Amiguismo e Ameaças (Diploma BPI)



Devido ao descalabro que se tem verificado em certos bancos europeus, o pânico instalou-se no circuito das autoridades (BCE e CE) que superintendem a saúde financeira dos bancos europeus. O medo de mais uma vez assistir impotente ao desespero do pequeno e médio depositante/investidor europeu - como aconteceu com o Banco Privado Português (BPP), o Banco Português de Negócios (BPN), Grupo Espírito Santo (GES) e o Banco Espírito Santo Angola (BESA) e, mais recentemente, o Banco Internacional do Funchal (BANIF) - fez com que a paranoia se apossasse dos reguladores da UE que numa jogada de antecipação emitiram um alerta contra a exposição de activos que o Banco Privado de Investimento (BPI) detém no Banco de Fomento de Angola (BFA).

Claro que o senhor Ulrich, presidente do BPI, tentou uma cisão entre os dois bancos mas esbarrou contra uma parede chamada Isabel dos Santos, que esboçou um nim; porque já tinha em mente que, por ser filhinha de papai Eduardo dos Santos, poderia vergar os accionistas do BPI a enfiarem imediatamente o seu BFA na bolsa de Valores lisboeta (Euronext) sem que o Banco angolano passasse pelas démarches obrigatórias e necessárias. Perante o entrave, os reguladores europeus ameaçaram aplicar multas diárias ao BPI caso o affair financeiro Lisboa-Angola não fosse resolvido com celeridade.

As pessoas estão incrédulas, como pode um accionista de 18% travar um de 44% e os restantes? Poderia aqui traçar o perfil do banqueiro português e as leis por si inventadas para perpetuar o seu mandato sem dar cavaco a ninguém; mas não vale a pena, porque a alma do seu empreendedorismo é pequena.

Quero antes fazer uma correlação entre o banqueiro luso e os políticos portugueses:
  1. Tivemos a relação estranha, direi mesmo, anti-profissional entre o banqueiro Ricardo Salgado e o ex-primeiro ministro socialista José Sócrates 
  2.  Agora temos o presidente do BPI, Fernando Ulrich – que começou por vir à praça pública demonstrar a sua simpatia pelo socialismo, ao reiterar o seu apoio a um governo parlamentar de esquerda – em conluio com o proletário António Costa.  
Devido à irresponsabilidade, insatisfação e avidez de exposição de ambos os lados, todos sabemos o que se passou com o chefe do GES e o ex-primeiro ministro José Sócrates e como se o passado não significasse nada, este despudor contínuo entre o mundo dos negócios e a política, só pode levar a concluir que o senhor Fernando Ulrich é um inconsequente, e o senhor António Costa é um paradoxo sem convicção!

Porquê? Porque relegou a sua missão de primeiro ministro – ainda que da esquerda radical – ao imiscuir-se numa área que não lhe dizia respeito e também de caminho  entregar-se à desonestidade:
  • O senhor Costa, não sei se por auto-recriação ou se por pagamento de algum favor “apolítico”, resolveu proporcionar aos portugueses um bailado tipo semba, kathakali e corridinho, porquanto fingia a busca de um consenso entre a empresária angolana e o presidente do BPI, por outro lado lacrava um decreto lei – embora justíssimo – para acabar com a estratégia da empresária angolana e poupar os depositantes portugueses a mais uma loucura de pseudo-banqueiros. 
  • O senhor Costa decidiu dar um cargo estatal a um amigo de infância, como seu negociador-mor na cena internacional, porque é um homem da sua confiança. Mas que horripilância vem a ser esta? Querem os esquerdistas dizer que na função pública, ou melhor na administração pública e máquina do estado, não existe ninguém capaz de negociar pelo governo socialista? De toda essa gente que trabalha na administração pública não há ninguém que seja leal a Portugal e ao governo português? Entendo a insegurança de quem roubou o poder, mas caramba, que raio de país é este em que o governo não confia nos quadros da função pública? Eu sei que não simpatizo com o funcionário público que está no atendimento ao público devido às suas idiossincrasias, mas não aceito que os funcionários públicos – descendo de uma longa linhagem de funcionários públicos: enfermeiros, médicos, ferroviários e CTT – sejam maltratados e equiparados a um monte de estrumeira.

Terça-feira à noite, todos os noticiários davam-nos conta do comunicado da empresária Isabel dos Santos, no qual se sente aparentemente injustiçada pelo governo português devido ao affair BPI. No dito comunicado dizem, os entendidos, que há ameaças veladas ao nosso Portugal, aos empresários portugueses sediados em Angola e quiça aos portugueses que por lá gravitam.

Olha aqui Isabel, sempre disseste que o dinheiro que tens investido em Portugal é teu e não pertence ao governo nem ao povo angolano; fiz sempre por acreditar; logo, quem pensas tu que és para ameaçar quem quer que seja? Isabel lembras-te quando o teu pai quis meter-se nos negócios ao emitir uma garantia para segurar o BESA e depois “rasgou-a”? Então, quem no seu perfeito juízo vai acreditar que o BFA é financially sound? Quem no seu perfeito juízo vai acreditar num parecer dado pelo Banco Central de Angola que é tão dependente do Politburgo do MPLA (teu pai) como um bebé é dependente do peito de sua mãe?

