Quantas vezes já fomos ludibriados pelas nossas percepções? Eu diria muitas, ao avaliarmos as pessoas e certas situações na vida.
Vivemos numa realidade aparente. Olhamos em volta e o que parece ser não é: as pessoas usam máscaras; os acontecimentos podem ter duas leituras; sentimentos expressos podem ser interpretados de duas maneiras; as palavras proferidas podem conter dois significados etc...
Uma pessoa fala contigo e, a menos que olhes nos olhos dela (e te conectes com a sua alma) dificilmente serás capaz de discernir se o que está a ser dito reflecte os seus pensamentos, opiniões, ideais, ou sentimentos verdadeiros ou não...tanto quanto sabemos esta pessoa pode muito bem criar um mecanismo de defesa, construindo uma capa de modo a esconder o seu íntimo. Contudo se olhares bem no fundo dos seus olhos poder-te-ás aperceber da discrepância entre o que está a ser produzido pelos seus lábios (e/ou acções) e o que o seu interior reflecte.
Vês um casal a discutir na rua; de repente a mulher dá uma bofetada no homem. De imediato crias um juízo sobre a situação, baseado no que os teus olhos te dizem (“Coitado! Ela deve ser uma cabra para estar a submeter o homem a esta humilhação pública! Eu cá sei o que lhe faria se estivesse no lugar dele!” ou “Coitada! Aposto que o apanhou com outra! Os homens são mesmo uns porcos! Se fosse comigo eu não pararia por aí!). Contudo dever-te-ias perguntar o que está por detrás de tal gesto, tão violento; o que foi que o despoletou e, se não chegares a nenhuma conclusão (através do uso do teu Supra-olho) sugiro, então, que te abstenhas de fazer julgamentos e que prossigas com a tua vida (porque afinal a razão que suporta tal cena poderá ser uma das seguintes: A) são um casal de actores a ensaiar uma cena; B) são um daqueles casais que gosta de lutar e de se esbofetear como forma de preliminares, C) são psicólogos a executar uma experiência afim de estudar o comportamento humano quando diante de tais situações).
Alguém ouve uma conversa atrás da porta entre duas pessoas: “Os teus peitos são como dois filhos gémeos da gazela, que se apascentam entre os lírios.” Em estado de choque essa pessoa corre para contar a outrém. Quando o bisbilhoteiro e a pessoa com quem ele partilhou a história confrontam as duas pessoas...apercebem-se do quanto a malícia pode reproduzir mal-entendidos, uma vez que as duas pessoas simplesmente estudavam os Cantares de Salomão (capítulo 4, verso 5).
Duas pessoas de sexo oposto são muito amigas. Gostam de passar imenso tempo um com o outro e de conversar longamente...de imediato os outros presumem que o amor está no ar e, deste modo começam a escrever o argumento, a produzir e a realizar filmes na sua cabeça; sem se darem ao trabalho de ver para além das aparências: o casal de amigos de sexo oposto é gay.
Um pai leva a sua filha ao restaurante onde costuma ir com a sua mulher (quando os filhos não estão na cidade), porque deseja apresentar a sua filhota mais velha ao seu amigo (o dono do restaurante que também é o chef). Sentam-se a uma mesa e pergunta pelo seu amigo, que ao se aproximar deles ouve o pai a dizer “amo-te muito!” à sua filha. Estupefacto, o chef pára e vira-se [“Ai, eu não acredito que ele me tenha posto nesta situação! Eu que gosto da mulher dele!”] mas depois ouve “Pierre! É a minha filha!” o chef volta com um sorriso de embaraço e cumprimenta o seu amigo...
Os exemplos acima descritos servem para mostrar que (e aqui vou usar uma das minhas favoritas deixas do Twin Peaks) “Os mochos não são o que parecem” e que muitas vezes fazemos figuras ridículas por confiarmos demasiado na nossa visão e audição.
