Em Janeiro, este blogue partilhou uma lista de indicadores para 2015. Ontem, o primeiro indicador revelou-se certo; e hoje vamos dar uma vista de olhos ao segundo indicador em relação ao Médio Oriente. Como é que correu esta previsão?
Indicador B: Justiça Territorial no Médio Oriente
2015 testemunhou uma actividade crescente no Médio Oriente, com o ISIS como principal actor. Este grupo tem vindo a formar o Califado sob um regime brutal e sanguinário – um que acreditávamos ter ficado para trás na Idade das Trevas. Este ano também vimos uma luta de poder entre a Arábia Saudita e o Irão através de guerras proxy em certos campos como o militar (Iémen, Iraque e Síria) e o diplomático (com o Sudão como “peão”).
Um outro aspecto interessantíssimo foi a reaproximação entre os Estados Árabes e Israel. A Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrain sinalizaram algum progresso em relação ao Estado Judaico, ainda que estejamos à espera de passos mais corajosos em direcção à normalização de relações (assim que as nações árabes se aperceberem que o Médio Oriente poderá ser uma região poderosa se se aliarem a Israel – algo que a América talvez não visse não bons olhos).
A Turquia também está a tentar re-estabelecer relações com Israel.
Ainda não há nenhum acordo definitivo assinado, mas estamos a trabalhar num texto – Omer Celik, Vice-Presidente do AKP
Este mesmo oficial disse que “o estado de Israel e o seu povo são amigos da Turquia”; logo, ainda que persista alguma desconfiança, tudo parece indicar que os países do Médio Oriente se estejam a aperceber dos benefícios de trabalharem juntos, em vez de lutarem uns com os outros até à morte política (e física). Se não os consegues vencer, junta-te a eles.
Quando se olha para a Síria agora, consegue-se identificar a batalha do Sistema de Estado vs Mosaico Territorial, onde:
- O ISIS tenta destruir as fronteiras criadas pelo acordo de Sykes-Picot e reunir o território Árabe Sunita
- Os Curdos tentam proteger as regiões sob o seu controle (tanto no Iraque como na Síria, inspirando assim os Curdos turcos) tendo como objectivo a sua independência
- Os Druzes, no Sul da Síria, tentam proteger a sua região do ISIS com o objectivo de obter a tão desejada autonomia (i.e. o Estado Jabal al-Druze)
- Os Alawitas, de Bashar al-Assad, tentam proteger a sua região tendo em mente uma futura partição do território (com o apoio russo).
Logo, como foi dito em Janeiro: a justiça territorial é desejada e aos poucos está se a concretizar no Médio Oriente.
Palestina
O assunto palestiniano está lentamente a ser abandonado, ainda que não por palavras. Quer dizer, as palavras de apoio ainda se sentem presentes, mas os árabes da Palestina estão a ver as jogadas de reaproximação e começam a desesperar.
O ISIS ligou a sua causa àquela da Palestina, o que não é surpreendente dada a natureza expansionista da Jihad Global. Mas como a Arábia Saudita, o Qatar, a Turquia e outros dão sinais de quererem distanciar-se do ISIS, agora é conveniente dar um passo atrás na questão palestiniana ao mesmo tempo que se trabalha com Israel pelo bem da região:
Se não querem que o ocidente interfira nos seus assuntos, eles também deverão ficar de fora dos assuntos israelitas: tudo o que é necessário é vontade política e coragem.
Perante este cenário, os palestinianos estão a virar-se para a Europa para obter o reconhecimento de um estado ex-nihilo; contudo, a conjuntura trabalha contra eles. Os países europeus que agora apoiam o seu projecto (a crise da etiquetagem, reconhecimento não-vinculativo de território etc) um dia deixá-los-ão cair, quando a justiça histórica começar a ser feita com os devidos instrumentos legais.
Veredicto
(Imagem: Síria costeira - Frederic Edwin Church )
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