Aproximando-se do Monte de Sinai - David Roberts |
A palavra está a ser espalhada pela Jihad Islâmica Egípcia (EIJ, na pessoa do Shaykh Nabil Naim) e pelo próprio Hamas, que alegadamente acusaram Israel e o Egipto de se reunirem secretamente para combinar a instalação de todos os habitantes da Faixa de Gaza no Sinai. Contudo, este pensamento não é novo porque já na era de Hosni Mubarak se temia que os habitantes de Gaza estivessem a comprar terra para se instalarem na península.
No ano passado, o assunto voltou à baila, no Egipto; e o Hamas rapidamente descartou a ideia reiterando que os palestinianos iriam ficar em Gaza (como parte integrante da Palestina) e que não iriam "(..) para uma pátria alternativa, [serem sujeitos a] migração ou transferência".
No entanto, este ano, o Hamas e Nabil Naim trouxeram o assunto de novo para a praça pública - apesar de uma maneira bastante deflectida: com que propósito?
Se a intenção era simplesmente espalhar um rumor, quais seriam dois dos possíveis resultados? Provocar a ira dos radicais islâmicos contra Israel e contra o Egipto (cuja liderança está em maus lençóis e rodeada de forças salafistas, que tal qual Cerberus, estão à espera que o presidente Morsi caia para o devorarem - e depois o substituirem); e testar as águas - para verificar a reacção dos Palestinianos a tal ideia.
Se a intenção era fazer uma sugestão à Autoridade Palestiniana e à Liga Árabe (para aprovação) então talvez tenhamos que tomar a ideia em consideração.
De qualquer maneira, tudo isto poderá indicar que o Hamas (e amigos) finalmente se tenham apercebido da futilidade dos seus actos:
"Depois que o Hamas se apoderou de Gaza, decidiu colidir com Israel, ainda que esta colisão pareça uma caricatura irrisória, porque colidir com um adversário no campo de batalha tem como intenção danificá-lo (...) Não se vai para uma batalha para se danificar a si mesmo." -- Ahmed Aboul Gheit
Presumamos que a acusação do Sr Naim e do Hamas tem fundamento: uma vez que este ano fez 34 anos desde que os dois países assinaram um tratado de paz - e que o Sinai foi entregue à Terra do Faraó - é difícil resistir à tentação de nos deliciarmos com a ideia de que o Egipto (liderado por um governo Islamista) e Israel estejam a preparar uma solução para trazer a paz para o Médio Oriente.
Partindo do princípio que o Egipto está verdadeiramente disposto a sacrificar uma parte do seu território (ainda que seja um pedaço de terra que não consiga controlar) pela paz; então a Palestina estaria muito melhor servida do que estaria se mantivesse Gaza e algumas partes da Samaria & Judeia. A Península do Sinai, como estado palestiniano, ofereceria aos palestinianos a possibilidade de viverem unidos num só território (em vez de viverem divididos - logo, enfraquecidos). A península triangular tem uma área de 60.000 km2 - todos os palestinianos (incluindo os refugiados) poderiam ali viver sem estarem apertados, como sardinhas numa lata, numa área de 365 km2 (Gaza) e numa área com menos de 5.000 km2.
Com investimento do Qatar, e de outras nações árabes (ainda que a UE e a ONU fossem concerteza contribuir também), os palestinianos poderiam continuar o desenvolvimento do Sinai; emprego seria criado; as forças de segurança (treinadas nas escolas militares do Hamas) iriam finalmente trabalhar para proteger as suas fronteiras (em vez de travar guerras fúteis e prejudiciais) - a penínsual não seria mais um território sem lei. Devido aos sistemas político, judicial, educacional e de saúde instalados em Gaza, e partes da Judeia & Samaria, iria ser relativamente fácil para o novo governo (composto por elementos do Hamas e da Fatah) transferir tudo para o Sinai e continuar o seu trabalho para o benefício do Povo.
No Sinai, a Palestina iria finalmente ser um Estado de juris com direitos mas principalmente com responsabilidades - as acções dos seus líderes iriam, na verdade, estar sujeitas ao escrutínio e julgamento da Comunidade Internacional (o que não deveria constituir um problema, se pensarmos nas imensas vantagens em aceitar tal negócio: paz e uma terra a que se possa chamar Pátria). Não obstante, dever-nos-íamos perguntar se os palestinianos estariam dispostos a respeitar os direitos dos Beduínos que habitam no Sinai - o que significaria outra ronda de prolongadas negociações.
Não sabemos qual foi a real intenção da EIJ e do Hamas quando fizeram as alegadas acusações que fizeram, mas sabemos que a sua ideia (seja um rumor ou uma sugestão) deveria ser levada a sério porque, segundo a nossa perspectiva, a ideia poderá ser divina.
Quem diria que a retórica jihadista radical pudesse vir a fazer surgir uma possível solução para um conflito?
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