A Privacidade está a cometer Harakiri

Lucrecia de Andrea Casali


A protecção da privacidade é a protecção da integridade; mas, ao que parece, fazê-lo está a tornar-se démodé...

No mês passado, ao passar os olhos pela BBC, encontrei um artigo muito interessante intitulado “Apresentador da CNN anúncia que é gay”. O meu primeiro pensamento foi “Mas quem é que quer saber qual dos apresentadores da CNN é gay? Por mim, o Anderson Cooper poderia gritar aos quatro ventos que é gay e, mesmo assim não quereria saber disso para nada!” Mesmo assim cliquei no artigo e lá estava: o Anderson Cooper a anunciar que é gay. Está bem, é gay; e depois? Não é que não soubessemos que ele fosse gay; contudo deleitávamo-nos no facto de haver, pelo menos, um gay célebre na terra que se comportasse como um ser humano normal (i.e. vivia a sua vida; fazia o seu trabalho e, como a maioria de nós, mantinha a sua vida sexual privada).

Gosto do programa AC360º; gosto do ridiculist do Anderson Cooper; farto-me de rir com os seus risinhos de menina; aprecio a maneira como ele faz as perguntas mais difíceis e exerce pressão onde esta precisa de ser exercida. In summa, ele é um dos melhores jornalistas do mundo.
Não obstante, depois de ele anunciar a sua homosexualidade, as pessoas falam dele não por causa do seu trabalho, e competência, mas sim por causa da sua orientação sexual – nicht gut.
O seu anúncio levantou questões como: “É por isso que nunca teve um caso com a Isha Sesay?” e “Terá cedido à pressão dos Grupos de Defesa dos Direitos do Gays?”

Por agora, não irei desenvolver o quão irritantes os mencionados grupos podem ser; contudo gostaria de fazer duas perguntitas: se os heterosexuais mantêm a sua vida sexual em privado (principalmente quando têm amantes), porque é que os homosexuais querem ser diferentes? Dizem querer igualdade e, lutar contra a discriminação; mas então, porquê a necessidade de se discriminarem a si próprios?

O Anderson Cooper era o símbolo do Direito à Privacidade e, quando ele abandonou esse cargo não só deu origem a um debate interessante como também pode ter dado origem uma tendência perigosa.
Assim que a sociedade se vir forçada a mover a sexualidade dos seus cidadãos da esfera privada para a arena pública, corre o risco de este tipo de assunto se banalizado. Como resultado, um dia candidatos a um qualquer cargo profissional poderão vir a ser questionados acerca da sua orientação sexual, de uma forma que contorne as leis contra a discriminação (não fiquem chocados, porque as entidades empregadoras, até muito recentemente, exigiam que os CVs viessem com fotos – uma maneira subtil de discriminar pessoas com base na raça, aparência etc).

A nossa sociedade está a ser afligida por uma praga corrosiva: a exposição de coisas que deveriam ser mantidas em privado.

“Como cultura vejo-nos presentemente privados de subtilezas. A música é barulhenta, a ira está ao rubro, o sexo parece carecer de doçura e privacidade” - Shelley Berman

Comentários

  1. Adoramos entregar a nossa privacidade de bandeja, ainda mais hoje em dia na internet. E as empresas .com agradecem!

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  2. Oi Cidão :D!

    É verdade. É incrível como as pessoas vendem a sua vida na internet; começando pelas redes sociais.
    Podes crer: as DotCom agradecem.

    Gato, muito obrigada pelo teu comentário :D. Foi óptimo ver-te por aqui!

    Um abração

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