Movimentos de Independência Africana e Primavera Árabe: Valeu a Pena?


Podemos admitir que os Movimentos de Independência Africanos foram um total desapontamento? No princípio, os mulatos e os negros quiseram uma melhor vida para os “nativos africanos” e por isso criaram movimentos para atingir esse fim, mas o resultado final foi o oposto. Podemos admitir que a tal Primavera Árabe foi um falhanço? Em 2011, fui uma das pessoas que ingénua e entusiasticamente apoiou o combate árabe pela democracia mas devo agora admitir a verdade. As revoluções são um fenómeno extraordinário só que têm um preço demasiadamente alto - valerá tudo a pena?

Movimentos de Independência Africanos: o derradeiro desapontamento

A colonização era vista como opressiva: a exploração do homem negro pelo branco. Contudo, esta é uma forma muito simplista de olhar para este capítulo importante da história africana. Em primeiro lugar, devemos distinguir três principais formas de colonização: a Britânica, a Francesa e a Portuguesa – que foram levadas a cabo de modo diferente (a britânica foi menos inclusiva, mais desprezível; enquanto que a francesa e a portuguesa trataram os colonizados como cidadãos nacionais com direitos) e logo resultaram em processos diferentes de descolonização.

Os britânicos mantiveram a influência nas suas ex-colónias ainda que a Britânia não tivesse concedido direitos especiais à população negra [que de qualquer modo não era considerada britânica] e os africanos brancos permaneceram nos seus países; a França manteve a influência nas suas antigas colónias, os negros tiveram a opção de partir para França [já que eram vistos como cidadãos franceses] e os africanos brancos permaneceram nos seus países; os Portugueses perderam a influência sobre as suas ex-colónias [ainda que em graus diferentes dependendo da colónia – Cabo Verde, por exemplo, optou por manter uma relação especial com a ex-metrópole], os cidadãos negros em Moçambique tiveram a opção de partir para Portugal [já que eram considerados cidadãos nacionais] e os brancos foram obrigados a deixar praticamente tudo o que possuíam nas colónias.

Ainda que todos os povos tenham direito à auto-determinação, quando esta é devida, temos de admitir o falhanço dos Movimentos de Independência. Nas colónias portuguesas, os intelectuais mulatos e brancos fundaram estes movimentos numa tentativa de melhorar as vidas dos nativos; mas quem eram estes nativos? Na época, por “nativos” compreendia-se os negros, só que depois esqueceram-se que eles próprios eram também nativos, na verdadeira acepção da palavra, e o resultado da sua ânsia por revoluções, por mudanças rápidas, foi o sequestro da sua causa por parte de intelectuais negros que depois correram com eles da liderança por não terem níveis suficientes de melanina na pele – de repente, a causa da independência era uma “coisa de negros”.

  • A colonização oprimiu o povo; Governos de Independência vieram a oprimir o povo.
  • A colonização não construiu escolas suficientes para as crianças (para manter o povo ignorante de modo a não poder lutar contra os brancos autoritários); Governos de Independência não construiram escolas suficientes para as crianças (para manter o povo ignorante de modo a não poder lutar contra os negros autoritários).
  • A colonização explorou recursos naturais, enriqueceu as potências ocidentais enquanto que o povo vivia na pobreza; Governos de Independência vieram a explorar os recursos naturais, enriqueceram as potências ocidentais e a si mesmos enquanto o povo vivia na miséria.

Por outras palavras, os líderes dos oprimidos viraram opressores; os líderes das vítimas de racismo tornaram-se racistas; e o povo permaneceu pobre...o povo permanece pobre na maior parte de África: valeu a pena?

A Primavera Árabe: o derradeiro falhanço

Foi lindo ver a juventude árabe lutar pela democracia. Foi incrível vê-la lutar por uma vida melhor, lutar contra o despotismo de administrações seculares e depois contra o despotismo de governos religiosos. Mas assim que obtiveram uma fracção daquilo que poderiam ter obtido, a juventude árabe regressou à sua retórica ridícula (e.g. a postura anti-América-França-Israel; como se não tivessem mais nada do que falar, como se não soubessem como se comportar após décadas de ensinamentos de ódio às forças externas e à responsabilização destas pelos seus infortúnios). E porque a juventude perdeu o foco e não se concentrou em reconstruir a sua nação através da resolução de problemas internos, grupos islamistas violentos tomaram o Médio Oriente de assalto num período de tempo relativamente curto.

O Egipto depôs o governo militar, em 2011, para no fim acabar com outra administração militar. A Líbia montou uma revolução popular contra Mummar al-Qadhafi somente para cair nas mãos de grupos islamistas violentos e rebeldes oportunistas. A Síria foi palco de uma experiência política não só para depôr regimes desconfortáveis como também para fazer mover as necessárias peças no tabuleiro de xadrês (de modo a promover certas políticas no ocidente). A Tunísia, o lugar de nascimento da “Primavera Árabe”, depôs um autocrata, perdeu a estabilidade que gozava e ainda não recuperou apesar de ser considerado um resultado positivo da primavera árabe. O Bahrain também tentou a sua sorte ainda que sem sucesso (aumentou a repressão contra jornalistas e activistas políticos, e os dissidentes foram pisados como baratas).

O resultado desta revolução em larga escala foi a morte de centenas de milhares de pessoas (na Síria, o número disseminado é de 250.000, segundo a ONU), a deslocação de milhões de pessoas e um Médio Oriente destruído – não havia outra maneira e terá valido a pena o caminho trilhado? Se sim, para quem?

Conclusão

Aprendi a minha lição. Não mais ficarei entusiasmada com palavras como “mudança”, “revolução”, “luta pela democracia”, “acção da juventude” etc porque me apercebi que estas são somente clichés que mascaram agendas que em nada respeitam o bem-estar do homem comum. Se uma “revolução” não se fizer acompanhada de um plano bem traçado, e planos de contingência, não estou minimamente interessada em promovê-la.

(Imagem: Adeus à Raiva - Leonid Afremov)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários

  1. Olá, Max!
    Os movimentos de libertação falharam porque ideólogos bacocos assumiram o comando das operações. O destino de milhões de pessoas foi aniquilado por gente sem visão que por ignorância nunca entendeu que uma nação não é um viveiro, pois cada homem é uma estrutura singular revestida de uma grande complexidade.

    Beijocas

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    1. Olá Lenny :D!

      Muito bem dito, minha linda. E é uma pena que o destino desses milhões de pessoas tenha sido tão mal administrado. No caso de Moçambique: o partido socialista português há-de pagar bem caro.

      Lenny, obrigada pelo teu super comentário :D.

      Beijocas

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