O PM Shinzo Abe esteve no Médio Oriente (MO). Diz-se que esta viagem marca uma viragem na política externa japonesa, devido à necessidade energética do Japão (após o desastre nuclear de Fukushima).
As quatro breves notas que estão prestes a ler, também marcam a viragem deste blog para a Ásia.
A promessa de US$2,5 mil milhões
O PM Abe, no Cairo, prometeu 2,5 mil milhões de dólares americanos para assistência “em campos não-militares que incluem a ajuda humanitária e o desenvolvimento de infraestruturas, para toda a região”; também afirmou que o Japão comprometer-se-á com US$200 milhões para dar assistência àqueles países que lutam contra o Estado Islâmico (IE) afim de absorverem refugiados – estará o Japão a sugerir que os países árabes devessem receber mais refugiados em troca de assistência pecuniária? O Líbano, a Jordânia, o Iraque e o Egipto são os países árabes que estão no topo da lista de ajuda a refugiados, tendo já absorvido mais de 2 milhões de refugiados sírios (de um total de 2,979,315 de refugiados registados [fonte]); mas é interessante ver como os potenciais fornecedores de petróleo árabes se recusaram a absorver grandes números dos seus irmãos apesar de terem mais meios para o fazer – estas são as mesmas nações que são exímias em comprometer fundos para causas humanitárias mas que raramente concretizam tais promessas (no entanto, quando se trata de financiar madrassas e terrorismo, o nome desses mesmo países vêm sempre ao de cima). Irá o Japão tentar aconselhar estes fornecedores ou optará pela doutrina do “business as usual”?
Os 2,5 mil milhões de dólares também incluem fundos para melhorar a rede eléctrica egípcia: o que é uma excelente ideia que abre muitas outras possibilidades (para além das mais óbvias, tais como a criação de emprego e o desenvolvimento industrial).
Auto-Defesa Colectiva
O Japão, em Julho de 2014, reformou o Artigo 9 da sua constituição (que bania a guerra como meio de resolução de disputas internacionais que envolvessem o Japão) querendo isto dizer que o Estado Japonês será capaz de defender outros aliados em caso de declaração de guerra contra um deles; mas em que é que isto se aplica ao MO? O PM Abe prometeu à Jordânia que o seu país, no futuro, irá ser capaz de contribuir mais para o combate a ameaças que assolem a região (tendo mencionado as operações de paz da ONU e “outras actividades” sem ter especificados quais); contudo, será a Jordânia ou qualquer outra nação do MO um aliado do Japão ou será que o PM Abe se estava a referir ao estatuto do seu país como Principal Aliado Extra-NATO?
Conflito Árabe-Israelita
“O Japão acredita que o dia chegará, num futuro próximo, em que seremos capazes de reconhecer a Palestina como um estado, (…) E para que esse dia chegue mais depressa, apelamos tanto a Israel como à Palestina para regressarem à mesa das negociações para promover a tal solução de dois estados.” – PM Abe no Cairo.
O emprego da expressão “o tal” indica que o Japão aprendeu que, para fechar negócios com as nações árabes (a quem pretende comprar petróleo), tem de repetir o famoso mantra a favor de um estado ex nihilo; ainda que os japoneses não estejam seguros da viabilidade de tal estado. Mas se repetir a platitude diplomática é tudo quanto basta para dar resposta às exigências do eleitorado japonês (i.e. depender menos da energia nuclear), então seja.
Nota Final
Esta viagem é mesmo acerca das necessidades energéticas do Japão ou é simplesmente outra forma de desafiar a China (que, ao admitir que os EUA são o líder do mundo, parece estar a redireccionar a sua atenção para a manutenção da sua hegemonia regional [já que a Índia e o Japão estão ambos a competir directamente com o Dragão Vermelho de uma forma muito inteligente])? Veremos...
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