Ó Isabel perdeste a noção da realidade ou quê? Sabes bem que só se entra para a Bolsa de Valores depois de preenchidos alguns requisitos e como sabes nesses lugares quem manda é mesmo o dinheiro ($, €, £ e talvez o Renminbi quando é conveniente). Dos Santos, gostamos todos de Angola, até achei imensa graça quando no auge da crise financeira em Portugal, os angolanos começaram a dizer que estavam a matar a fome aos portugueses e a Dilma Roussef  veio dizer que gostaria de ajudar Portugal, mas que infelizmente o Brasil só poderia adquirir títulos triple A (olha o destino, até no dinheiro). Isabel, o que te aconteceu foi perderes uma batalha, e lembra-te que ainda precisas do parecer do BdP para seres a toda poderosa do teu BIC.

Isabel, estavas bem toda misteriosa, calma, fria e calculista, por isso aceita a derrota e pára de ser merdosa.

Até para a semana  


[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários

  1. Mana, amiguismo existe em todo o lado mesmo. É por isso que precisamos de uma nova classe politica, a sério!

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    1. Olá, Carlitos!
      Eu sei que essa praga existe em todo o lado: mas no século XXI não tem razão de ser no aparelho do Estado. Há funcionários públicos com capacidades extraordinárias, para exercer exactamente as mesmas funções que o amigo do primeiro ministro; com a vantagem de não ter que se dilapidar os cofres do Estado.
      Nova classe política? Faz-me rir...a malta quando chega ao ponto de ser eligível transforma-se instantaneamente em idiota e corrupto.
      Não tenho ilusões nenhumas quando se trata de políticos, no entanto continuo a votar esperando sempre que a coisa mude: mas hélas..!

      Aquele abraço, resistente de Moza

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  2. Lenny,

    A reacção de Angola é suspeita: quer dizer, a fortuna de Isabel dos Santos é pessoal e não furtado do povo, mas o Estado Angolano quer retaliar o resultado de uma transacção bancária privada? Então os fundos são sempre do governo angolano...lapsus linguae?

    Bom trabalho como sempre, caríssima.

    Beijocas

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    1. Olá, Max!
      Obscenidade sem paralelo, quanto a mim!
      Porque razão, essa dita mulher de negócios, sente necessidade de envolver o seu pai, de cada vez que enfrenta uma frustração nos "seus" negócios?
      Com que direito se arroga essa mulher, quando em perfeito delirium tremens imagina que os seus negócios são mais importantes que os interesses do povo angolano e português?
      Quer dizer: quando tudo lhe corre de feição, ela é brilhante; mas quando enfrenta um obstáculo, ela é uma menina inocente que precisa que o paizinho a salve do bicho papão?
      Coisas da vida: ela que engula as suas frustrações como todos nós e choque de opiniões: o seu comportamento pode querer dizer que os fundos afinal de contas não são bem seus: de quem serão?

      Boa semana de trabalho

      Beijocas

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  3. Olhe lenny, sinceramente nem sei o que pensar acerca disto tudo. É tudo tão sórdido. Mas gostei de ler o seu trabalho como sempre. Continue minha amiga.

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    1. Olá, Anónimo!
      Oh, meu caro amigo, é o que acontece quando indivíduos caem na tentação de pensar que os seus interesses são maiores que o interesse colectivo dos povos.
      É aquela estupidez de "eu tudo posso, porque o meu pai é o rei"
      Amigavelmente faço um lembrete a Isabel dos Santos: Angola não é certamente de Portugal, mas Portugal é do povo português na verdadeira acepção da palavra.

      Obrigada pelo apoio, meu caro!

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  4. A Isabelinha já retaliou contra o Ulrich: chumbou a sua permanência no BPI. A coisa está a ficar feia. E por falar em amiguismos: as notícias hoje no Observador indicam que o PM levou não um mas seis amigos para o governo! O homem bate o guterres e os Jobs for the Boys. Chag Sameach!

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  5. Olá Carla!
    Sinceramente, eu estou farta da choradeira dos portugueses, se Angola quer retaliar que retalie à vontade; existem outros mercados e outros países interessados na experiência portuguesa: nós temos de ser claros, quando se trata das relações com os outros países, Portugal rege-se pela lei e ponto final. Portanto a família dos Santos que se submeta-se ou que leve o seu dinheiro daqui para fora;
    Que mal virá à Portugal?

    A Isabel dos Santos, causa-me espécie; porque num momento é a toda poderosa e a seguir é toda emocionalóide e insegura, agora quer fingir que não obteve lucros durante a gestão de Ulrich no BPI: touchy, touchy...
    Essa mulherzinha passa imenso tempo na Europa e, ainda não se apercebeu de que nos negócios privados o Estado não pode nem deve meter o bedelho; isto não é um país comunista nem é Angola onde tudo é controlado pelo aparelho do Estado e, quando não gostam de algo matam ou mandam matar.
    beijocas





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