Banquete num Salão da Renaissance - Dirck Hals |
Durante um jantar em casa de amigos, sentaram-me à esquerda de uma estranha cujo ideal de conversa trivial foi dizer-me que quanto mais dinheiro tinham, as pessoas cobiçavam-no ainda mais.
Sorrindo, perguntei-lhe se ela achava que o dinheiro era uma das vias mais rápidas para a imoralidade.
Na simultaneidade com a minha pergunta, e a garfada que ela havia acabado de enfiar à boca; deduzi que estaria perante uma mulher à beira de um ataque psicótico de bipolarismo; visto que, o mundo está quase em estado de sítio, exactamente por falta de dinheiro.
Repentinamente, o estranho com mau hálito que me ladeava à esquerda, pareceu-me um roseiral já que após a mastigação, a mulherzinha com o seu olhar exigiu a continuação do que havia sido interrompido; e, eu para preservar a minha integridade mental, disse-lhe que na verdade o dinheiro não era tudo na vida, era somente dois terços da mesma.
Durante a sobremesa, um conviva do outro lado da mesa falava da proliferação de blogues sem conteúdo e a quantidade de lunáticos que aparecem a comentar nos mesmos. Um sociólogo – de trazer por casa – disse que era uma maneira das pessoas fazerem catarse sem terem que desembolsar um tostão e encherem os bolsos de terapeutas para toda a obra.
Um psiquiatra disse que, o aviltamento dos comentadores era um sinal dos tempos, visto que a socialização e o contacto humano (tal como os conhecíamos), estão agora reservados a algumas elites; que os social-media, ao tentarem globalizar a proximidade entre as pessoas, dificultaram a comunicabilidade racional, porque através dos comentários nos blogues, está a constatar-se um crescendo de indivíduos que seriam incapazes de pronunciar tais estados de alma vis-à-vis.
Sem mais nem porquê, o doutor pediu a minha opinião sobre os comentadores. Declinei responder-lhe ao elevar os meus ombros acompanhado de um sorriso marfim; ele insistiu porque, na sua óptica, neste mundo em que ninguém se coíbe de se expressar, na certa, eu deveria ter uma opinião. Olhei para ele e, aceitando o desafio, disse “Já que assim é, cá vai: os comentadores – casca grossa - que se escondem atrás do seu computador para dizer barbaridades são os danos colaterais da infestação do establishment pela populace.”
Acrescentei ainda que o mundo da bloguesfera necessitaria de uma disposição legal, por que embora todas as palavras tivessem já sido inventadas, alguns na cultura bloguista – já que nos lemos uns aos outros – roubam frases e ditos ali e acolá, e são incapazes de dar crédito – tudo quanto basta é pôr o link – ao autor do pensamento; ora isto é uma forma de roubo de propriedade intelectual.
Ao café, fui abordada por uma pessoa que se propunha a vender um software de injecção de um conservante biológico na comida processada; disse-lhe que o apresentaria a um coleccionador de invenções não patenteadas e, naturalmente, fiz o meu preço. O homem ficou abespinhado e, durante o seu estado de choque, vira-se para mim e diz: convido-a para o meu casamento e, como se não bastasse ainda, quer participar da minha lua de mel?
Fitei-o e retorqui “Grande coisa, essa sua analogia! Fique o senhor sabendo que em Espanha o padrinho de casamento é o confirmador-mor da pureza da noiva”. Sem desarmar, porém enojado, balbuciou “Que grande porcalhice, mas suponho que seja cultural!”
Outrora nos social gatherings dava-se importância à perícia de jogar conversa fora (i.e artes, porcelanas e o sacrossanto tempo); hoje porém, como a maior parte das pessoas passa a vida no FB, Twitter, Google+, SMS, MMS, quando se é convidado para partilhar uma refeição, toca de extravazar o seu vernáculo.
Por isso, durante as despedidas, pedi à minha amiga para me excluir de futuros encontros, porque eu também mudei: a paciência infinita é certamente um mito!
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