Melancolia de Constance Charpentier |
Os que se dedicam ao uso da razão são menos felizes do que
aqueles que estão mais próximos do seu puro instinto natural?
Immanuel Kant, in Fundamentaçãoda Metafísica dos Costumes, sugere que assim que as pessoas, que cultivam a
razão, se dediquem aos prazeres da vida e à felicidade sucumbem à misologia (i.e.
ódio à razão) já que aparentemente descobrem que todo o tempo que investiram a
pensar, a raciocinar e a argumentar condenou-os ao isolamento (do mundo dos
prazeres) causando-lhes, deste modo, mais fatiga que contentamento.
Kant também sugere que assim que a misologia ataca, os
pensadores começam a invejar aqueles (que o filósofo classifica como “de
condição inferior” e) que não permitem que a razão influencie a suas acções.
Alberto Caeiro (um dos heterónimos de Fernando Pessoa) era
um grande defensor da misologia, argumentando que o uso da razão turva a visão
e que a dedicação ao pensamento filosófico sentencia-nos a entrarmos num mundo complexo
e problemático, onde tudo é incerto e obscuro.
Segundo Caeiro, os seres humanos deveriam submeter o
pensamento às sensações porque ao fazê-lo conseguirão viver sem dôr; envelhecer
sem angústia e morrer sem desespero (já que não buscarão o significado da vida;
significado esse que não existe). Uma vez que purguem a razão e sucumbam aos
sentimentos, aceitarão a realidade e o mundo exterior, tais como são, com alegria
e contemplação; tornando-se, assim, unos com a vida (i.e. seres não fragmentados;
já que o pensamento é a principal causa da fragmentação do Ser).
Alberto Caeiro afirma peremptoriamente que os humanos serão
finalmente felizes no dia em que rejeitarem o vício de pensar. Ele admite que
pensar seja um processo natural nas pessoas; contudo, luta contra a consciência
do pensamente; isto é, contra a interrupção do pensamento fluído ao querer
parti-lo aos bocadinhos e analisar, de forma minuciosa, cada um dos seus
fragmentos.
Na minha opinião, o hedonismo (devoção ao prazer dos
sentidos) puro é contra-natura e, eventualmente, conduz os seres humanos ao
vazio e à infelicidade. A submissão às sensações equivale a enterrar a nossa
cabeça na areia e evitar lidar com a Vida e as suas complexidades. Sugerir que
vivamos somente por instinto natural (impulso) é o mesmo que reduzir os humanos
à animalidade.
Ser ser humano significa ter o dom da razão, que
automaticamente nos força a buscar respostas para as seis perguntas básicas –
Quem? O Quê? Quando? Onde? Porquê?
– um possível alicerce para a filosofia material (Física e Ética) e formal (Lógica).
Se colocar as seis questões fundamentais é inerente aos
seres humanos então também o é o pensamento filosófico (ainda que a maioria não
se aperceba disso). Não saber o quê, o porquê e o como poderá causar confusão,
tensão, stress, infelicidade. Observar e sentir a vida ao mesmo tempo que a analisamos
e compreendemos porquê e como “o quê” acontece poder ser esclarecedor, gratificante,
estimulante e causar a felicidade (especialmente se se tiver maturidade
suficiente para lidar com a verdade/resultado da busca).
A Misologia é a profilaxia da Razão; logo, jamais poderá ser
a fonte da felicidade.
Achei o maximo o seu livro
ResponderEliminarOlá Anónimo :D!
ResponderEliminarPerdoe-me a pergunta: mas qual livro?
De qualquer maneira, obrigada pela visita: volte sempre :D.
Um abraço