Monsieur Guerlain e a Perfeição



“Pour une fois, je me suis mis à travailler comme un nègre. Je ne sais pas si les nègres ont toujours tellement travaillé, enfin...”(Jean-Paul Guerlain)

Antes de comentar esta frase, gostaria de partilhar a tradução inflamatória apresentada pelo The Huffington Post:

“And for once I started working like a [racial epithet]. I don't know if [racial epithet] ever worked that hard.”[Por uma vez na vida trabalhei que nem um (epíteto racista). Não sei se os (epíteto racista) trabalharam assim tanto.”]

Primeiro: a palavra Francesa “négre” é tão racista quanto a palavra Portuguesa “negro” (ainda que muitos o jurem a pés juntos). Em Português e Castelhano, a palavra “negro” queria dizer indivíduo de pele escura – inicialmente os Mouros.
Segundo: ao oferecer uma tradução tão propagandista, o The Huffington Post propôs-se a piorar uma situação já por si tensa; e uma pessoa poder-se-ia interrogar se este site não será mais racista que o Sr Guerlain, pela forma como procurou difamar um cidadão Francês rico e respeitável.
A tradução mais apropriada seria “And for once I started working like a black. I don’t even know whether blacks have always worked that hard, oh well...” [“E por uma vez na vida trabalhei que nem um negro. Nem mesmo sei se os negros trabalharam sempre tanto assim; enfim...”] 

Comentário: ainda que eu entenda o que o Sr Guerlain quisesse ter dito, temos de concordar que a priori as suas palavras parecem chocantes. Porém, ao afirmar que trabalha que nem um negro ele não está a ser racista, mas sim a reconhecer que os negros, ao serem escravizados, enriqueceram o Ocidente. Ao dizer que não sabe se os negros trabalham sempre tanto assim pode ser visto como desapontamento em relação à presente situação dos  negros; e de quem é a culpa? Dos líderes Africanos; que ao pilharem o seu povo e ao não desenvolverem as suas nações, dão-nos a impressão de que os negros sucumbiram aos 5 gigantes: à miséria, à imundícia, à preguiça, à ignorância e à doença.
Na sua controversa entrevista, o Sr Guerlain explicou que ao produzir um determinado  parfum para uma cliente, esmifrou-se e tentou atingir a perfeição 33 vezes, antes de apresentar o produto final (daí o seu comentário “Nem mesmo sei se os negros trabalharam  sempre tanto assim [i.e. se eles sempre se engajaram em progredir 33 vezes]”). Bem, monsieur Guerlain, até agora os negros não tiveram a oportunidade de tentar desenvolver e aperfeiçoar a sua existência uma só vez quanto mais 33 vezes; contudo tê-la-ão assim que se livrarem dos seus líderes corrupto-apoiados-pelo-Ocidente e abandonarem o seu complexo de inferioridade induzido.

Este tópico fez-me pensar num outro caso: em 2000, a L’Oreal (outra famosa marca Francesa) contratou trabalhadoras para promover os seus produtos de cabelo da marca Garnier. Não há nada de errado nisto, a não ser o facto de ter expressamente requisitado que as empregadas fossem Bleu Blanc et Rouge (= Azul, Braco e Vermelho; i.e. Francesas de raça Ariana). O SOS Racismo Francês denunciou o caso e processou a empresa; contudo o mundo não boicotou os produtos da L’Oreal.

Agora, toda a gente exige boicote aos produtos da Guerlain...claramente há aqui dois pesos e duas medidas. Será porque a Guerlain representa produtos premium (ou seja, para os ricos) e o sector alvo da L’Oreal é uma clientela mais abrangente? On se demande, n’est-ce pas?




Imagem: Jean-Paul Guerlain (foto emprestada daqui)

Comentários

  1. realmente, trouxeste um artigo e tema que faz pensar.

    E tudo tem os 2 lados.Sempre há quem queira ver do SEU jeito, não?

    O mundo anda assim mesmo...beijos,tudo de bom,chica

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  2. Chego a ter a percepção de que crescer é igual a deseducar-se... É muito bom ter olhos lúcidos para os quais a pele tem toda a mesma cor, e ver dessa maneira parece que ainda só está ao alcance na idade de uma criança ;)

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  3. Olá Chica :D!

    "E tudo tem os 2 lados.Sempre há quem queira ver do SEU jeito, não?"

    É verdade. Toda a moeda tem dois lados (em princípio)...

    Chica, obrigada pelo comentário :D.

    Beijos

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  4. Olá Alez :D!

    "Chego a ter a percepção de que crescer é igual a deseducar-se..."

    E não é que tens razão? Em vez de evoluir os adultos, muitas vezes, regridem...

    "É muito bom ter olhos lúcidos para os quais a pele tem toda a mesma cor, e ver dessa maneira parece que ainda só está ao alcance na idade de uma criança ;)"

    Amén!

    Alezandri, obrigada pelo super comentário :D!

    Um abraço

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  5. Max, não dá para ficar indiferente, afinal, em nenhuma situação do mundo conseguimos ser neutros, não há neutralidade, qualquer escolha é um posicionamento, e aí entramos nós, debatermos, trazermos para as rodas temas dessa natureza, ao mesmo tempo tenso, delicado e que diz respeito a todos nós: preconceito racial!
    Por outro lado, eu acredito que "Dos líderes Africanos; que ao pilharem o seu povo e ao não desenvolverem as suas nações, dão-nos a impressão de que os negros sucumbiram aos 5 gigantes: à miséria, à imundícia, à preguiça, à ignorância e à doença", são tão responsáveis quantos os que obrigam-nos a ter(em) essa atitude.
    Temos todos responsabilidades nisso e naquilo e não permitirmos a naturalização dos preconceitos, das coisas... O mundo não pode e nem deve ser assim mesmo!

    Um beijo grandão, cheio de admiração.

    Smackssss!

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  6. Oi CB :D!

    Óptimo comentário: muito obrigada :D!

    Beijos

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