A Política Externa Interferente da China

Bandeira Chinesa 

Durante o passado fim-de-semana, o Partido Comunista chinês organizou o seu Terceiro Plenário para traçar a reforma das linhas de orientação das suas políticas para a próxima década. Mas não é disto que iremos abordar neste artigo, já que gostaríamos de vos levar numa direcção diferente.

"Quando ele vai enfraquecer outrem, primeiro fortificá-lo-á;" (in Tao Te Ching)

É do conhecimento público que a política externa chinesa é geralmente sumarizada em poucas palavras: mínima interferência, máximo ganho. Mas isto é puro sofisma.
No papel, a China permanece leal ao slogan "Não ingerência nos assuntos internos"; significando que o Dragão Vermelho fechará os olhos a regimes repressivos e corrosivamente corruptos, se isso significar que terá algo a ganhar com isso. Muitos argumentam que o método da República Popular é o modelo diplomático a seguir porque iria poupar o mundo de muitos aborrecimentos (esses argumentadores dizem que porque os EUA se intrometem em tudo e, tentam dar lições de democracia a toda a gente, se vêem constantemente sob ameaça) - mas será esta suposição verdadeira?
Quanto mais olhamos para os assuntos chineses, à volta do mundo, mais nos convencemos de que a China trai o seu próprio espírito político e interfere imenso noutros países (e, na maior parte das vezes, de uma forma negativa). Olhemos para África, por exemplo:

- República Centroafricana: o Dragão Vermelho assinou contratos de petróleo e minério com o governo de François Bozizé. Quando este foi deposto (num golpe de estado, no princípio do ano), e a RCA se viu num caos total, a China agiu como se nada fosse: continuou os seus negócios - pronto - mas quando o Séléka se aproximou das suas minas e poços de petróleo, o que foi que os chineses deram ao Grupo Islâmico para serem deixados em paz? Será que a China lhes deu armas?

- Zimbabué: o Ocidente impôs sanções (e.g. restrições de viagens, congelamento de activos) contra esta nação africana; mas o Dragão Vermelho pisou a penalidade ocidental e ofereceu a Robert Mugabe (através do negócio dos diamantes na Rodésia) a oportunidade de revitalizar a economia do seu país, fazer pouco do Ocidente, fazer pouco do processo democrático, reprimir ainda mais o seu povo, ficar ainda mais rico...tudo sem censura (será que aqui se poderia fazer uma analogia com o Irão?).
Apesar da proibição da venda de armas, imposta pelos EUA e pela Europa, a China tem estado a vender armas a Robert Mugabe, sabendo que essas armas serão utilizadas para reprimir zimbabueanos. Perante críticas similares, o Dragão Vermelho disse, há alguns anos atrás, que vender armas ao regime do ZANU-PF é somente "prudente e responsável".

"Quando ele vai depôr outrem, primeiro levantá-lo-á;" (idem)

- Sudão: a China investe imenso na indústia petrolífera sudanesa (de acordo com um documentário da Al-Jazeera, os chineses construíram o oleoduto de Heglig ligado ao Porto Sudão com mão-de-obra chinesa [o Dragão Vermelho certificou-se de que somente os seus cidadãos importados da China iriam trabalhar no projecto sudanês, colocando todas as instruções em Mandarim]. Omar al-Bashir não se importou com o acordo desde que a China continuasse a fornecer-lhe armas, a construir estradas e estádios - para dar ímpeto à sua imagem de bom governante; ao mesmo tempo que os seus Janjawid perseguiam, assassinavam e violavam sudaneses cristãos (como parte do plano árabe de ver o Sudão "Livre de Zorkas" (i.e. Africanos Negros). Refles e munição incendiária chineses foram descobertos na região do Darfur, uma área sujeita a embargo de armas pela UN - mas em nome do desenvolvimento da China, violar o embargo é um mal necessário.

- RD do Congo: o Dragão Vermelho investiu no sector mineiro "e em cobre e cobalto, no valor de milhares de milhões de dólares não especificados, junto da agência mineira estatal do Congo" [in Think Africa Press] em troca da construção de estradas, escolas e hospitais. Para alguns congoleses, a China é mais bem-vinda que os EUA porque os chineses não tentam dar-lhes lições de democracia e direitos humanos: eles simplesmente pagam aos oficiais o que é necessário pagar, sugam todos os recursos naturais que precisam e pronto.
O Dragão Vermelho conduziu os seus negócios na República Democrática do Congo no decorrer do conflito civil (que terminou na semana passada) - durante o qual ocorreram várias violações dos direitos humanos - e até forneceu armas que acabaram por cair nas mãos dos rebeldes (para garantir que as suas actividades mineiras pudessem prosseguir sem serem afectadas pelo conflito).

"Quando ele vai desapossar outrem, primeiro oferecer-lhe-á presentes;" (idem)

A China também alimentou conflitos noutros países como a Somália (onde Lança-granadas-foguetes [RPGs] e Metralhadoras [GPMGs] foram vistos e relatórios dizem que a China é o maior fornecedor de armas do Al-Shabab).
Tudo o acima disposto revela um claro padrão: a China não interfere nos assuntos internos dos países soberanos (i.e. fecha os olhos à repressão e a crimes contra a humanidade) interferindo (i.e. alimentando a repressão e crimes contra a humanidade em muitos países).

O esfomeado Dragão Vermelho enfia a sua língua na colmeia para comer mel; depois, para prevenir que outros supervisionem como é que ele retira a substância doce, encontra maneiras de fazer com que as abelhas destruam a sua própria casa antes de ele ser responsabilizado pela sua ganância.

"Os instrumentos para o lucro de um estado não deveriam ser mostrados ao povo" (idem)

Comentários

  1. Respostas
    1. Olá Anónimo :D!

      Muito obrigada pelo seu comentário :D.

      Um abraço

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  2. Os chineses estão a alastrar-se por áfrica inteira! alguém me contou que até andam a influenciar a política externa dos países onde investem...lá se vai a não ingerência nos assuntos internos!

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    1. Olá Carla :D!

      É bem verdade.

      Carla, obrigada pela sua sabedoria :D.

      Um grande abraço

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