Dilema Paquistanês: O Novo Líder Talibã e a Pressão de Washington


A morte de Mullah Mansour e a nomeação do novo líder Talibã (Mawlawi Hitbatullah Akhundzada, um antigo presidente dos Tribunais Talibãs) representa um verdadeiro desafio para o Paquistão, que está a ser pressionado por Washington para que prove a sua capacidade de combate ao terrorismo antes de lhes enviar mais fundos. Mas quando se sabe que o movimento Talibã é um dos muitos instrumentos da política externa paquistanesa, temos de nos perguntar se o Paquistão tentará satisfazer as exigências dos americanos ou procurar ajuda militar noutro lugar.

Os Talibãs têm vindo a perder confiança em Islamabad há já algum tempo, e quando o grupo abriu um escritório no Qatar, foi interpretado como uma mensagem à classe política paquistanesa: estamos a afastar-nos da vossa esfera de influência. Esta ideia é suportada pelas intenções dos Talibãs em negociar a paz somente com Cabul e Washington. Mas, numa típica manobra política, o grupo ainda não descartou inteiramente o Paquistão já que ainda precisam do país como porto seguro (para se esconderem, para se reorganizarem, para treinarem, para se reabastecerem etc) sem o qual eles não conseguiriam “preservar a sua vantagem em território afegão que os mantenha relevantes e que, talvez, lhes proporcione uma posição mais forte nas negociações” (segundo Suba Chandran).

Irá o Paquistão conseguir arranjar alguém que o substitua, ou irá o novo chefe Talibã afegão estar fora do seu alcance? - D. Suba Chandran

A resposta à primeira questão parece ser “não”. O Emir Hibatullah Akhundzada, ao contrário dos seus predecessores, nunca estudou no Paquistão - ele foi criado e estudou no Afeganistão, logo poderá vir a ser difícil para o Paquistão ter uma influência ampla sobre este Académico Islâmico.

O Dilema Paquistanês

O ISI vê-se perante um sério dilema: se estão prestes a perder um dos seus instrumentos de política externa, e consequentemente o seu poder de influência, desta vez poderão de vir a ter mesmo que combater o grupo. E se assim for, o Paquistão terá de pensar em encerrar os portos seguros existentes no seu território, mas assim que o fizer irá provocar a ira do Haqqani Network que está profundamente ligado aos Talibãs – uma vez que Siraj Haqqani é o número 2 do movimento.

Combater os Talibãs e o Haqqani Network dentro das fronteiras paquistanesas (e.g. Waziristan) significaria um combate em várias frentes: o movimento Islâmico, grupos terroristas (incluindo a Al-Qaeda, que ainda se esconde no país) e elementos da própria estrutura de segurança paquistanesa que apoiam tais grupos. Estas batalhas com múltiplas camadas iriam com toda a certeza desestabilizar o país, inclusive criar o meio ambiente propício para uma guerra civil que, no processo, poderia resultar numa tomada de assalto islamista dados os progressos do Estado Islâmico na Ásia central e do sul (coisa que não interessa a ninguém, em particular à Índia, Irão e China ainda que por motivos diferentes ainda que similares).

O Paquistão está com uma batata quente na mão. Enquanto país dividido com uma liderança dividida (entre aqueles que querem desenvolver o Paquistão concentrando-se nos laços com a Índia, e aqueles que querem manter o país como está buscando a destruição da Índia), eventualmente terá que tomar uma séria decisão: ou abandonar o apoio aos movimentos islamistas terroristas e receber a ajuda externa que tanto precisa, ou continuar a apoiar tais grupos e ver-se isolado até eventualmente ser arrastado para uma guerra civil.

A Falta de Opções do Paquistão

Tem sido reportado que o país pretende virar-se para a Rússia se os EUA não lhes derem assistência com o financiamento de dois F-16s e com o pacote de ajuda, mas ainda que os russos estejam mais que dispostos a vender jactos e armas aos paquistaneses, quão interessados estarão em serem seus padrinhos?

Neste momento, a Rússia está mais interessada em fazer com que os EUA conversem com a UE para aliviarem as sanções que lhes  foram impostas, sem prejudicar os seus interesses nos Balcãs e no Mar Negro (e para esse fim poderá vir a negociar com os americanos e mostrar-se disposta a fazer determinadas concessões). Os russos também estão muito envolvidos na Síria e no Irão (e em todos aqueles presentes na esfera de influência iraniana) - os rivais da Arábia Saudita e dos Estados do Golfo – logo, não estamos certos de quão atraente seria neste momento eles apoiarem um satélite saudita na Ásia Central. Para além disso, o Paquistão apoia grupos terroristas islamistas, que obviamente não controla (tal qual o seu padrinho – Arábia Saudita), e a Rússia não está interessada em piorar os problemas islamistas que tem em casa.

Os EUA não estão exactamente preocupados com as ameaças paquistanesas porque agora tem a Índia a seu lado (uma democracia, um país muito mais organizado, menos corrupto, mais funcional etc), logo, os paquistaneses perderam a sua posição negocial junto dos americanos; mas como não está nos interesses dos Estados Unidos em isolar o Paquistão devido aos seu programa nuclear (e porque é bom mantê-los por perto para os controlar, para impedir que caiam totalmente na esfera de influência da China [o que neste preciso momento seria perigoso, dada as tensões com Mar do Sul da China], para ajudar a proteger a Índia, para evitar a desestabilização da região) e para garantir os contactos kosher dentro da estrutura paquistanesa – que no futuro poderão vir a influenciar uma situação mais conveniente – não estamos a ver os americanos a deixarem cair este país por completo, e não nos admiraríamos se a Índia estivesse (por portas e travessas) a ajudar ambos os lados a encontrar soluções para o problema.

Por isso, o Paquistão deve pesar bem as suas opções e ser sábio. O meio ambiente político está a mudar e embora no passado as ameaças funcionassem bem, no presente elas não funcionam porque os interesses e as alianças políticas estão a cambiar...


[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

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