Análise: As Palavras do Embaixador Daniel Shapiro na Conferência Herzliya 2016


A América é hoje um dos maiores amigos de Israel. É inegável. Esta semana, iremos olhar para algumas das palavras de Daniel Shapiro (o Embaixador dos EUA em Israel) proferidas na Conferência de Herzliya 2016, onde afirmou que a solução para combater o Movimento BDS é o estabelecimento de um Estado Palestiniano – sim, leram bem.

O Embaixador Daniel Shapiro representa os Estados Unidos da América em Israel, logo, ele fala em nome do Departamento de Estado Presidente Obama, embora não necessariamente em nome do povo americano (que segundo o Gallup apoia amplamente o Estado de Israel). Mas olhemos agora então para as iguarias verbais que o Emb. Shapiro partilhou na Conferência:

Iguaria #1

“É certamente do interesse de Israel e dos Estados Unidos encontrar o caminho de regresso às negociações directas com os Palestinianos, e até lá, tomar medidas para manter a solução de dois estados viável para o futuro e evitar passos, tais como a expansão dos colonatos, que parecem afastar ambas as partes, ao invés de as aproximar, da solução de dois estados.” - Daniel Shapiro

Primeiro, esta declaração mostra que os embaixadores americanos falam em nome do Departamento de Estado e não exactamente do presidente. Tem sido a política teimosa, ambígua e obsoleta do Departamento de Estado repetir o mantra dos “colonatos”, independentemente de quem quer que esteja sentado na Casa Branca, sabendo bem que Israel tem direitos legais sobre a Judeia e Samaria em conformidade com a lei internacional. Portanto, falar de “expansão dos colonatos” não é mais nada senão um disparate pegado.

Segundo, agora que os árabes querem negociar directamente com Israel, com base na Iniciativa Árabe para a Paz, os Estados Unidos insistem em “negociações directas com os Palestinianos” como se não soubessem que essa abordagem falhou, muito porque os Palestinianos não querem negociar e não querem um país – o seu objectivo é travar uma guerra de desgaste com o Estado Judaico. O que realmente preocupa o Corpo Diplomático Americano é a reaproximação entre Israel e os Estados Árabes porque vai contra a sua política de manter o Médio Oriente dividido, e em guerras constantes, de modo a impedir o Poder da sua União.

Terceiro, já existe uma solução de dois estados de facto (Israel e a Palestina [em Gaza]); por isso para quê manter a charada? Se as Nações Árabes estão a dar mostras de abertura a reconhecer esta simples verdade, porque é que o Ocidente insiste na farsa? Pergunto-me o que iremos descobrir se cavarmos o suficiente?

Iguaria #2

“Tem sido sempre o caso que um dos nossos instrumentos mais eficazes para combater boicotes e a deslegitimação é a apresentação de um processo político, de negociações, ou de algum horizonte político que dê esperança para dois estados para dois povos, a solução para o conflito Israelo-Palestiniano.” - idem

Primeiro, em diplomacia não há medidas “tamanho único” como ficou demonstrado aquando da decisão dos EUA de não derrotar “o boicote e a deslegitimação” das Olimpíadas Nazis do Hitler, em 1936; mas sim apoiar o boicote à África do Sul durante a era do Apartheid, ainda que ambos os campos (pró- e anti-Apartheid) fossem contra tal medida.

Segundo, a apresentação de processos políticos, negociações e “algum horizonte político” (i.e. Arrastar as questões) não são garantia de um resultado positivo. Para além do mais, desde 1947, Israel não tem feito outra coisa senão estar envolvido em processos políticos, negociações e oferecer horizontes políticos (tendo culminado com a retirada unilateral de Gaza, em 2005) e qual foi o resultado? Terrorismo, terrorismo e mais terrorismo. Os EUA sabem disto tudo muito bem porque têm apoiado este terror (directamente [se interpretarmos a oferta do Secretário de Estado Kissinger ao Iraque, em 1975] ou indirectamente [através das suas políticas e declarações públicas ambíguas]).

