Episódio numa Mercearia Asiática: Impaciência ou Intolerância?



Num belo e radioso Domingo, para ajudar a desvanecer o espírito e aliviar a mente desta “prisão compulsiva” a que todos estamos obrigados, resolvi confeccionar uma iguaria mais ou menos complexa. 

Chegada ao frigorífico dei por falta das imprescindíveis ervas aromáticas: pensei 'não vou fazer a miúda meter-se no Metro, ir ao Pingo Doce, ao Lidl ou mesmo ao MiniPreço ficar na fila (ninguém merece) ao pé de gente que não respeita o distanciamento social ainda por cima taciturna'. Enfim, é também de bom tom ajudar o pequeno comércio de bairro: o meu está pejado de asiáticos e orientais (o Sr. Zé, o Manel, o Joaquim, a Clarissa...Mariazinha: já eram). 

Pedi à Krista para que se dirigisse à loja do indiano, e como este não tinha o pretendido ela dirigiu-se ao chinês que tinha uma erva rançosa dez cêntimos mais cara que o vizinho, a rapariga fez a observação e o descarado disse “Então, vai ao indiano...” resultado: fiquei sem as minhas ervas e com uma pessoa agastada pela rudeza do homenzinho.

Calcei os botins e fui à cantina do chinês, inquiri acerca do seu problema e, não é que o fulano (baixote) quis armar-se aos cucos comigo? Tirei as luvas brancas, amarrei a capulana e disse: não te deixes enganar pela minha cor, não sou uma imigrante a busca de residência nem de comprar a nacionalidade Portuguesa para poder sair daqui e ir para um qualquer país europeu ou mesmo Estados Unidos da América; estás a perceber?

- “Senhôla fala baixo, chinês não fazêli nada” 
- “Qual chinês qual carapuça, tu tens de ter um nome, como te chamas?” 
- “Tu queleli o quê?”
- "Quero te explicar que isto é Portugal, como cantineiro e de porta aberta, tens de aceitar reclamações; percebes?”
“- Eu, não pelcebel, tu queleli o quê?”
- “Faz-te de parvo, o quanto quiseres, mas este é o país dos meus antepassados; eu nasci portuguesa em 1958; não comprei a minha nacionalidade, portanto: tu como convidado neste país, e não sei se cidadão à cash, tens de seguir as regras do jogo, capisce?”
- “Eu lespeital todos”
- “Ai, sim? Então porquê que com ares de desprezo disseste a minha sobrinha "Vai ao indiano"? És por acaso mais que o indiano ou não se te pode fazer um reparo?”
- “Mas, mas…”
- “Mas nada, se não queres ser cordial tendo tu porta aberta ao público: pega na tua bagagem e tralhas e volta para a China; aqui chia mais devagar; percebes? Aqui o cliente tem sempre razão, porque é ele que sustenta o teu negócio, e ponto final, parágrafo; do you understand; do you?”
- “Queli parsley e coriander? Leva, eu dáli”
- “Quero pagar e ao preço que o seu vizinho indiano vende”
- “Senhôla, eu faz ofelta”
- “Muito obrigada, eu pago; de ti só quero boa educação, boa convivência e respeito; é tudo. Pronto, obrigada e bom negócio”

Estavam transeuntes na parte de fora da lojeca a dizer "Bravo, eles pensam que podem abusar!" outros diziam que Lisboa estava descaracterizada, já não havia lojas portuguesas e coisas que tais...Claro que tive de acalmar as hostes e explicar que alguns dos coitados são perseguidos nos seus países e que aqui é o seu santuário. Acrescentei ainda que nós em tempos fomos, e mesmo agora ainda somos. um povo de emigrantes e por isso, os estrangeiros aqui são o que nós somos por esse mundo fora. 

Pergunto, o que eu disse ao Oriental foi intolerância, impaciência ou uma forma de xenofobia?

Olha estou como o Jorge Jesus: foi o COVID, o prolongado confinamento e também a falta de cortesia do Oriental.

A propósito meus caros leitores, temos de deixar de tratar as pessoas por chinês, indiano, bangladeche, nepalês, brasileiro, preto e por aí fora….Agora com a globalização (iniciada por Portugal no século XV) e agora efectivada e cumprida mundialmente, vamos todos tentar ser éticos e corteses. Olha Fernando Pessoa, olha só como o imenso Portugal se está a cumprir, finalmente; I love you Fernando; grande visionário…..obrigada.

Viva Portugal e viva a garra dos primeiros navegadores portugueses!

Até para a semana  

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Comentários

  1. lol Kenny, nem uma coisa nem outra. O que você fez foi impor respeito. Adorei!!!

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  2. Olá Lenny,

    lol lol Fartei-me de rir...mas isto aconteceu em Lisboa? Olha só...sim, senhor.
    E a tua sobrinha fez o quê? Não disse nada ao tipo?

    Bom trabalho, como sempre e obrigada pelas gargalhadas.

    Beijocas

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