Crise no Golfo de Omã: Uma Potencial Armadilha para o Presidente Trump


De Max Coutinho

Os ventos da guerra erguem-se: a situação no Golfo de Omã está a intensificar-se e o Irão está a ser acusado de perpetrar ataques contra petroleiros. Foi reportado que os legisladores americanos foram informados de que a América pode atacar o Irão baseada numa lei do pós-11 de Setembro que nunca foi revogada (ou seja, não precisa de aprovação do Congresso). Todos sabemos que o Irão precisa de ser confrontado, eventualmente, mas a questão é: será que o timing é o melhor?

Esta não é a hora para estar distraído com interesses especiais e mesquinhos. Estamos a um ano do fim do mandato deste governo e, assim, é aconselhável a esperar por esse fim. - in Não é Hora para Eleições Anticipadas em Israel

Timing é tudo. Em Outubro de 2018, aconselhei Israel que o timing não era o mais apropriado para eleições antecipadas e que deveria esperar pelo menos um ano. O conselho foi ignorado, por interesses políticos, e o que aconteceu? Houve eleições mas não se formou governo - a crise instalou-se. Em Setembro de 2019, mais ou menos um ano após a publicação do artigo acima mencionado, Israel regressa às urnas. Por isso, reiteramos: timing é tudo, especialmente nestes tempos cruciais – i.e. o Fim dos Dias.

‘O fornecimento de petróleo para o Mundo Ocidental inteiro poderá estar em risco’ se os estreitos não forem considerados seguros – Paolo D’Amico

O Irão tem sido uma ameaça há décadas – digamos, desde 1979 – e tudo o que o mundo tem feito é impôr sanções após sanções quase para nada (já que Teerão conseguiu tornar-se num incrível Polvo com tentáculos mais longos que o Cabelo da Medusa). Mas agora tornou-se expediente ir atrás do Irão e logo o Golfo Persa pode estar em perigo. Mas essa nem sequer é a questão aqui; a questão é: será que Teerão é mesmo culpada, e se sim quem a irá atacar e qual o timing certo?

Será o Irão o Verdadeiro Culpado?

Não é segredo que o DS não aprecia política obsoleta. Até agora, tem sido aceitável permitir que proxies criem certas crises que deiam azo a Estados a combater outros Estados, muitas vezes à custa da população civil. Esta táctica pode ter sido aceitável no passado mas depois da Guerra do Iraque seria de esperar que lições tivessem sido aprendidas.

Também é sabido que apoiamos uma mudança de regime no Irão, contudo, as coisas têm de ser bem feitas de modo a evitar um excesso de incómodo à população civil e para nos certificarmos de que os verdadeiros criminosos pagam o preço. Não estamos interessados em ver uma nação inteira arrastada para uma total guerra que iria resultar em pessoas deslocadas em massa (com membros da Guarda Revolucionária a escaparem no meio delas) e um sofrimento desnecessário.

Há que se lidar com o Irão pelas razões certas, e não baseado em mentiras e enganos. Será que o Irão atacou mesmo aqueles petroleiros? O MO empregado faz lembrar mais o método da Al-Qaeda na década de 1990 do que do Irão. Nem sequer se pode acusar o Hezbollah de o ter feito já que os ataques não se encaixam no perfil do Partido de Allah:

Desde que começou a operar, o Hizbullah ataca os seus alvos (que são primariamente as forças militares [128 ataques], terroristas [87 ataques], cidadãos privados [52 ataques] e alvos governamentais/diplomáticos [33 ataques]) com Explosivos/Bombas/Dinamite, 78% das vezes; e com armas, 19% das vezes em que cometeu actos terroristas.in Hizbullah: a Arte do Terrorismo, de Cristina Giancchini

Nem sequer podemos acusar os Houthis (Ansar Allah) de o terem feito já que seus alvos favoritos têm sido Cidadãos Privados e Propriedade, a Forças Militares, Governo (Diplomáticos) e a Media/Jornalistas. Ainda que o seu principal tipo de ataque tenham sido bombas e explosões (e agora prefiram mais os ataques de drones), em toda a sua história só levaram a cabo 5 ataques marítimos (tendo o último sido em 2017) concentrando-se mais em Plataformas Petrolíferas.

O Irão ameaçou a América com ataques imprevisíveis, mas estes ataques a petroleiros eram previsíveis; logo, Teerão não se referia a este tipo de actividade terrorista. Conforme já mencionámos antes, o Irão tem células à espera de serem activadas dentro do território americano e nos países vizinhos, por isso porque fariam algo que só beneficia os seus inimigos (i.e. aumento do preço do petróleo)? Não faz sentido.

