Rohan Mukherjee e Anthony Yakazi disseram que a Índia tem “interesse em travar o crescimento da China sem provocar um conflito ou uma outra qualquer forma de intensificação.” e, apesar das percepções, a Índia desafiou a noção de que aumentar o poder militar de um país é uma causa automática para fazer guerra.
Índia: Potência Económica e Militar
A Índia tornou-se uma potência económica através de factores que contribuíram para o aumento da sua fortuna e peso geopolítico [Fonte]: reformas económicas, a obliteração da Licença Raj (regulamento do sector privado, entre 1947-1990, que ditava que os investidores necessitavam da aprovação de várias agências para montarem uma empresa legalmente), inovação e abertura do seu mercado ao investimento directo estrangeiro.
Em termos de defesa, até recentemente, a Índia havia-se focado principalmente no Paquistão; contudo, por volta dos últimos seis anos, aquele país mudou a sua atenção para os desafios colocados pelo aumento das capacidades militares da China no Tibete [Fonte]. Logo, a Índia também procurou aumentar o seu poder militar ao:
- Adquirir 22 helicópteros Apache Boeing Ah-64E e 12 helicópteros Chinook CH-47F (para refornecimento e reforço das suas forças colocadas nas fronteiras com o Paquistão e a China); cooperar com os EUA para o design e manufactura de drones, sistemas de big-data, armas navais de 127mm e helicópteros multi-uso para a Marinha Indiana, e a adição de novas plataformas de topo de gama (e.g. o avião de patrulha marítima Boeing P-81 Poseidon ) [Fonte]
- Encomendar 128 Rafale jactos de combate da Dassault (França) [idem]
- Comprar a Israel sensores-radares avançados de vários modelos (para combater a infiltração oriunda do país vizinho hostil, o Paquistão), sistemas de manobra de combate aéreo, barcos de patrulha Dvora MK-2 para a Marinha indiana; armas, incluíndo munições, bombas guiadas a laser [Fonte]; sistemas de mísseis Spyder armados com mísseis Python e Derby; desenvolvimento e aprovisionamento de mísseis terra-ar de médio alcance Barak 8, num acordo de $144 milhões que irá armar 14 couraçados indianos nos próximos cinco anos.” mais a aquisição de sistemas Iron Dome [Fonte]
India, o Desafiador?
A expansão do poder militar indiano acompanha um aumento de responsabilidades: ao comprar armas dos EUA (com quem a Índia partilha valores de democracia e liberdade), ela está a formar uma espécie de aliança com a América (ainda que evite ser utilizada pelos EUA como peão contra os desafiadores dos americanos), ao mesmo tempo que se posiciona como um desafiador perante um vizinho poderoso. Para além do mais, a aquisição de armas ocidentais coloca a Índia numa melhor posição para criar alianças com o Japão, o Vietname e as Filipinas – eles próprios alinhados com os EUA e igualmente envolvidos em tensões com a China, devido a disputas territoriais.
A Índia é uma potência naval em crescimento porque busca reforçar a sua posição na Região do Oceano Índico; contudo, isto não significa que o país queira tomar o lugar ocupado por potências como os EUA, a China e o Japão ao dar assistência com intervenções militares:
“Devido a restrições filosóficas que nos impusemos a nós próprios, não nos vemos como um substituto de nenhuma outra potência. Certamente não acreditamos que a presença de qualquer outra potência, tal como a China ou o Japão, ou qualquer outra que queiram, contribuísse necessariamente para a segurança da região.” [Fonte]
Esta política é extremamente sábia porque ao mesmo tempo que a Índia desafia um potência (China), também evita ser vista como uma ameaça directa e um elemento desestabilizador da ordem não só regional como internacional; ainda que não se saiba ao certo por quanto mais tempo irá ela conseguir manter essa posição, já que as suas características (e.g. democracia, uma população extremamente jovem, liberdade e combate à corrupção) a colocam numa posição muito mais favorável que a China, prometendo assim um futuro poder de influência na região. Não obstante, nem essa possibilidade iria compelir a China, enquanto potência desafiada, a atacar a Índia por causa do efeito boomerang – i.e. A China e a Índia mantêm fortes laços comerciais e, portanto, fazer guerra contra a Índia para travar a sua subida iria colocar em perigo a própria posição da China.
Poder Militar Indiano: um Dilema de Segurança?
A Índia vê-se deparada com tensões em duas fronteiras (com o Paquistão [devido ao estado de Jammu-Kashmir] e com a China [devido a Aksai Chin, um território dentro do estado de Jammu-Kashmir; e Tawang, um distrito no estado de Arunachal Pradesh]) e, logo, aumentou as suas capacidades de defesa; mas esta medida não parece fazer com que os seus vizinhos se sintam menos seguros a ponto de levar a cabo uma grande ofensiva militar contra a Índia, porque as suas compras militares têm sido misturadas de forma inteligente: tanto armas defensivas (e.g. barcos de patrulha, UAVs, Sistemas de Defesa Balística) como ofensivas (e.g. helicópteros de ataque, jactos de combate e mísseis) que diminuem ligeiramente a segurança dos seus vizinhos a níveis confortáveis.
Pode-se argumentar que dadas as realidades fronteiriças da Índia, ela apercebe-se das vantagens de manter uma postura defensiva, ao mesmo tempo que adopta uma postura ofensiva (indistinguível da defensiva), que apesar de representar um dilema de segurança para os seus vizinhos, não constitui uma motivação suficiente para a guerra, porque as suas necessidades de segurança podem ser compatíveis (i.e. O segundo dos Quatro Mundos explicados por Robert Jervis [in Cooperation under the Security Dilemma]).
Conclusão
Diz-se que as transições de poder geralmente causam instabilidade; contudo, curiosamente, a subida da Índia não gerou muita instabilidade nem na região nem no sistema internacional; pelo contrário: ao desafiar a hegemonia da China (cuja expansão económica e militar foi vista como uma ameaça para os EUA e o resto da Ásia), a Índia na realidade equilibrou a balança e ajudou os EUA a manter a estabilidade na região Ásia-Pacífico.
A guerra foi evitada porque não há condições para que ela ocorra. Se pensarmos nas condições para a guerra de Organski [in Declining Power and the Preventive Motivation for War], concluiremos que a subida do poder indiano jamais poderia produzir um conflito porque, enquanto desafiadora, o seu crescimento militar não tem sido rápido (tendo começado há 20 anos atrás e com uma expansão que ocorrerá ao longo dos próximos 5 anos); as políticas americanas não são inflexíveis (nem as da China); a Índia está a tentar normalizar as suas relações como Paquistão; há uma tradição de amizade com a China; e, como previamente explicado, ela não busca substituir “a ordem existente por uma ordem competitiva”[idem] sua. Portanto, a subida da Índia apoia o argumento da Jack Levy “alterações de poder não são uma condição necessária nem suficiente para a guerra”[idem]
Neste caso, uma guerra hegemónica foi evitada porque a transição de poder verificada não se traduziu em guerra. Os países europeus, e muitos outros, poderiam claramente aprender com a experiência e postura indianas.
Parabéns pelo belo trabalho, Cristina.
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