Maria Madalena: La Traviata ou Discípula de Cristo?

La Gioconda de Leonardo Da Vinci

Maria Madalena é muitas vezes retratada como sendo La Traviata (este rumour já foi abordado em As 3 Marias), porque sendo assim ela transforma-se num símbolo da redenção.
Contudo algumas Escrituras de Nag Hammadi parecem descrever uma Madalena muito diferente daquela à qual estamos habituados: um dos discípulos mais prominentes de Yeshua, que colocava imensas questões pertinentes e compreendia [talvez a razão pela qual Jesus, aquando da ressureição, apareceu a ela primeiro].

Eu poderia facilmente entender porque é que as Instituições Cristãs, perante a descoberta e estudo de tais textos, não procederiam à reformulação do Novo Testamento: talvez porque seja mais confortável deixá-lo como está, sob pena dos Códices forçarem uma mudança drástica (ou várias), tanto a nível dogmático como a nível estrutural.
Gosto de textos apócrifos porque estes oferecem-nos uma outra perspectiva da Grande Peça Religiosa e das suas Personagens. Por exemplo, olhemos para um excerto extremamente interessante, do Evangelho de Filipe (mastigado pelas formigas, tal como indica o sinal [...]):

«Quanto à Sabedoria que é apelidada de "a infértil," ela é a mãe dos anjos. E a companheira do [...] Maria Madalena. [...] amou-a mais que a todos os outros discípulos, e costumava muitas vezes beijá-la na boca. O resto dos discípulos [...]. Eles disseram-lhe "Porque é que a amas mais do que a todos nós?" O Salvador respondeu e disse-lhes, "Porque não vos amo como a ela? Quando um homem cego e um que vê estão juntos nas trevas, não são diferentes um do outro. Mas quando a luz chega, então aquele que vê verá a luz, e aquele que é cego permanecerá nas trevas."»  [Traduzido por Max Coutinho]

Qual o significado deste texto - qual a parte que deva ser levada à letra e qual a parte que merece uma exégese mais profunda? Terá Jesus mantido uma relação mais íntima com Miriam Magdala e, se sim, porque nos é tão difícil ver Yeshua, um Judeu (que seguia a Torah, que expressamente afirma não ser bom para um homem estar só), como um indivíduo com desejos humanos?

Também estou a apreciar o Evangelho de Maria Madalenaporque nos mostra que apesar de terem tido a honra de aprender com Yeshua; alguns discípulos varões, após a morte do seu Mestre, retornaram à vil natureza humana:

«Mas André respondeu e disse (..) "Eu pelo menos não acredito que o Salvador tenha dito isto. Porque certamente estes ensinamentos representam idéias estranhas."
Pedro respondeu (..) "Será que Ele falou em privado com uma mulher e não abertamente connosco? Temos de nos vergar e dar-lhe ouvidos a ela? Ele preferia-a e, não a nós?
Levi respondeu (..) "Pedro, sempre tiveste um temperamente belicoso. Agora vejo-te a contender com a mulher como os adversários. Mas se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para a rejeitar? Certamente que o Salvador a conheça bem. E é por esse motivo que Ele a amava mais que a nós. Envergonhemo-nos antes, e tornemo-nos Perfeitos, e separemo-nos como Ele mandou para irmos pregar o evangelho, sem acrescentar regras e mais leis para além das que o Salvador nos ditou". [Traduzido por Max Coutinho]

Os textos apócrifos são como a Mona Lisa: olham para nós sorrindo de soslaio, como se fizessem pouco da nossa incapacidade para ver além da realidade aparente. Eles fazem chacota da nossa capacidade de engolir verdades consensiais. Sorriem de soslaio ao dizer-nos "Questionem tudo; duvidem de tudo porque as dúvidas conduzir-vos-ão à Verdade!"

Comentários

  1. Eu também sou admiradora dos textos apócrifos.
    Para mim qualquer outro texto que nos distancie do centro da paixão (embora a pauta religiosa seja sempre motivo de tensão, debates e desgastes), tem uma grande probabilidade de ser analisado e compreendido de forma mais ampla, e de se perceber as minúcias que olhos apaixonados (talvez até extremista, caberia aqui esse sentido?) costumam ver,e que nem sempre é bom, e nem sempre é ruim. O que sei e não é conformismo, é que jamais chegaremos ao fim desse mistério chamado Jesus, seus seguidores e seus mundos!

    Mas deixo beijo!

    P.S.
    Leste o livro, do Juan Arias, Jesús, ese gran desconocido? Só não gostei do prefácio, mas o livro inteiro é uma excelente reflexão e provocação!

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  2. Olá CB :D!

    Concordo. É, o mundo de Yeshua e seus discípulos é extremamente misterioso, o que o torna tão atraente.

    Não, não li esse livro; mas anotei o título - obrigada - parece-me ser super interessante (e já sabes, adoro uma boa provocação lol ;)...).

    Querida, muito obrigada por este comentário extraordinário :D.

    Beijoss

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