A Filosofia da Mudança

Auto-Retrato de Baccino Bandinelli

“Deve ser relembrado que não há coisa mais difícil, mais perigosa, ou mais incerta no seu êxito, do que liderar a introdução da nova ordem das coisas” (Nicolau Maquiavel, in O Príncipe, capítulo VI)

O custo de mudar o que já estava estabelecido é muito alto. Aqueles que se propõem a alterar o estado das coisas, que conduzirão o mundo para uma nova ordem, poderão ter a certeza de que implicarão com eles, que serão insultados, perseguidos, atingidos e (in extremis) assassinados.

A pessoas não dão as boas-vindas à mudança por motivos vários:
  1. Medo de deixar a sua zona de comforto. Assim que um ser humano se habitue a agir e a reagir de uma determinada maneira; a fazer as coisas à sua maneira e se sinta confortável com as suas próprias escolhas; ele irá refusar sair do seu “ninho” mental e aventurar-se em novos vôos.  
  2. Medo da incerteza. Os humanos adoram agarrar-se às suas certezas, contudo a certeza é uma ilusão. Claro, a mudança carrega consigo a incerteza (acerca de qual o caminho a percorrer, qual o resultado da escolha, as consequências do acto etc), mas sob a égide da incerteza poderemos sempre ter a certeza de que as energias estão em constante movimento; enquanto que, sob o escudo da certeza poderemos ficar descansados de que as energias estagnaram tanto quanto nós.
  3. Medo de aprender coisas novas. A nossa espécie acredita que ao chegar à fase adulta já não precisa de aprender coisas novas, já que ele possui todo o conhecimento necessário (adquirido empírica ou academicamente) – outra ilusão. Aprendemos desde o dia em que encarnamos até ao dia em que desencarnamos (e para lá disso).
  4.  Poder. Para as pessoas, que conhecem o poder pelo nome e se fundem nele, é-lhes muito difícil despegar-se dele; logo, qualquer sorte de mudança é vista como uma ameaça à sua posição e, como tal, tomarão diversas medidas para deitar abaixo aqueles que tragam (ou prometam trazer) a mudança, custe o que custar – “vaidade das vaidades”.

 Yeshua (Jesus) introduziu uma nova forma de pensar e de agir: foi perseguido, insultado, cuspido, ferido e morto.
Galileu Galilei fez uma revolução científica: foi insultado, perseguido e preso; o seu trabalho foi banido.
Patrice Lumumba tinha uma visão para a sua nação recém-independente (visão essa que desagradava ao Ocidente, já que Lumumba se recusava a ser o seu marioneta): foi deposto, ridicularizado, perseguido e executado.  
Joana Simeão e Lázaro Kavandame (Moçambique) opunham-se à FRELIMO e tentaram desafiar a sua hegemonia e domínio uno-partidário: foram presos, ridicularizados, torturados e executados.
Aung San Suu Kyi tinha uma visão democrática para a sua nação (Burma): durante anos ela esteve sob prisão domiciliária e as suas palavras foram censuradas.  
Os exemplos são numerosos...

Maquiavel tinha razão tanto em 1505 como em 2012:

“O inovador tem como inimigos todos aqueles que beneficiaram sob o antigo sistema”

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