Quem teria mais a ganhar com esta crise?

Os preços do petróleo subiram quatro por centro após a notícias. – in ‘Oil Tankers are targeted with explosion in Gulf of Oman’, Daily Mail

Quais as companhias de petróleo, metanol ou gás que estão associadas a Consórcios Internacionais conhecidos por causarem problemas para aumentarem os seus lucros? É só seguir o rasto. Quais as companhias militares privadas, ligadas aos mesmos Consórcios, que ganhariam uma fortuna se uma guerra estalasse de repente entre os EUA e o Irão? Os nossos leitores poderiam agora acusar-nos de entrarmos no domínio da Teoria da Conspiração; contudo, há que fazer as perguntas mais difíceis – com todo o devido respeito ao Secretário Mike Pompeo e ao Presidente Trump.

As imagens partilhadas com o grande público de uma lancha repleta de membros da “Guarda Revolucionária” a removerem uma mina de um dos petroleiros não constitui prova alguma – sinceramente – já que é relativamente fácil adquirir um barco similar, colar um logotipo da Guarda Revolucionária, contratar uns quantos indivíduos com feições persas e fazê-los aproximarem-se do petroleiro de modo a recrearem uma situação.

Todo o assunto é suspeito. Paolo D’Amico diz que o fornecimento de petróleo ao ocidente poderá estar em risco, contudo estes petroleiros transportavam combustível e outros produtos da Arábia Saudita para Singapura e dos EAU para Taiwan – os factos não se alinham com as declarações políticas. No dia 12 de Maio, foi noticiado que quatro petroleiros haviam sido sabotados ao largo da costa dos Emirados mas nenhum detalhes doi dado, ainda que as responsabilidades tenham sido atribuidas de imediato a Teerão.

Um Possível Ataque ao Irão

Não há provas, para lá da dúvida razoável, de que o Irão tenha levado a cabo estes ataques. Logo, um ataque baseado nestes eventos não é justificável – o que quer dizer que muita gente na América, na Europa, e talvez mesmo na Ásia, possa não conseguir influenciar o Governo dos EUA a deixá-los aumentar a sua fortuna à custa do sofrimento do Médio Oriente, mais uma vez.

Um ataque contra o Irão deveria ser feito pelas razões certas: Teerão busca obter uma Bomba Nuclear para destruir tanto Israel como os Estados Unidos da América. 

A Mossad já provou as verdadeiras intenções iranianas, já provou que nunca pararam com as suas actividades nucleares apesar do JCPA, apesar das garantias europeias de que o Irão estava a respeitar o acordo. Esta seria uma boa razão para atacar Teerão, contudo, esta opção significaria que nenhum dinheiro seria feito pelos membros dos Consórcios Internacionais – e é por isso que o Presidente Obama esteve tão relutante em libertar o Dragão Azul (como outrora lhe chamei).

Por isso, agora, esta crise foi desenhada para forçar uma reacção da parte do Presidente Trump – que dever-se-ia lembrar do que aconteceu ao Presidente Bush quando ele fez exactamente o que os Consórcios Internacionais queriam que ele fizesse ao correr para uma guerra no Iraque (quando ele estava certo quanto ao Afeganistão). Presidente Trump, o senhor deveria olhar para qualquer tentativa de ir para guerra contra o Irão como uma armadilha – já que ninguém conseguiu ter nada de tangível contra si.

O Timing Certo

Ainda não chegou a hora de atacar o Irão. Estamos a falar de um inimigo muito sofisticado (devido à sua paciência, inteligência e alta capacidade para se adaptar, improvisar e ultrapassar as situações) por isso a próxima guerra deverá ser travada de forma inteligente e imprevisível. Também terá que ter o favor dos Poderes Supremos, querendo isto dizer que os elementos deverão estar todos alinhados. Ainda não estamos lá.

Outra coisa: quando o tempo certo chegar, o papel que os EUA desempenharão será ligeiramente diferente (no entanto, o Pentágono e associados poderão ter a certeza de que será feito dinheiro, ainda que não selvaticamente) e há que permitir que o Médio Oriente (com Israel ao leme) lidere a investida. Esta é a única maneira de vencer o regime iraniano nefasto de uma vez por todas (NB: os Estados Árabes têm de se certificar de que sabem quais são os seus objectivos porque desta vez “ou vai ou racha”) baseado em factos e não no engano; e porque é a coisa certa a fazer e não porque os inimigos da América e oportunistas querem ganhar dinheiro com isso.

(Imagem: Petroleiro em chamas no Golfo de Omã[Ed] - AP via Daily Mail)

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