Esta semana, serei um pouco mais prosaica que o habitual por dois motivos: apercebi-me de que muitas páginas de notícias online estão a contratar mão-de-obra barata, o que se nota na pobre qualidade dos seus artigos (levando-me a perguntar se no futuro ainda teremos jornalistas a sério); e reparei na surpreendente reacção, ou falta desta, à ameaça da Coreia do Norte. Como dizia o falecido Fernando Pessa: e esta, hein?
Jornalistas ou Fazedores de Textos?
O Gatestone Institute fez notar a pouca atenção que a media concede às actividades nucleares da Coreia do Norte “que estranho que a maioria dos sítios de notícias jamais tenham reportado que a Coreia do Norte já tem mísseis nucleares que podem atingir os EUA” mas é ainda mais estranho ler o trabalho de uma jovem repórter (que, a propósito, é estudante de Literatura Inglesa na UCL) para o Newsweek, onde ela categoricamente afirma que a Coreia do Norte não tem capacidade para manufacturar “armas nucleares pequenas o suficiente para caberem num míssil” uma vez que “peritos internacionais” duvidavam seriamente de tal capacidade e, logo, o país não era capaz de atingir uma outra nação – seria interessante saber o nome desses tais peritos porque se perderam toda a informação disponível acerca das actividades nucleares de Kim Jong-Un, então não são experts mas sim propagandistas.
Não sabemos quem são as tais fontes de Mirren Gidda, mas sugerimos ao Newsweek que comece a editar o trabalho dos seus colaboradores e que, de caminho, faça uma verificação dos factos antes da publicação, porque a menina Gidda não tem bem a certeza se é uma bloguista ou uma repórter. Uma bloguista, sem boa reputação, pode se dar ao luxo de cometer tais erros; mas uma repórter não pode simplesmente sentar-se em casa, ler notícias online e depois produzir material baseado naquelas sem fazer a sua própria pesquisa.
Por isso, o que é que está a acontecer? Parece que os editores das páginas de notícias online estão a fazer três coisas:
- Contratam jovens universitários motivados (independentemente do seu curso, de olhos postos no dinheiro, 'fama' ou no enriquecimento do seu CV) que não sabem a diferença entre um artigo jornalístico, um artigo de blog e um paper académico
- Sacrificam a qualidade das suas páginas em troca de mão-de-obra barata
- Perdem toda a credibilidade, como consequência.
A Coreia do Norte Continua a ser uma Ameaça
Em 2015, o Congresso dos EUA ouviu, em audiência, que já em 2012 a Coreia do Norte conseguira obter mísseis de longo alcance com capacidade para atingir os EUA (na altura em que colocou um satélite em órbita de modo a verificar se conseguiria transportar a “sua carga útil a longas distâncias” – verificação essa que foi bem sucedida). Também ouviu o Almirante William Gortney dizer que “chegámos à conclusão que eles [Norte Coreanos] têm a capacidade, têm as armas, e têm a capacidade para miniaturizar essas mesmas armas, e eles têm ainda a capacidade para as colocar num foguete espacial que pode alcançar o território [dos EUA].” (citado aqui, traduzido por Max Coutinho) – e com quem é que os norte coreanos colaboraram para adquirir a capacidade de miniturizar armas?
Em Fevereiro de 2013, houve relatórios a informar que o cientista nuclear-mor iraniano, Mohsen Fakhrizadeh-Mahabadi, viajou até à Coreia do Norte para observar o teste nuclear (alegadamente de um dispositivo miniaturizado), levado a cabo no dia 12 de fevereiro. É de notar que o senhor Mahabadi é o chefe do programa iraniano de miniaturização (i.e. um programa que tem como intenção miniaturizar uma ogiva nuclear afim de ser inserida num míssil balístico) o que é um enorme sinal de alarme. No final de fevereiro, foi reportada a existência de provas do desenvolvimento de armas nucleares à base de plutónio, por parte de Teerão, em Arak - uma estação de produção de água pesada, activada em janeiro, cujo acesso tem sido negado aos "inspectores da IAEA há 18 meses" – Coreia do Norte: Proxy e Laboratório Nuclear Iranianos
É por isso muito interessante que, em 2016, a media ainda ache conveniente ignorar os, ou reduzir a importância dos, avanços nucleares norte coreanos e a sua relação com o programa nuclear iraniano. Dever-nos-íamos perguntar se a media fá-lo porque contrata jovens ignorantes, que se fazem passar por repórteres, não se dando ao trabalho de fazer uma pesquisa como deve de ser; ou porque são marionetas nas mãos de forças ideológicas ou de expediência política.
(Imagem: Tomando Banho - Edgar Degas)
É preciso ter cuidado com as HEMPs que a Coreia do Norte está a desenvolver com o Irão. Se forem bem sucedidos o mundo está lixado. Não é só Israel e a América, é o mundo inteiro!
ResponderEliminarOlá Anónimo :D!
EliminarÉ um facto. Obrigada pelo seu comentário.
Cumprimentos