Internacionalização de Lugares Sagrados: Soberania à la Mode


Foi noticiado que a Arábia Saudita afirmou que qualquer intenção de apelar à Internacionalização de Locais Sagrados, no seu território, equivaleria a uma declaração de guerra contra o reino. Presumindo que a notícia esteja correcta, seria muitíssimo interessante apercebermo-nos  que é totalmente “aceitável” apelar à internacionalização de Jerusalém mas não de Meca. Posso até já ouvir as vozes da reacção afirmando que os dois casos são diferentes, mas será este argumento válido?

O Problema da Internacionalização de Lugares Sagrados

O facto de um lugar ser sagrado e importante para uma religião, ou para uma série delas, não significa que a soberania do país (onde esse lugar esteja inserido) possa ser violada por outras entidades políticas ou estados. Abrir tal brecha nas muralhas de qualquer nação é convidar o caos e a eventual destruição desse país soberano – é isso que se pretende nos casos da Arábia Saudita e de Israel, por exemplo? Então sejamos francos e declaremo-lo de uma vez por todas.

Por exemplo, o Santuário de Fátima fica em Portugal – deveria o Estado da Cidade Vaticano apelar ao controle da Cova da Iria, e iria Portugal aceitá-lo? Claro que não. Deveria o local da Nossa Senhora da Aparecida, no Brasil, ser dominado por Roma? Não. Nos dois casos, Portugal e Brasil têm absoluta soberania sobre estes dois locais sagrados Católicos.

Meca é a cidade do Profeta: Al-Masjid al-Haram (considerado o bayt Allah) onde está a Kaaba e onde se dirigem os muçulmanos em peregrinação no Hajj, pelo menos uma vez na vida. Meca fica situada na Arábia Saudita, logo é natural que o Reino possua total soberania sobre a cidade, independentemente de ser um Lugar Sagrado para mais de mil milhões de muçulmanos à volta do mundo.

Jerusalém é um assunto mais complexo porque:

  1. É incontestavelmente a Cidade Santa Judaica. É a Cidade de David, o centro da vida e das orações dos Judeus há milhares de anos. 
  2. É a cidade santa dos Cristãos. Jesus ensinou em Jerusalém e a profecia do seu destino ali foi cumprida. 
  3. Por razões políticas, os muçulmanos no século XX, em total contradição ao Al-Quran, reclamaram a cidade como sendo uma das cidades santas do Islão (ainda que Jerusalém não seja mencionada nem uma única vez no Al-Corão, já que o Profeta Mohammed nunca ali esteve).

Jerusalém é a capital de Israel. Jerusalém está situada no território israelita, logo o Estado Judaico tem completa soberania sobre a Cidade de David. Israel soberano deverá ter absoluto controle de todos os lugares sagrados da cidade – incluindo o Monte do Templo – independentemente do número de religiões que possam ter um interesse em estar conectadas com a cidade. Tal como a soberana Arábia Saudita deverá manter controle total de Meca e de todos os seus lugares sagrados, independentemente de qualquer reinvindicação imaginária do Qatar ou do Irão.

Soberania à la Mode

O Waqf Islâmico de Jerusalém está encarregado do Monte do Templo em Jerusalém, como parte do acordo assinado entre Israel e a Jordânia (que financia e controla a Waqf).

When Israel conquered East Jerusalem in 1967, then defense minister Moshe Dayan decided it would be best if the Jordanian Awqaf Ministry would continue to administer the site, in order to avoid a larger conflagration with the Muslim world. Jews would be allowed to visit, but not to pray, he decided — utilizing the rabbinical consensus in Jewish religious law that Jews should not set foot atop the Mount for fear of defiling the temples’ most sacred space, the Holy of Holies.  - Dov Lieber

A Esquerda Israelita obviamente tomou uma péssima decisão em 1967. Moshe Dayan abriu um precedente perigoso que agora o Qatar parece querer usar a seu favor, porque realmente se a Jordânia pode controlar um lugar sagrado localizado num outro país soberano, porque não haveria o Qatar, ou mesmo o Irão, tentar também controlar os lugares sagrados de Meca? Imaginem se o Estado do Vaticano, sentado em Roma, reinvindicasse o controle do Santuário de Fátima em Portugal?

Por isso pergunto, é justo que outros países controlem partes de outras nações soberanas? Não. Fazê-lo é praticamente uma declaração de guerra? Sim.

Brien Hallett declarou que “Uma declaração de guerra sustentada em razões fortes justifica o recurso à guerra ao se declararem os agravos que tornaram a paz intolerável e os remédios que restaurarão a paz.” Com base nesta frase, poder-se-ia dizer que a Arábia Saudita tem motivos para declarar guerra contra o Qatar, ou contra quem se atrever a tentar controlar Meca.

E como os acordos, e o Status Quo, não são eternos; é justo dizer que o dia chegará em que Israel terá que tomar uma atitude e ter a coragem de desfazer o erro de Moshe Dayan – detectores de metais em lugares sagrados é repreensível, mas se os muçulmanos continuarem a usar o Monte do Templo como Boot Camp, como Arsenal de Armas (conforme ficará provado no futuro) para a futura Grande Guerra contra Israel, e como local para travarem mini-guerras de atrição contra Judeus; então Israel tem de reconquistar o controle de todos os Lugares Sagrados Judaicos, na Nação Histórica do Povo Judeu, à força de modo a restaurar a verdadeira paz de uma vez por todas. Destruição precede a re-construção.

Soberania significa absoluto controle sem a interferência de entidades externas. Israel é um país soberano, logo não faz sentido (nem sequer um sentido pragmático) continuar a permitir que a Jordânia, a Turquia, o Irão et al interfiram em qualquer assunto ou lugar relacionado com a capital do país.

Termino com a adulteração de uma citação de Mao Tse Tung:

Os problemas de Israel são complicados e os nossos cérebros também têm de ser um pouco complicados. Se eles começarem a lutar, nós lutamos, lutamos para ganhar paz. 


(Imagem: Masjid al-Haram[Ed] - Google Images)

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

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