Terceiro, o conflito Palestino-Israelita começou em 1964 (quando se criou a tal identidade palestiniana) como um ramo do Conflito Árabe-Israelita. Seria, por isso, interessante ver os Americanos justificarem a sua imutável exigência de um Estado Palestiniano baseado na totalidade das linhas de cessar fogo pré-1967; porque mesmo que os EUA quisessem negociar baseado nas linhas de armistício (não fronteiras) de 1949, seria impossível chegar a algum lado porque nessa altura os Palestinianos eram os judeus; mas mesmo que a América quisesse que Israel negociasse a partir do Plano de Partição de 1947, seria ainda assim impossível não só pela mesma razão apresentada no ponto anterior mas também porque os Árabes rejeitaram o território que lhes foi concedido. Logo, os EUA devem rever o seu mantra, as suas exigências, e reiniciar o processo – especialmente quando o lado árabe está aos poucos disposto a fazê-lo.

Iguaria #3

“Associar Israel e 'os territórios controlados por Israel' [iria] interferir com a minha autoridade constitucional para fazer diplomacia.” - citando Presidente Obama

Com todo o devido respeito, Presidente Obama, isso não é verdade. Se tivesse coragem para associar Israel e os territórios por ele controlados, o senhor iria fazer história. Os Estados Unidos iriam fazer história. Mas para isso precisa de trabalhar na direcção certa: diga as palavras certas – que seriam mais eficazes que uma campanha militar neste momento – reconheça Jerusalém como Capital do Estado Judaico (conforme a Lei da Embaixada em Jerusalém) e pare de repetir mantras contraproducentes. Seguir este conselho, iria desferir um golpe severo em várias frentes: Hamas e a OLP (que não só estão a desestabilizar os Campus universitários à volta do mundo com os seus grupos e sub-grupos, mas que principalmente estão a ajudar a Jihad Global através das suas redes mundiais), os ISIS/AQ, outros grupos Jihadistas, e o terrorismo patrocinado pelo Irão.

Se a Améria realmente pretende combater a Jihad Global, então precisa de se deixar de tretas e remover um dos pilares dos jihadistas: mostrem-lhes que falam a sério.

Sr Presidente, vossa excelência deveria estudar o que a lei internacional diz na verdade acerca de Israel e os territórios: em termos legais, eles foram reconquistados por Israel e esperam a anexação para legalizar o estatuto israelita sobre a Judeia e Samaria. Se o Sr Presidente fizer a sua diplomacia com base na lei, e não em análises politizadas da mesma, terá muito mais a ganhar. Agora: será mais difícil tomar esta via? Claro, mas a diplomacia é um jogo duro; para além do mais, mais difícil não significa impossível.

A América está a comportar-se tal qual os humanitários profissionais: querem a paz mas patrocinam guerras e terroristas, querem acabar com a fome mas alimentam situações que conduzem à fome, querem o fim da pobreza mas causam miséria, querem o fim do racismo mas promovem e praticam-no, querem a justiça mas praticam injustiças – tudo para a fotografia. A América é uma amiga mas age como um amigo traidor...quando é que vai parar?


(Imagem: Vista do Kotel e do Monte do Templo - Yacov Gabay)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários

  1. Olá, Max!

    de uma vez por todas os arábes na Palestina, não são palestinianos: são arábes que vieram ocupar Israel ou Palestina para os Romanos.

    Adoro os americanos não é segredo, mas devo confessar que desde o mais instruído ao mais burgesso sente orgulho na ignorância; é uma espécie de soberba nacional.

    Os políticos já não impressionam pela sensatez mas sim pela estupidez. Já ninguém quer pensar, todos querem saber o que dizem fulano, cicrano e beltrano, e toca a repetir: não faça sentido ou seja ultrajante; quão idiótico é isto?

    Israel está no Médio-Oriente e deve agir como tal: "a terra é nossa (Judeia, Samaria e incluindo Gaza), os arábes sabem-no muito bem e a partir deste momento negociaremos só e somente com a Liga Árabe: como, qual o custo e onde colocar os seus irmãos arábes que ainda gravitam em território israelita/palestiniano."

    Max, bom trabalho e beijocas

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    1. Olá Lenny :D!

      Nem mais.
      Pois, mas os americanos eventualmente terão de mudar de política senão irão ficar para trás.

      "Já ninguém quer pensar, todos querem saber o que dizem fulano, cicrano e beltrano, e toca a repetir: não faça sentido ou seja ultrajante; quão idiótico é isto?"

      Muito.

      Exactamente, Lenny. A questão agora é saber o destino dos árabes que não queiram obedecer às leis israelitas e serem fieis à pátria.

      Grazie mille. E obrigada pelo super comentário :D.

      Beijocas

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