Analisando Eva

O que é que passou pela cabeça de Eva?
Deus foi extremamente claro quando ordenou que Adão e Eva não comessem da árvore que estava no centro de Éden (aquela árvore maravilhosa, deliciosa, apelativa...uma verdadeira tentação). Contudo ela queria saber, ela decidiu que Adão e ela mesma mereciam saber mais, achava que deveriam adquirir o conhecimento científico...

Às vezes coloco-me no lugar de Eva: ali estava ela, no meio do paraíso completamente exposta, sem roupa (ok, esqueçam por um minuto que a nudez bíblica possa significar inocência mental, total abertura, ausência de tabús e de malícia); com pernas e axilas cabeludas; desprovida de um kit de manicure; sem sapatos (coitada!); e presa a um tipo que (segundo os evolucionistas) era feio que nem um raio – que horror.
Perante tais vicissitudes ela tinha de agir; por isso começou a observar com atenção a tentadora árvore...

Eva manipulou a serpente...
O diálogo entre as duas é extremamente estranho...a mulher aproximou-se da criatura que lhe pergunta (como se quisesse confirmar) o que Deus ordenara. Bem, isto atraiu a atenção de Eva, uma vez que ela própria poderia já se estar a questionar acerca da árvore há algum tempo; por isso ela oferece a “confirmação” à cobra, que imediatamente põe em prática o seu plano (sem saber que a bela Eva já havia colocado o dela em prática primeiro): “Certamente não morrerão”
Ao ouvir estas palavras, a mulher recebeu a confirmação que esperava...eles não morreriam fisicamente, mas se Deus mencionou o verbo morrer...talvez Ele quisesse dizer “mudança”...a mudança que ela precisava e desejava. Ela começa a pensar acerca do futuro (afinal, alguém tem de o fazer): se ela tiver a coragem de tirar o fruto da árvore, prová-lo e depois partilhá-lo com o seu homem...imagina a quantidade de conhecimento que eles poderiam adquirir afim de poderem inventar coisas...os olhos dela brilharam  perante tal possibilidade.
Só lhe bastou um segundo para completar a sua estratégia...a seguir fez com que a serpente se sentisse importante. Esta encheu-se de vaidade e proferiu as palavras que condenaram a sua espécie para todo o sempre “porque Deus sabe que no dia em que dele comerem se abrirão os vossos olhos, e serão como Deus, sabendo o bem e o mal”...
Foi assim que Eva se livrou da sua adversária intelectual...

A mulher come o fruto. Ofereceu-o ao seu homem, que também o comeu. Deus (Que estava desapontado com o facto de Eva não o ter desapontado) lançou-os fora do Jardim de Éden; condenando-os, assim, ao trabalho árduo e à dôr, o que despoletou o fluxo de criatividade dos dois.

Como Fernando Pessoa escreveu (no poema “O Infante ”):

“Deus quis, o homem sonha, a obra nasce”

Imagem: O Jardim de Éden de Jacopo Bassano