Não se deve depositar muita confiança nas percepções. Se queremos ver para além da realidade aparente, devemos confiar na seguinte coligação: sentidos, razão e intuição.
Imagem: Meditação sobre a história de Italia de Francesco Hayez
Olá Max
ResponderEliminarÉ verdade, tiramos muitas conclusões precipitadas em diversas situações.
Achamos também muitas vezes que pessoas são de um jeito e depois constatamos que são totalmente diferentes, investimos numa relação, seja ela qual for, nos doamos a pessoas e depois descobrimos que estas não deram a mínima para nossas atitudes e sentimentos, quando isso acontece é terrível... chego até a perder um pouco da esperança no ser humano.
Também concordo que os olhos dizem muito, todo o corpo, mas os olhos...inclusive acho super estranho, pessoas que quando conversam com outras não as olham nos olhos, parece que se escondem.
Agora em relação ao casal que discute na rua adorei a opção C, adoraria ser essa pesquisadora encenando essa passagem com determinadas pessoas. LOL
Gostei muito
Beijos
Olá Adriana!
ResponderEliminar"Achamos também muitas vezes que pessoas são de um jeito e depois constatamos que são totalmente diferentes, investimos numa relação, seja ela qual for, nos doamos a pessoas e depois descobrimos que estas não deram a mínima para nossas atitudes e sentimentos, quando isso acontece é terrível... chego até a perder um pouco da esperança no ser humano." - como te compreendo! Também já passei por isso, aliás; todos nós passamos por esse tipo de desapontamento, né? É, às vezes dá vontade de perder a esperança nos humanos, mas é necessário perseverar, minha amiga :).
"Também concordo que os olhos dizem muito, todo o corpo, mas os olhos...inclusive acho super estranho, pessoas que quando conversam com outras não as olham nos olhos, parece que se escondem." - não poderia concordar mais contigo: também acho estranho! Eu quando falo com alguém olho-a nos olhos até para poder conhecer mesmo a pessoa e mostrar-lhe que estou a prestar atenção nela, que estou ali para ela. Mas as pessoas que desviam o olhar, de facto, escondem a sua essência...
"Agora em relação ao casal que discute na rua adorei a opção C, adoraria ser essa pesquisadora encenando essa passagem com determinadas pessoas. LOL" - LOL LOL também eu! Porque as pessoas reagem a diversas situações de maneiras diferentes (uns metem-se logo na conversa, outros ignoram, outros ficam a ver somente, etc)...muito interessante!
"Gostei muito" - obrigada, linda! Estou feliz que tenhas gostado :D!
Beijos
Max, eu sou um cara cabeludo, só ando com camisa de bandas de rock, e leciono desse jeito. É o meu estilo.
ResponderEliminarO engraçado é que quem não me conhece, acha que sou um delinquente, ou coisa pior. É terrível isso porque as pessoas preferem enxergar o exterior e se ofendem com aquilo que é diferente. Mas eu dou muita risada!
Tem um prêmio para voc~e no blog, dá uma passadinha por lá! Beijos!!!
Oi Cidão!
ResponderEliminar"Max, eu sou um cara cabeludo, só ando com camisa de bandas de rock, e leciono desse jeito. É o meu estilo." - é um estilo diferente, fora de comum, sem dúvida...mas não nos diz nada sobre a tua essência :).
"O engraçado é que quem não me conhece, acha que sou um delinquente, ou coisa pior. É terrível isso porque as pessoas preferem enxergar o exterior e se ofendem com aquilo que é diferente. Mas eu dou muita risada!" - sei como é *acenando a cabeça*! Para além de ser terrível é triste; pois, como diz o ditado "O hábito não faz o monge"! Ainda bem que ris muito porque é só o que devemos fazer perante a ignorância...
"Tem um prêmio para voc~e no blog, dá uma passadinha por lá! Beijos!!!" - ah um prémio para mim!! Obrigada, gato!! Passarei por lá em breve :D!
Beijos