Irão Destaca Hamas para Mosul e Kirkuk: Cooperação ou Sabotagem?


A questão palestiniana está gradualmente a tornar-se irrelevante. Num mundo em constante mutação, o papel desempenhado pelos “movimentos de libertação da Palestina” tem vindo a ser exposto ao poucos como algo que vai muito além da luta contra Israel. O Jerusalem Post reportou que o Irão está a pensar em destacar o Hamas para combater o Estado Islâmico em Mosul, e as forças curdas em Kirkuk – se confirmado, este é um desenvolvimento digno de nota mas deverá o Hamas aceitar desempenhar tal função, e que significado terá isto para Israel?

De Proxy Sunita a Proxy Xiita

Desde que o Egipto começou a sua campanha contra o Hamas (através da destruição de túneis e do aumento do controle de fronteiras), a economia da Faixa de Gaza tem sofrido enormemente – especialmente porque o Grupo Terrorista Híbrido no poder parece ter calculado mal a relevância que a “Causa Palestiniana” iria continuar a ter para as Nações Árabes com o passar dos anos, em particular num cenário onde o Ocidente iria reagir a determinadas circunstâncias políticas com uma aproximação ao Irão – logo, o Hamas falhou na antecipação de alterações políticas relevantes na região e não conseguiu ajustar a fonte de rendimentos consoante essas mesmas mudanças.

A Turquia tem estado a negociar a normalização de relações com Israel; o Bahrain e Oman têm estado mais abertos à ideia, tendo inclusive enviado sinais de abertura para com o estado judaico; a Arábia Saudita já anda a falar em abrir uma embaixada em Israel; vozes no Kuwait apelam ao fim da charada, e o Qatar ainda está a ver para que lado a maré vai. Por isso, a priori, o Irão parece ser a única opção que resta ao Hamas; contudo, o grupo deverá ter cuidado com esta aparência das coisas porque os Ayatollahs podem ter uma agenda muito própria.

Dividir Gaza para Reinar

O proxy natural do Irão, na Faixa de Gaza, tem sido a Jihad Islâmica. Este grupo tem provocado sérias dores de cabeça ao Hamas há anos. Mais recentemente, o Hamas também tem tido que lidar com elementos do EI/IS que têm tentado estabelecer uma presença na faixa, na esperança de derrubar o regime. Logo, temos dois grupos a competir por Gaza: a Jihad Islâmica e o EI/IS.

O destacamento do Hamas para Mosul e para Kirkuk deverá servir interesses múltiplos:
  • Os militantes do Hamas irão expandir a sua experiência de guerra (já que se acostumaram a travar a guerra urbana com ênfase na armadilhagem de edifícios, cavar e operar a partir de túneis, limitando assim a sua capacidade para lutar em campo aberto – no caso do Irão estar a planear tê-los a infiltrar e a lutar tanto no Negev como no Sinai)
  • O Hamas transmitirá a outros militantes as suas competências de guerra e as lições aprendidas com as sucessivas guerras com Israel (o comportamento das forças armadas do país, o tempo de resposta etc)
  • Enfraquecer o Hamas ao remover militantes de Gaza para o Iraque e o Curdistão
  • Dar, deste modo, uma oportunidade à Jihad Islâmica para tentar derrubar o Hamas e criar um posto iraniano na Faixa
  • Abrir um buraco na esfera de influência turca ao remover mais um dos seus 'aliados' do caminho.
As Brigadas Izz al-Din al-Qassam e Basij estão sob o comando do Irão, não sob as ordens de Khalid Mash’al or Isma’il Haniya. Se alguns países quiserem subornar os líderes da Palestina, as Brigadas estão sob as ordens do Irão. - PM iraniano Javad Karimi Quddusi, em 2012 (fonte)

Se o Irão está de facto a tentar sabotar o Hamas, será porque o grupo tem sucessivamente falhado em ferir seriamente – i.e. provocar baixas severas a – Israel? Ou será que é porque o Hamas tem andado a perseguir elementos Xiitas na Faixa nos últimos anos (como resultado da competição entre si e a Jihad Islâmica)?

Conclusão

Não seria do interesse do Hamas aceitar a proposta iraniana porque, por melhor que o apoio financeiro seja, isso iria enfraquecer o grupo. Para além do mais, a proposta poderá ser uma armadilha para que a Jihad Islâmica (que historicamente tem sido o único grupo que tem apoiado incondicionalmente o Irão e os Xiitas) substitua o Hamas. Sob o espírito de cooperação Islâmica, o Irão busca expandir a sua área de influência no Médio Oriente, e para esse fim está mais que disposto a sacrificar velhas alianças e a substitui-las por grupos que estão mais alinhados com a sua visão islâmica.

O Estado Judaico deverá seguir esta situação ainda mais de perto porque, por agora, é mais interessante manter o Hamas no poder do que ter um proxy iraniano mais leal aos Ayatollahs a desestabilizar Gaza, numa primeira fase; para depois prosseguir com o plano de obliteração do Medinat Yisrael.


[As opiniões expressadas nesta publicação são somente aquelas do(s) autor(es) e não reflectem necessariamente o ponto de vista do Dissecting Society (Grupo ao qual o Etnias pertence)]

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