Portugal Tem Uma Política Externa Opaca


Quo vadis, Portugal? Estás a tornar-te famoso: atrais turistas, repeles investidores (devido às tuas políticas socialistas anti-investimento); tens uma grande selecção, muito sol, uma boa gastronomia; e estás representado na ONU pelo novo Sec Geral António Guterres. Mas também és bastante opaco, em termos políticos. Qual a tua política externa? O que é que tu queres e onde é que te vês daqui a 30 anos?

A Política Externa Portuguesa

A política externa (PE) portuguesa tem-se, historicamente, concentrado na preservação da sua independência e na manutenção da aliança Anglo-Portuguesa, agora com 630 anos. Em termos contemporâneos, os objectivos da sua PE têm sido a protecção da estabilidade política da Península Ibérica e a afirmação dos interesses portugueses na Europa, África e no Brasil.


No que toca à protecção dos interesses nacionais num enquadramento Europeu, a percepção é que quando Portugal expressa o seu apoio à integridade da União Europeia, só o faz para assegurar o fluxo de fundos europeus. No que toca aos interesses nacionais num enquadramento Africano, o país simplesmente monitoriza as taxas de emigração para as ex-colónias, o número de empresas a migrarem para lá e a dar a assistência a emigrantes através das suas missões diplomáticas (ainda que a qualidade desse apoio seja questionável). No que respeita aos interesses nacionais em relação ao Brasil, os políticos portugueses oferecem-se para servir de lobistas para os empresários brasileiros (que mantêm uma relação promíscua com políticos, resultando em casos de corrupção mediáticos) – por outras palavras, Portugal para o Brasil é meramente um instrumento para penetrar a Europa, em troca de comissões.

Há dois blocos que Portugal co-fundou: a CPLP (a Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e o PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa). No entanto, Portugal não é figura que lidere nenhum dos blocos; tendo a ex-metrópole sido reduzida a dobrar-se perante o Brasil e Angola, ao mesmo tempo que ignora Moçambique (um país igualmente rico que foi abandonado nas mãos de bandidos paquistaneses e libaneses). Cabo Verde, um verdadeiro caso de sucesso africano, não é suficientemente louvado por Portugal – que deveria estar orgulhoso desta nação (criada do zero pelos portugueses).

O que é que Portugal quer?

Boa pergunta. As pessoas questionam-me muitas vezes acerca do que é que Portugal quer ou busca através da sua política externa, porque ninguém consegue perceber. Parece que a classe política portuguesa só deseja surfar a onda política internacional em busca de divertimento e dinheiro; e navegar as ondas para evitar afogar-se.

É mais fácil dizer o que Portugal não quer:

  • Não quer influenciar, quer ser influenciado. E por ser influenciado subentende-se ser-se comprado: há uma espécie de promiscuidade entre a tal 'elite' nacional e certos países que resulta na injecção de milhões de euros no país que, de alguma maneira, não tem grande impacto na Macroeconomia nacional. 
  • Não quer fazer alianças com as devidas entidades que seguramente poderão ajudar o país a catapultar-se na arena internacional (estamos a falar, por exemplo, de cooperação tecnológica, científica; de informação, segurança; de agricultura, de turismo médico etc). 
  • Não quer liderar. Ter um PM falhado como cabeça da ONU não é liderar; ter um ex-PM (e ex-Presidente da Comissão Europeia) a trabalhar para a Goldman Sachs não é liderar; ter o melhor jogador do mundo não é liderar; ter a melhor selecção não é liderar; ter um Primeiro Ministro mulato (que praticamente usurpou o poder) não é liderar. Portugal não lidera porque está preso nos anos 70's (a década da Revolução e da Descolonização); Portugal não é um líder porque no fundo sabe que cometeu erros e os seus líderes nem se dignam a pedir desculpa por eles. Portugal não pode liderar enquanto a velha classe política estiver presente. 

Onde Estará Portugal Daqui a 30 Anos?

Há pouco mais de 40 anos atrás, foi conveniente forçar Portugal a largar as suas colónias de uma forma desajeitada e irresponsável de modo a diminuir o seu poder económico e o seu ranking internacional. Em 2016, continua a ser conveniente ter o país dividido, manchado pela corrupção, tingido pela doutrina socialista/comunista (i.e. Ideologia acima do bem-estar do povo), enfraquecido por uma economia frágil, e embalado...

Alguns dos meus compatriotas dirão que estou a ser injusta; outros acusar-me-ão de ser ignorante (i.e. Como estrangeirada não conhecerei os meandros da nação assim tão bem), mas nenhuma dessas acusações obliteram a verdade: a Política Externa de Portugal é densa, é tudo menos transparente e se o país continuar nesta senda, daqui a 30 anos – após a queda da União Europeia, a ascensão e desenvolvimento das nações Africanas, e o renascimento brasileiro – Portugal será empurrado para a obscuridade.

Os países pequenos são o futuro. Por isso, Portugal tem uma decisão séria a tomar: vai-se juntar a quem de devido ou vai continuar no mesmo caminho que leva a nenhures? Lembra-te, Lusitânia:


“Quem te sagrou creou-te portuguez.
Do mar e nós em ti nos deu signal.
Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.
Senhor, falta cumprir-se Portugal!”
(Fernando Pessoa in A Mensagem

Tenho dito...

[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

Comentários

  1. Nunca tinha pensado nisto, só me concentro na política nacional. Mas de que nos serve pensar na política externa sem resolvermos os nossos problemas? E temos tantos!

    ResponderEliminar
  2. Portugal deveria liderar mais até porque tem essa obrigação histórica! Mas também os países que foram colonizados devem respeitar portugal e cooperar mais abertamente sem querer chupar tudo dele.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

O Etnias: O Bisturi da Sociedade™ aprecia toda a sorte de comentários, já que aqui se defende a liberdade de expressão; contudo, reservamo-nos o direito de apagar Comentos de Trolls; comentários difamatórios e ofensivos (e.g. racistas e anti-Semitas) mais aqueles que contenham asneiras em excesso. Este blog não considera que a vulgaridade esteja protegida pelo direito à liberdade de expressão. Cumprimentos