEliminarHey, girl!
ResponderEliminarNão compreendo como, pode alguém querer estar na ribalta, por pronunciar absurdidades; e essas pessoas têm, mais de quinze anos, de formação escolar; não é isto impressionante?
Obrigada, por passares por aqui, caríssima.
Bjcas
Quem sofre realmente sabe a dimensão dessa dor. O resto apenas lastima a fatia de queijo faltoso ou assim o faz para que não tenha desconfiança de si. Melhor juntar-se aos agregados! Os políticos são mestres nessa arte...
ResponderEliminarOlá, Luma!
Eliminar"Quem sofre realmente sabe a dimensão dessa dor."
Essa é a verdade, minha cara
" O resto apenas lastima a fatia de queijo faltoso ou assim o faz para que não tenha desconfiança de si."
Chorar de barriga cheia; não é?
"Melhor juntar-se aos agregados! Os políticos são mestres nessa arte..."
O jogo da falácia.
Luma, obrigada pelo seu comentário.